O Brutalista, indicado a dez categorias no Oscar, narra a trajetória de Lázló Tóth, um arquiteto húngaro forçado a fugir de seu país devido às perseguições resultantes da Segunda Guerra Mundial.
O diretor Brady Corbet, em seu segundo longa-metragem, ousa recriar um épico nos moldes de Era Uma Vez na América, mas com uma abordagem mais moderna, buscando dialogar tanto com premiações estadunidenses quanto europeias.
Em seu primeiro trabalho, Vox Lux, Corbet já demonstrava uma inclinação para filmes voltados ao reconhecimento da Academia. Ao escalar Natalie Portman como protagonista e contar a história de uma popstar em decadência, ele utilizou elementos dramáticos típicos de produções premiadas. No entanto, ao apostar em uma direção de atores inovadora e em imagens surrealistas, o filme não obteve o reconhecimento esperado.
Hoje, Vox Lux pode ser uma obra que merece ser revisitada. Sete anos após seu lançamento, alguns de seus elementos futuristas já se integraram ao imaginário pop, o que pode levar a uma recepção mais favorável.

Já em O Brutalista, Corbet entrega um filme com o freio de mão puxado, buscando um público mais amplo, conquistar júris e votantes de festivais, e alcançar as premiações que lhe escaparam em seu primeiro longa.
Alguns aspectos do filme indicam uma tentativa de preservar sua visão autoral, refletindo manias já presentes em sua obra anterior. Isso se percebe, sobretudo, na montagem, que apresenta certa ousadia e elementos de estranheza, mas que sempre retorna a um modelo épico formulaico e desgastado pela indústria.
Além desses maneirismos típicos do gênero, a obra não consegue transmitir a dramaticidade necessária para histórias dessa magnitude. Apesar de sua longa duração (215 minutos), os diálogos extensos e as situações criadas para o desenvolvimento dos personagens não parecem suficientes para que nos importemos com eles. Mesmo com a boa atuação de Adrien Brody e todo o seu esforço, o filme falha em provocar impacto: quando deveria empolgar, não empolga; quando deveria chocar, não choca.
Destaco, em especial, a cena mais emblemática da história. Apresentada de forma banal, seu impacto parece residir justamente na casualidade com que é tratada. No entanto, a sequência retorna no clímax como peça-chave para a resolução da trama, deixando um sabor agridoce ao evidenciar a falta de objetividade em um momento que deveria ser marcante.

No que diz respeito ao uso de Inteligência Artificial no filme, o que salta aos olhos é a frequência com que as bocas dos personagens são ocultadas durante os diálogos, especialmente quando falam em húngaro. Embora o cinema não precise sempre adotar um enquadramento teatral, filmando os atores de frente, é evidente o esforço do diretor em empregar diversos recursos para disfarçar possíveis imperfeições na movimentação labial.
Como já destacado, Adrien Brody é um dos grandes atores estadunidenses de sua geração e, nas cenas dramáticas e afetuosas, consegue cativar o espectador. Seu desempenho sólido o mantém como um forte candidato ao Oscar, mesmo com a polêmica do uso de IA em sua atuação.
Infelizmente, o roteiro monótono impede uma conexão mais profunda com a narrativa, diferentemente de Sangue Negro (2007, Paul Thomas Anderson), filme que inevitavelmente vem à mente durante a projeção. Seja pela temática, que explora um drama de tom semelhante, ou pela fotografia exuberante, que claramente bebe dessa mesma fonte.

Outro ponto negativo é a trilha sonora. Daniel Blumberg, que outrora já foi reconhecido por bandas do rock alternativo britânico Yuck e Canjun Dance Party, mas que hoje lança músicas solos e projetos alternativos, tem um ótimo repertório musical e pouco reconhecimento.
Quando fiquei sabendo que era o nome responsável pela trilha, fiquei bastante empolgado. Só que com o passar do filme, a atenção em relação as músicas compostas para as cenas foram se esvaindo, pois são pouco impactantes, combinando com o tom do filme.
Porém, fica a dica musical de um dos melhores músicos da atualidade:
Até então, o maior defeito do filme, para mim, é sua monotonia, mesmo que tente romper com ela em diversos momentos. No entanto, dias após a sessão, um aspecto que continua me intrigando é a forma como a obra tenta ironizar os Estados Unidos — e, mais especificamente, a Filadélfia — como a terra das oportunidades. O filme evidencia as barreiras impostas a quem não é considerado branco e não pertence ao old money, mas, ao mesmo tempo, mostra como a dinâmica dessa sociedade oferece ao protagonista oportunidades que seriam impensáveis na Hungria do pós-guerra. Apesar de ser judeu e tratado como escória pela alta burguesia, ele ainda se encontra em um ambiente onde seu talento pode ser reconhecido. Os Estados Unidos, afinal, conseguem lhe proporcionar uma dignidade limitada, algo que seu país de origem não oferecia. Trata-se de uma crítica superficial e irônica que, no fim, reforça que Brady Corbet é um diretor estadunidense que incorpora certos maneirismos de filmes liberais voltados a premiações — obras que flertam com a crítica social, mas sem se aprofundar de fato.
Nota 5/10