Nascidas para o poder – “Duas Rainhas”

A história da realeza da Inglaterra e de como esse país se tornou o centro do Reino Unido causa curiosidade até hoje, suas interpretações já resultaram em vários filmes e séries.

Elizabeth I, filha do polêmico Rei Henrique VIII e de Ana Bolena, foi a rainha da Inglaterra, Gales e da Irlanda por quase 45 anos, mas seu reinado não foi simples. Dentre muitas ameaças uma vinha da Escócia, isso porque aquelas terras eram o reino do irmão de seu pai, a herdeira ao trono escocês tinha a possibilidade de reivindicar o trono inglês também. Mary Stuart, a rainha dos escoceses, também havia nascido para o poder e desde muito nova teve que lutar por sua vida. Cresceu na corte francesa e se casou com Francis, o príncipe da França, mas ficou viúva com apenas 18 anos, não deixando herdeiros para os franceses. Logo ela decidiu voltar para a Escócia e reivindicar o seu trono, que estava sendo ocupada por seu meio irmão, James.

O filme “Duas Rainhas” se concentra nessa volta de Mary Stuart e nas tratativas dela com Elizabeth I tendo em vista o equilíbrio de poder. A produção foi dirigida por Josie Rourke, seu roteiro foi baseado no livro “Queen of Scots: The True Life of Mary Stuart”, de John Guy, a adaptação foi assinada por Beau Willimon. Está totalmente disponível na Prime Video.

Essa é uma história de duas grandes mulheres que precisaram usar sua inteligência para sobreviver e serem respeitadas sob leis masculinas do século XVI. Mary Stuart tinha juventude, origem, uma personalidade amável e a possibilidade de ter filhos, Elizabeth I tinha a mancha de ser considerada filha bastarda (Ana Bolena foi a primeira das esposas de Henrique VII a receberem divorcio e morrer), não tinha marido nem filhos, muito menos queria isso para ela. Mary Stuart era católica, Elizabeth I protestante. Resolver algo entre elas duas já era difícil o suficiente e, embora fossem ligadas pelo sangue, poucas vezes puderem se encontrar pessoalmente, comunicando-se por meio de mensageiros e embaixadores, homens que, por vezes, estavam munidos com estratégias próprias, ignorando a Coroa porque estava ocupada por uma mulher.

Para evitar que Mary Stuart ameaçasse o poder de Elizabeth I, a rainha inglesa envia a proposta de a prima se casar com um súdito inglês, um homem nobre de sua corte, assim selariam uma relação de paz. O primeiro a ser enviado como possível noivo foi Robert Dudly, ele era o amante de Elizabeth I, logo ela poderia manipular Mary Stuart de longe. Mary conseguiu informações suficientes para entender que aquela união não seria boa, mas diz que aceitaria, se Elizabeth a colocasse como herdeira do trono inglês, proposta que não foi aceita. A segunda opção foi dada de forma “voluntária”, o filho do Conde de Lennox, Henry Danrley.

Danrley ainda tinha uma ligação com a família Stuart, portanto era primo de Mary, além disso era charmoso o suficiente para conquistar alguém como a rainha dos escoceses. Ele não fez isso por amor, fez porque a família já estava sendo mal falada e sem influência na Inglaterra, eles iriam tentar ter algum poder na Escócia. O casamento não foi bem-sucedido, o rei consorte se tornou peão fácil nas mãos do pai e dos conspiradores do poder, incluindo o líder protestante, que constantemente pregava que Mary Stuart só representava o mal no mundo. O único resultado positivo foi ter dado um herdeiro a Mary, o pequeno James, com sangue inglês e escoceses, que teria o poder de reivindicar o que a mãe não conseguiria, os dois tronos.

Elizabeth sabia desse perigo, por isso nunca quis se casar e ter filhos, temia por seu poder. Seu ponto fraco sempre foi a família, então ser chamada de prima e até de irmã por Mary Stuart sempre a deixou aberta a negociação. A estratégia da rainha dos escoceses foi genial, convidando a prima inglesa para ser a madrinha do filho, criando um laço ainda mais forte entre as famílias. O reinado de Mary Stuart não continuou por muito tempo, ela foi vítima de um golpe de seus conselheiros, o que a levou a viver na prisão por muitos anos, sendo executada quando tinha por volta dos 40 anos. Mas Elizabeth I cumpriu a promessa de madrinha, nomeando James o seu herdeiro.

Acredito que essa história lembra vocês de outra resenha, além das aulas de histórias, lógico. Há algum tempo escrevi sobre a série “Reign”, que retrata a vida de Mary Stuart na corte francesa, finalizando justamente com sua volta à Escócia, seu segundo casamento e os golpes que sofreu. De alguma forma o filme parece uma continuação da série, mas a história contada apresenta algumas diferenças, isso pode ser explicado pelo fato de a série ser menos fiel aos fatos, usando de muita licença poética. O que não deixa de ser bom, mas o filme pode ter entregado uma história mais próxima da real.

De toda forma, as histórias de Mary Stuart e de Elizabeth I são interessantíssimas, mesmo com todos os erros que podem ter cometido, são exemplo de grandes personalidades femininas a frente de nações e exércitos. É sempre bom rever a história e o relacionamento entre elas, sempre inspirador. Reza a lenda que na época havia uma terceira rainha, não oficial, mas considerada assim, era Grace O’Malley, da Irlanda (tem resenha aqui de um livro que leva o nome dela no título). Ela enfrentou Elizabeth I de forma semelhante, mas a vida dela era totalmente diferente, o que aguçou a curiosidade da rainha inglesa.

Que incrível seria ver algum filme ou série com as três como protagonistas, seja totalmente real ou com licenças poéticas, à lá “Reign”.

O elenco de “Duas Rainhas” é tão impressionante que rendeu nomeações a várias premiações.

Mary Stuart é vivida por Saoirse Ronan, atriz irlandesa conhecida por “Lady Bird”, “Brooklyn”, “Desejo e Reparação”, “Adoráveis Mulheres”, dentre tantos outros. Elizabeth I é interpretada por Margot Robbie, conhecida pela anti-heroína Harley Quinn, de “Esquadrão Suicida” e por filmes como “Eu, Tonya”, “Adeus Christopher Robin”, “O Lobo de Wall Street” e “Once Upon a Time … In Hollywood”.

Elas só têm uma cena juntas, olhando uma no olho da outra, mas o filme inteiro tem a narrativa de cartas entre elas e essa forte ligação. Mesmo com toda minha implicância com Saoirse Ronan, tenho que confessar que formaram uma dupla de peso.

Mas não pude deixar de comparar com Adelaide Kane e Rachel Skarsten, Mary Stuart e Elizabeth I (Tudor) de “Reign”. Elas eram mais “duronas”, com posturas menos flexíveis, mas, como o filme pode ser mais real, acredito que essa característica é a visão que temos quando estudamos a histórias delas.

Entre os nomes do elenco está: Simon Russell Beale, como Robert Beale, o ator é conhecido pela série “Penny Dreadful” e por filmes como “Caminhos da Floresta” e “A Morte de Stalin”.

Guy Pearce, como William Cecil, conselheiro de Elizabeth I. O ator é familiar com os dramas da Coroa inglesa, ele deu vida a Eduardo VII em “O Discurso do Rei”, mas ele também é conhecido por filmes como “O Conde de Monte Cristo”, “Memento” e “O Homem de Ferro 3”.

Robert Dudley é vivido por Joe Alwym, conhecido por filmes como “The Sense of an Ending” e “Boy Erased: Uma Verdade Anulada” e Harriet”.

Rizzio, um menestrel que ganhou a confiança e um espaço entre as damas de Mary Stuart, é vivido por Ismael Cruz Cordova, conhecido por “The Good Wife” e “The Undoing”, além de já está confirmado para o elenco da série de “O Senhor dos Anéis”.

John Knox, o pastor protestante da Escócia que fazia a caveira de Mary Stuart, é vivido por David Tennant, conhecido por “Dr. Who” e “Good Omens”. Ultimamente tenho assistindo algumas entrevistas com ele e Michael Sheen (parceiro de “Good Omens”), ele é tão engraçado na vida real que ao assistir as primeiras cenas de Knox eu não o reconheci.

O Conde de Lennox, pai de Henry Danrley, é vivido por Brendan Coyle, conhecido pelo elegante e conselheiros John Bates, de “Downton Abbey” e por ser o pai de Louisa Clark em “Como Eu era Antes de Você”. Já o jovem Danrley foi interpretado por Jack Lowden, conhecido por “Dunkirk” e “Capone”.

Até mais!

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