Quem está no controle: você ou a tecnologia? Essa pergunta é o ponto de partida da premissa que Nerve: Um jogo sem regras, dirigido por Ariel Schulman e estrelado por Dave Franco e Emma Roberts, apresenta para o espectador nos primeiros minutos do longa,. O longa tratará, durante toda a sua trama, sobre o a obsessão pela conectividade que a sociedade tem criado e como isso afeta de maneiras diferentes a vida de cada pessoa, cada indivíduo que aos poucos abre mão de sua própria vida pela exposição digital que aparentemente é mais prazerosa que a vida real.
A trama gira em torno de Vee, uma adolescente excluída da sociedade que se restringe a seus poucos amigos, e como a pressão psicológica gerada pelo conjunto família, escola e amigos vai corroendo-a ao ponto dela desejar se desligar do mundo real e participar de um jogo que assola a sociedade local, o Nerve do título. Nele, a pessoa pode escolher entre ser um observador ou jogador, e caso escolha ser um jogador deve concluir desafios em troca de dinheiro e status na sociedade virtual do game. Sem saber do perigo que poderia correr e guiada pelos sentimentos gerados por toda a pressão que ela sentia, Vee entra no jogo que tomará proporções catastróficas.
Apesar da trama ser aparentemente simples e as motivações da personagem que dita o rumo da trama serem muito parecidas com a de personagens características de filmes de drama colegial, Nerve carrega um diferencial que não permite que a obra seja confundida com outras tramas adolescentes. Partindo da direção competente e do roteiro interessante que destaca as consequências diferentes que um mesmo acontecimento acarreta em cada pessoa, ao mesmo tempo que alinha dois ou mais pontos de vista diferentes ao chamado “certo”, algo que leva o espectador a tecer suas próprias conclusões.
Um outro ponto da obra que deve ser elogiado são os efeitos especiais que funcionam desde o primeiro momento em que estes são exigidos. A partir desse momento, passam a cumprir função essencial dentro da obra, com destaque para a sequência de moto que ocorre no fim do primeiro ato onde o espectador fica imerso graças à composição da cena e seus adereços visuais.
Infelizmente como é impossível uma obra ser perfeita, Nerve demonstra sua fraqueza a partir do começo do seu terceiro ato que, graças à curta duração do longa, acaba bombardeando o espectador com informações demais em pouco tempo para serem interpretadas, ao mesmo tempo que constrói e desconstrói personagens até no seu clímax. Esse frenesi gera expectativas e tenta manter o espectador ligado à trama, porém aquilo que foi construído inicialmente, baseado em um roteiro que convence, torna-se algo que fica na dependência da aceitação do público, mesmo que algumas partes finais sejam mirabolantes e arremessadas na face do espectador. É pouco tempo para muitas conjecturas.
Em conclusão, Nerve tem seus méritos e defeitos, mas merece ser assistido, graças a sua direção inspirada e premissa bem elaborada e trabalhada pelo roteiro que, apesar de falhar um pouco no seu ato final, entrega uma obra divertida e satisfatória que não tende a decepcionar quem opte por assisti-lo.