Desenhos animados são, segundo a opinião popular, coisas de crianças, entretenimento puro e simples. Sim, eles também podem ser isso, mas filmes como O Lorax não se restringem a entreter.
Leiam uma matéria sobre algumas obras do Dr. Seuss: a retomada de suas obras em vídeo.
A história.
A história de O Lorax começa com um jovem chamado Ted. Ele nutre uma paixão escondida por Audrey que o apresenta a imagens das extintas árvores de trúfula. Ele recebe dela a informação de que seu amor seria daquele que a presenteasse com uma árvore. Apesar de praticamente impossível, com a ajuda de sua avó Norma, ele chega até um lugar escondido, sombrio e devastado pela poluição. Um lugar que cidadão nenhum de Sneedville – uma cidade onde o artificial substituiu a natureza – jamais contemplou. Lá, ele encontra um homem que se esconde em uma casa em ruínas; uma casa onde a esperança estava abandonada. Esse mesmo ser envolto em mistério e sombras lhe conta uma história…
Umavez-ildo é um empreendedor que busca o sucesso. Desacreditado pela família, ele parte e encontra uma floresta com seres maravilhosos. Ele é muito bem recebido e, após alguma confusão, promete não derrubar jamais árvores. Essa promessa é feita ao próprio Lorax, um ser que é, aparentemente, um anjo protetor da natureza.
Pena que promessas nem sempre são cumpridas.
Assim que o produto de Umavez-ildo ganha a simpatia popular, árvores são derrubadas em profusão. Aos poucos, a ganância e a influência de uma família interesseira ocupam o lugar onde antes ficava o caráter dele.
Recursos Naturais.
O alerta principal dessa fábula escrita originalmente pelo Dr. Seuss está no perigo do descaso pela natureza em prol do conforto, da tecnologia. Outro alerta muito bem feito está na evidência de nossa busca por um conforto proporcionado pela tecnologia, enquanto ficamos alheios aos estragos feitos na natureza no mundo real.
Então, questionaria o leitor atento, destruir as árvores não foi o mal maior na trama de O Lorax? Infelizmente, não.
Tudo tem um prazo de validade. Vidas, amores, paixões e até os aparatos tecnológicos. A verdade é que pessoas se enjoam daquilo que usam por longo tempo, querem ter acesso a algo moderno ou diferente daquilo que estão acostumados. Mais do que isso, a animação nos lembra que somos consumistas ao extremo.
Foi assim que surgiu a empresa O´Hare que arrecadou fortunas com o isolamento do povo de Sneedville, após engarrafar o ar que se tornou ruim em função da inexistência de árvores.
Lições.
Não há dúvidas sobre o tom moralista do filme. Também não há dúvidas da importância de abordar temas como ecologia, preservação ambiental e, sobretudo, os estragos que o excesso de conforto geram à natureza e aos homens.
Li algumas críticas que desprezam e até debocham dos assuntos abordados no filme. Entretanto, ação e humor estão presentes na obra, assim como temos personagens divertidos que podem passar boas lições. Antes de ser um simples entretenimento igual a tantos que já vimos no cinema, O Lorax é um ensinamento que ficará na mente das crianças… e isso é muito bom.
Hoje descartamos lixo sem sequer notarmos. E é a natureza que paga por isso. Todas as nossas ações irão refletir no futuro próximo. É isso que a animação faz questão de jogar no colo do espectador: seus atos serão cobrados. Em alguns casos, literalmente. Reflitam um pouco e verão que até a água está sendo engarrafada, com a premissa de que é melhor que a água que chega até nossa casa pelos encanamentos. Pagamos por água engarrafada – um preço alto – e ainda poluímos com o descarte das garrafas plásticas.
O excesso de lições prejudica a animação?
Não, certamente não. As lições são parte indissolúvel daquilo que transformou O Lorax em uma história para todas as gerações. Dr. Seuss foi um homem à frente de seu tempo, cujas obras são destinadas a entreter e educar. Talvez seja por isso que vimos adaptações surgindo para o cinema, além de reedições de seus livros.
Aliás, não há nada de mal em tentar alimentar o senso de preservação ambiental em nossas crianças. Claro que animações que simplesmente divertem serão sempre bem vindas, mas obras mais reflexivas precisam existir e incentivar o senso crítico e ecológicos dos pequeninos.
O Lorax representa um espírito protetor da natureza, alguém cuja função é incentivar a preservação das florestas e dos animais que nelas vivem. Há um tom místico muito forte no filme que dá a ele um ar de deidade, contudo o que permanece após o fim do filme é a forma doce e pacifista como ele lida com os gananciosos que veem na destruição o lucro.
A própria caracterização do personagem remete a uma aproximação intuitiva, principalmente por ter um visual bem parecido com o de um avô (figura que, via de regra, é acolhedora e sábia).
O´Hare.
O vilão. Um homem que enriqueceu com os malefícios que a derrubada de árvores trouxe. O´Hare é arrogante, mafioso e intimidador (com o auxílio de seguranças gigantes). Um empresário que quer mais dinheiro, não importa a que custo. Ele é a personificação dos gananciosos empresários que poluem para ter lucro. Mais do que um simples personagem, O´Hare é o retrato de uma classe empresarial que despreza a natureza e acha que “o papo de extinção e perda da qualidade do ar” é apenas conversa de eco-chatos.
Ele tem a plena consciência de que quanto pior for a situação, mais ele lucrará com seus produtos, principalmente o ‘ar engarrafado’.
Sim, com tanta força quanto há no resto da história. Sneedville é uma cidade em forma de shopping ou um condomínio de luxo. Um ambiente acolhedor, bonito, cheio de recursos artificiais que substituem a natureza e, sobretudo, seguro.
Vivemos em nossos castelos e queremos manter a sensação de segurança e acolhimento ao sairmos de nossas zonas de conforto. Assim, shopping são ilhas de prazer e proteção, um lugar onde deixamos o medo do lado de fora e temos a consciência de estarmos protegidos. O mesmo acontece com os condomínios: piscinas para evitar ir à praia, lojas de conveniência, academias, salões de festas… tudo para manter o morador acolhido e seguro, envolto em sua própria redoma. Essa é a essência daquilo que Sneedville representa em O Lorax.
O único problema de uma bolha é que, cedo ou tarde, ela irá estourar e revelar os problemas e males que nos cercam. O isolamento só serve para retardar nosso confronto com aquilo que tememos. Mas temer não ajuda a resolver os problemas que são comuns ao convívio em sociedade. É preciso, assim como Ted e Audrey fizeram, ter a coragem de sair da redoma e buscar formas de mudanças positivas que atinjam todos.