Dizer a origem de uma estrela não é fácil, nem todas vêm do mesmo lugar, por vezes já nascem pre-destinadas ao sucesso, mas devem saber lidar com todas as consequências dessa vida.
O badalado filme “Nasce uma Estrela” aborda os altos e baixos de uma carreira musical, mostrando o contraste entre um astro da música country quase decadente e uma estrela em ascensão, descobrindo qual seu estilo.
Jackson Maine já está na estrada há muitos anos, famoso por sua voz e letras tocantes, mas hoje as coisas não são mais como eram. Ele faz o show sob efeito de remédios e muito, mas muito mesmo, whisky. Depois de um show, já tarde da noite, ele faz o motorista rodas atrás de um bar num bairro quase sem movimento, ele encontra, mas não é um bar que ele costuma frequentar… É um bar com show de Drag Queens!
Ele é reconhecido por moço, que não o sufoca, só mostra o bar pra ele, dizendo que a amiga iria se apresentar. Daí a pouco surge a própria Édith Piaf cantando e interpretando com perfeição o clássico “La Vie en Rose”, ou melhor, Ally, uma ex garçonete do bar que em uma voz de anjo e sempre ganha um espaço para se apresentar.
Mesmo bêbado, Jackson se encanta por Ally, vai a conhecer no camarim (causando alvoroço entre as Drags) e a chama para ir a outro bar. Entre um drink e outro, Ally comenta que ela também é compositora, até cantarola uma música que está tentando compor há algum tempo. No dia seguinte ele teria outro show, em outra cidade, e a convidou para ir.
Ele não perdeu tempo, Ally e sua música ficaram sendo reparados em sua mente, então ele termina de compor a música e a incluiu no repertório. Ela, depois de alguma resistência, vai ao show e é surpreendida. De repente a sua música estava sendo tocada e ela tinha a oportunidade de uma vida para mostrar seu talento.
Isso foi só o começo, depois ela foi o acompanhar na turnê dele, logo logo ela estava sendo abordada sobre a sua carreira como cantora e compositora. Enquanto isso, ela engatava um romance com Jackson.
Parece o paraíso, certo? Não! Jackson Maine era alcoólatra e viciado em remédios, deixando-o instável. A instabilidade e o vício em remédios começara com o problema de audição, desde pequeno ele tinha um problema nos tímpanos, mas nunca cuidou de verdade, agora ele estava praticamente surdo, tendo que lidar com um zumbido interminável no ouvido e todos os obstáculos possíveis. O alcoolismo veio por causa do pai, era o que ele fazia e o que Jackson aprendeu a fazer desde pequeno.
E ele não era inocente nisso tudo. O irmão mais velho dele (tinha idade de ser o pai dele) era o faz-tudo da equipe, sempre próximo para apaziguar possíveis escândalos, cada vez mais comuns, e cuidar da saúde de Jackson, mas ele se recusava a se tratar de toda forma.
Ally cresceu só com o pai, motorista e dono de uma frota. Ele tinha uma fixação por famosos, jurando que uma corrida numa limusine faria alguém se tornar amigo dele, mas menosprezava o talento da filha. Disse que não adiantava ter uma voz de anjo se não tem oportunidade, mas foi quem mais se animou quando Ally começou a se relacionar com Jackson.
Por causa da nova amada Jackson tentou controlar seus vícios e conseguiu por um certo tempo. Em um momento que deveria ser de crise ele decidiu casar com ela, um casamento relâmpago, simples, longe das câmeras. Eles estavam felizes e satisfeitos com tudo aquilo.
A vida artística de Ally cresceu, mas tomou rumos que Jackson não gostava. Ela deixou o piano e a música mais sentida para grandes apresentações, com muitos efeitos visuais e coreografias. Ela fez tanto sucesso no primeiro ano que foi indicada ao Grammy, causando um tanto de inveja no marido.
Isso, e fato da carreira dele estar em declínio irrecuperável, fizeram-no voltar aos vícios. Na premiação do Grammy, que Ally ganha, ele está tão chapado que faz um vexame gigantesco, quase a prejudicando. Esse foi o ponto que ele foi procurar ajuda, foi para a reabilitação, viu como poderia melhorar e foi tentar a vida normal novamente.
Ela abre mão de uma turnê europeia para estar com ele, chama até o marido para cantar a música deles no show. Ele aceitou, mas ela saiu na frente. Nisso o agente dela já havia passado na casa deles, dito umas grosserias para alguém que estava se restabelecendo. Resultado? Jackson não resistiu às pressões psicológicas e deu fim a própria vida.
Esse é, possivelmente, o filme mais comentado dessa temporada de premiações, afinal é a estreia de Lady Gaga nos cinemas e Bradley Cooper como diretor. Mas hoje vim ser polêmica: esperava um pouco mais!
A Mother Monster mostrou sim que pode ser uma boa atriz, inclusive já ganhou como melhor atriz o Globo de Ouro e o BAFTA, além de dividir o Critics’ Choice Award com Glen Close. Já levou algumas premiações pela música “Shallow”, está sendo indicada nas duas categorias para o Oscar. Sim, ela me convenceu de tudo e foi bom a ver desse jeito, sem fantasias, sem maquiagem forte, somente o talento puro dela, e especial na cena final. Concordo com as premiações.
Bradley Cooper não decepciona, já ultrapassou há muito tempo aquele estigma de ator de comédia, ele vem se afirmando como um ator dramático e vem sendo notado pela industria como tal. Não sei avaliar muito bem a direção (ainda), mas acredito que ele fez sim um bom trabalho, senão até Lady Gaga não seria privilegiada (uma boa atriz pode ser prejudicada por uma direção ruim).
As músicas são boas sim. É emocionante ver a apresentação de “La Vie En Rose”, uma bela homenagem a Édith Piaf e “Shallow” é muito gostosa de ouvir e a cena deles é linda (imaginando agora Bradley Cooper invadindo o show de Lady Gaga para cantar essa música). Mas “Always Remember Us This Way” é a melhor, para mim era para ser ela a indicada para o Oscar.
Mas qual é problema? Falta a ligação de alguns fatos, deixando lacunas desagradáveis. A situação dos tímpanos de Jackson não é abordada da forma correta, especialmente com Ally, que fica achando que os vícios são fúteis, não há explicações coerentes. Outra coisa que me fez ficar chateada por Ally foi ela ter se culpado pelo suicídio dele, sendo que o agente dele foi que desencadeou tudo, mas isso nem é citado.
Mais uma coisa sobre ela. O pai dela abusa intelectualmente dela, rebaixando e menosprezando, mas, de repente, ela vira a melhor pessoa do mundo só porque está com um famoso. Não sei se alguém com a personalidade dela deixaria isso acontecer tão facilmente, com certeza teria algum momento de estranheza.
O lado bom é porque esse não é um filme meloso, típico dos dramas nomeados pelo Oscar. O protagonista morre sim, Ally termina viúva sim, mas continua com sua carreira, sem meios termos, sem delongas desnecessárias.
A mensagem de aceitação dela também é importante. Ela começa o filme dizendo que é rejeitada pelas gravadoras por causa do nariz, que é grande demais e, por isso ela é feia. Ele começa a conquistar Ally elogiando o nariz, o que torna um elemento fofo. Ela até destaca quando ele pede para a ver uma última vez.
Esperava mais? Esperava! Mas não deixa de ser um filme bom, com músicas que já estão na minha playlist do Spotify de tão boas e excelentes atuações.
A estreia de Lady Gaga nos cinemas foi exatamente como ela, impactante e singular.
Beijinhos e até mais.