Em tempos sombrios, quanto estes que estamos vivendo, perceber os pontos positivos de cada situação é motivo de sobrevivência. Há muitas décadas isso foi trazido na literatura como o jogo do contente, nos livros de Eleanor H. Porter, “Poliana” e “Poliana Moça”.
Pollyanna ficou órfã muito nova, tendo que ir viver com sua tia Polly, irmã de sua mãe. A cidade onde Polly vive tem a história atrelada a sua família, que sempre foi muito rica e se tornou patrona de muitos estabelecimentos. Em outras palavras, apesar de não a mais simpática das pessoas, Polly era respeitada e tida como autoridade.
A vida de Polly não poderia ser mais diferente do que a que Pollyanna tinha com seus pais. Por ser filha de um clérigo (da Igreja Anglicana, que pode constituir família), Pollyanna não tinha muitos recursos, mas aprendeu com o pai a ser grata sempre que possível, encontrando o lado positivo, esse era o jogo do contente.
A tia era muito rígida, começou a podar algumas atitudes da menina, tentando a moldar a seu jeito. Enquanto isso Pollyanna ganhava a atenção e a afeição da cidade inteira, inclusive daqueles que não suportavam sua tia.
A vida naquela cidade mudou muito com a presença da menina. O pastor passou a fazer sermões mais alegras, incentivando a religião. O senhor que vivia isolado voltou a frequentar a cidade. A senhora rabugenta que jurava estar em leito de morte deixou de atazanar o juízo da filha, até costurou uma manta para ajudar no bazar da cidade.
Mas duas ações foram mais providenciais, sua amiga com o Jimmy Bean e com Edmond Chilton. Jimmy também era órfão, ele vivia no orfanato que era patrocinado pela tia Polly, mas frequentemente fugia de lá, ficando conhecido por subir em árvores e brincar na estação ferroviária. Ele fez Pollyanna viver alguma dessas aventuras, o que os levou a casa do senhor que vivia isolado.
Resultado? O senhorzinho se afeiçoou tanto a Jimmy que o adotou.
Edmond Chilton havia voltado à cidade depois de ter se formado médico, estava de férias depois de muitos anos, visitando seu tio. Ele tinha uma história com Polly (a tia), eles quase se casaram no passado, e ele tinha esperança que ela reconsiderasse a recusa nesse momento. Pollyanna amoleceu o coração da tia o suficiente para que eles se reaproximassem, o resto foi com eles.
O filme termina com eles três indo para a capital, para que Pollyanna passasse por uma cirurgia e restabelecesse o movimento das pernas, que perdeu quando caiu de uma árvore.
A continuação da história original é no segundo livro “Poliana Moça”, mas não consegui encontrar a adaptação em filme dele, acredito eu que não exista. Existe sim outras versões desse filme, incluindo uma de 2003, mas não sei se mostra além disso.
De toda forma, é interessante conseguir assistir uma obra dessas nos tempos atuais, seja pelo valor histórico seja pelo lado emotivo sim. E não estou me referindo só a motivação diária dentro de uma pandemia e uma “quarentena” interminável, mas sim pelo fato de esses livros terem feito parte da minha adolescência.
Não sei como as escolas funcionam atualmente, mas na minha época a lista de material escolar dada no momento da matrícula incluía uma série de livros que seriam usados durante o ano, chamados de paradidáticos. Havia muitos clássicos da literatura brasileira, como “O Cortiço”, “A Escrava Isaura” e “Dom Casmurro” (confesso que li poucos desses clássicos), mas também tinha alguns internacionais.
Por volta dos meus 12 anos minha lista incluía a leitura de “Poliana”, enquanto a do meu irmão (um ano mais velho), incluía “Poliana Moça”. Eu sempre amei ler histórias desse estilo, já meu irmão nem gostava de ler (atualmente ele já gosta, mas continua não gostando desse gênero de leitura). Lógico que eu li o meu e o dele, tanto porque gostei quanto porque achei que iria precisar ler de todo jeito, já que no ano seguinte o livro poderia fazer parte da minha lista.
Bom, o livro não foi pedido, eles reformularam a lista toda, mas não me arrependi. Há alguns meses, ao selecionar alguns livros para doação, encontrei os dois no meio da bagunça, ainda não os reli, mas estão aqui na minha estante. E agora, que eu assisti “Pollyanna”, a vontade de reler aumentou.
Voltando para o filme em si, seu elenco contou com nomes conhecidos da época, como Agnes Moorehead (ela esteve no clássico “Cidadão Kane” e na série “A Feiticeira), mas os protagonistas foram: Jane Wyman (Polly, a tia), Richard Egan (Edmond Chilton) e Hayley Mills (Pollyana).
Hayley Mills era famosa na época, tendo estrelado a versão original de “Operação Cupido”, reproduzido décadas depois e estrelado por Lindsay Lohan. Ambas as versões também estão disponíveis na Disney+.
Até Mais.