Nas estradas da Irlanda – “Amor e Sorte”

Acredito que todos que tiveram um coração partido têm um remédio para a cura ou, pelo menos, estratégias para superar esse momento difícil. Addie, de “Amor e Sorte”, tem as estradas geladas e com paisagens verdes da Irlanda.

O livro “Amor e Sorte” é da autora estadunidense Jenna Evans Welch, também responsável pelo famoso “Amor e Gelato”, ambos são distribuídos no Brasil pela Intrinseca.

Addie é uma adolescente de 16 anos que passou por um trauma, um coração partido. Ela se apaixonou por Cubby, colega do time de futebol americano do irmão mais próximo dela, Ian. Eles saíram algumas vezes no começo do verão às escondidas, mas ele terminou por a humilhar publicamente, o que respingou em Ian.

Desde que isso aconteceu Ian se afastou de Addie, o que era terrível para ela, porque ele sempre foi irmão mais próximo dela, levando em consideração que os outros dois, Archie e Walter, eram mais velhos. Não bastando esse clima ruim entre eles, a família precisa passar alguns dias na Irlanda, para o casamento da tia deles (por parte de mãe).

A ideia era comparecer aos eventos do casamento e, no dia seguinte, a mãe deles, Archie e Walter seguiriam no ônibus de turismo, para uma excursão entre os convidados da noiva, e Addie e Ian iriam para a Itália, encontrar com a melhor amiga dela, Lina, que havia se mudado para lá alguns meses depois do falecimento da mãe dela.

O afastamento físico com Lina também afetava Addie, embora ela conhecesse outras pessoas, se desse bem com as meninas de seu time de futebol, sua confidente e ombro amigo era Lina. A relação era tão próxima que Addie sofreu da mesma forma com o falecimento da mãe de Lina.

Bom, os planos iam bem, ela estava contando as horas para chegar na Itália e contar tudo que estava acontecendo para Lina, mas o atrito com Ian mudou o rumo. Eles brigaram feio depois da cerimônia de casamento da tia, rendendo a eles um castigo, dado pela mãe, eles deveriam se comportar bem nessa viagem, senão os dois sairiam dos times de futebol.

Detalhe, Addie não era a melhor das jogadoras, mas ela amava jogar, então significava muito para ela.

Na manhã da viagem, a mãe e os irmãos deles saem cedo para a excursão, Addie e Ian iriam depois. Só que quando Addie acorda ver que Ian não iria seguir os planos, depois de procurar por ele por todo o hotel, ela o ver entrando em um fusca caindo aos pedaços e procura uma explicação.

Bom, basicamente, Ian planejou uma viagem paralela, enquanto Addie iria para a Itália, ele iria fazer uma excursão diferente pela Irlanda, nada a ver com aquela que a tia havia organizado. Addie fica no auge da irritação quando descobre, tentando convencer o irmão de toda forma e assustando o amigo irlandês dele, Rowan.

A explicação para tudo isso foi ainda mais surpreendente para Addie. Depois que ela desiste de convencer o irmão e perde o voo para a Itália, começa a pedir explicações para Ian e Rowan.

Acontece que Ian tinha uma vida secreta, que não tinha nada a ver com o futebol americano (algo que ele odiava, mas era a estrela do time). Ele criou um blog sobre algo que realmente amava, música. Seus artigos eram tão bons que chamou atenção de sites especializados, seu perfil no Twitter o tornou famoso pela internet, mas ninguém da família tinha noção disso.

A principal pauta de Ian era a banda irlandesa Titletrack, que iria apresentar seu último show no festival Eletrick Picnic, o destino final da pequena excursão dele. Rowan também era grande fã da banda e se tornou fã de Ian pelos artigos dele, fazendo uma amizade virtual.

Eles organizaram uma excursão que passaria por alguns lugares que marcaram a trajetória da banda. Enquanto isso, Addie, que já estava inclusa na excursão quando descobriu isso, fez sua contribuição.

Ela encontrou um livro na biblioteca cujo título era “Irlanda para Corações Partidos: Um guia não convencional da Ilha Esmeralda”. Esse guia mostrava pontos turísticos que ajudariam a curar corações partidos e ainda passava algumas tarefas e cada ponto desses. Addie não acreditou nisso, mas gostou de ler o guia.

Rowan viu o guia e também gostou dele, percebendo que os trajetos poderiam se unir, eles poderiam passar pelos pontos do Titletrack e do guia, que isso também o ajudaria. E ajudou, todos os 03.

Aos poucos, com os sufocos de um clima instável, um carro caindo aos pedaços e os apertos em hostels e trajetos, Addie e Ian conseguiram se abrir de verdade sobre seus atritos recentes, também se aproximaram de Rowan, fazendo-o se sentir à vontade para também compartilhar seus próprios desafios atuais.

Em suma, tanto Ian quanto Addie queriam ser vistos pelo o que são, não como a estrela do futebol americano ou a irmãzinha de Ian, Archie e Walter. Eles queriam sair dessas “sombras”, queriam ter mais segurança em si mesmos.

Somente assim Ian iria conseguir investir na carreira de blogueiro/jornalista de música e Addie iria aceitar sua força pessoal, como Rowan pode ver durante a viagem. Ele admirou tanto a personalidade de Addie que a deu o apelido de Maeve, o nome de uma rainha irlandesa conhecida por sua firmeza e coragem … e por ter sido enterrada em pé, mostrando que estava sempre a postos para batalhar.

Uma das coisas que mais falo por aqui é sobre a relação entre irmãos, a estória “Amor e Sorte” é baseada nisso, com a misteriosa, encantadora e cativante Irlanda como pano de fundo. E ainda tem o afastamento físico de duas amigas tão próximas que são quase irmãs.

Realmente não tinha como dar errado, pelo menos para essa leitora aqui, que sonha em conhecer a Irlanda, que tem altos e baixos na relação com os irmãos (com esse nível de aproximação) e que tem uma amiga-irmã, ombro amigo e porto seguro longe fisicamente. Mesmo sendo um livro juvenil, tem reflexões muito interessantes, especialmente essa questão de “ser vista”.

Os rótulos que colocamos em nós mesmos podem impedir pessoas brilhantes de atingir seus objetivos, aproveitar o potencial de cada um. Amo ser vista como filha de quem sou, irmã de quem sou, sobrinha de quem sou, mas também tenho minhas próprias virtudes e sabedorias (isso vale para todos, não só para essa colunista aqui).

Não posso terminar a resenha sem elogiar o guia “Irlanda para corações partidos: Um guia não convencional da Ilha Esmeralda”, queria muito que fosse real, não porque preciso curar meu coração, mas porque a descrição desses pontos é divertida e me faz querer, mais ainda, conhecer esse país um pouco esquecido, mas com tantas qualidades (um sotaque muito charmoso).

Até Mais!

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