Auguste Rodin é um nome conhecido pelas suas obras, esculturas sensuais, o que exprime exatamente o que o homem por trás do artista admirava, a beleza feminina, não à toa teve inúmeros casos extra-conjugais e filhos não reconhecidos por ele.
O filme “Rodin” (2017), escrito e produzido pelo veterano Jacques Doillon, mostra justamente a vida do homem e do artista e como era praticamente impossível diferenciar uma da outra, seja por causa intensidade sentida por um artista seja pelos sentimentos que provoca nos outros.
O filme começa com ele já com 40 anos, famoso, mas que não consegue nenhuma encomenda do Estado (o que lhe daria maior prestígio). A esta altura de sua vida Rodin ele vive em Paris, mas sua esposa, Rose, vive no campo, longe dele, o que o deixa livre para seus casos.
A mais célebre, e ponto principal da trama, é Camille Claudel, a aluna mais talentosa de Rodin. A paixão que ele sentia por ela o repensar no casamento com Rose (que não era oficial). O problema que Camille, que também é artista e tem os sentimentos a flor da pele, não fica satisfeita com o tratamento e começa a cobrar muito mais.
Enquanto tudo isso acontecia na vida pessoal, no ateliê (que também era o cenário do amor entre Rodin e Camille, além de casos com modelos) a vida também estava bem agitada. Finalmente tinham uma encomenda importante, aliás, duas, “A Porta do Inferno” e “Monumento a Balzac”.
No geral o filme é um pouco parado, tem uma linguagem bem poética, o que não é muito recomendável para quem prefere um filme mais agitado, mas tem elementos muito interessantes que vale a pena prestar atenção ao longo das quase 2h de duração.
Primeira coisa é ver como filmes europeus, em especial filmes sobre arte e não-comerciais, não têm pudor ao mostrar a nudez feminina. O mais interessante, neste caso, é ver que este elemento não é usado de forma pejorativa, mas sim para mostrar o quão este escultor francês do século XIX cultuava as formas femininas.
Outro ponto que incrível, principalmente para quem estudou um pouco de história, de arte e de literatura europeia, foi a presença de grandes nomes dentro do filme. Estamos falando do ano de 1880 em uma Europa que cultua várias formas de arte, então vemos Vitor Hugo (escritor de “Os Miseráveis”) não querendo posar para que seu busto, vemos Rodin se reunindo com Octave Mirbaeu (crítico de arte e jornalista da época) e Claude Monet e dando força para Paul Cézanne, que estava sendo acabado pela crítica.
Agora imagina que Cézanne iria parar de pintar se não fosse por essa conversa com Rodin?
Fiquei imaginando o quão honroso é pensar que pude ver, mesmo que romantizado, o momento em que fez esse pintor continuar na luta e hoje ter quadro milionários.
Uma outra coisa que me chamou atenção foi a personagem de Rose, a companheira/esposa de Rodin que vivia no campo. É nítido ver que ela não é normal, não sei se por um problema “de sempre” ou por traumas que a vida com o escultor a trouxe, mas ela tem momentos extremamente infantis, outros que se mostra ainda uma mulher apaixonada, uma mãe preocupada. Enfim, é uma personagem complexa e nada coadjuvante.
Tem outros elementos, por exemplo, como a forma que Rodin quer retratar Balzac, a evolução do relacionamento com Camille e o trabalho dentro do ateliê. Tudo isso é coroado com a atuação de Vincent Lindon, o Rodin, que consegue expressar toda a intensidade do escultor. Lindon já foi premiado em Cannes, em 2015, e ganhou um César, em 2016.
Ah, ele é canceriano, explicando toda a dramaticidade que só nós sabemos fazer. A louca dos signos ataca até por aqui kkkk.
Esse foi só o primeiro filme que eu assisti no Festival Varilux, então preparem-se para algumas resenhas sobre alguns filmes franceses.
Beijinhos e até mais.