[RESENHA] Morgenstern | Quando uma Muralha se apaixona!
Título: Morgenstern
Autoras: Kelly Hamiso
Editora: Novo Século
Número de Páginas: 368
Ano de Publicação: 2016
Skoob: Adicione
Você acredita em destino? Ou acredita que quem tece o seu destino é você mesmo? Acredita que já conheceu o amor da sua vida, mesmo não sabendo exatamente quem é? É mais ou menos isso que o livro “Morgenstern”, da autora paulista Kelly Hamiso, fala!
A história é ambientada em Osasco, cidade que é quase extensão de São Paulo, por isso a capital também é muito citada. De um lado temos Sarah Vega, uma batalhadora estudante de fisioterapia de 23 anos, que também trabalha como atendente em um hospital da cidade, ajuda a mãe, Dona Soraia, no carrinho de cachorro-quente e é a razão da vida do pai, Seu Átila.
Há alguns anos Seu Átila foi vítima de um atropelamento, o que o deixou preso em uma cadeira de rodas. Quem cuida dele é Sarah, que se dedica nas necessidades do pai e se esquece um pouco de si. Dona Soraia até ajuda, mas Seu Átila insiste que quer ser cuidado pela filha. Ah, ele é um pai muito ciumento.
Do outro lado temos Hans Scheidemann, ex-lutador de boxe de 36 anos, famoso por Muralha Alemã, uma vez que tem uma larga coleção de vitórias conquistadas por nocaute. Agora ele tem uma academia, a Sieger onde, entre outras coisas, ele treina novas estrelas das artes marciais. Não parou de lutar totalmente, ainda faz algumas lutas de MMA.
Apesar de ser uma pessoa pública, Hans é reservado quanto sua vida pessoal, quem o conhece mesmo é o seu velho amigo, Antônio, que é para o lutador como um pai. Seu Antônio perdeu a esposa depois de 40 anos juntos, nunca teve filhos e, depois da morte dela, ficou sem motivos para viver, até que conheceu Hans.
Sarah tem o sonho de ser fisioterapeuta, tanto porque é atendente dessa área do hospital, então já conhece e ama esse ramo, quanto porque o seu pai sempre sonhou com isso. Na faculdade Sarah não tem muitos amigos, mas tem uma fiel, Gil, alegre, sincera, fã dos minions (sim, os minions do “Meu Malvado Favorito”) e namorada de Paulo, cantor em começo de carreira.
A vida de Sarah e de Hans se cruzam quando um dos professores dela leva a turma para conhecer a Sieger, o intuito é que os alunos conheçam as artes marciais praticadas na academia. Nesse dia Sarah ver Hans lutando com outro treinador, Montanha, para demonstrar. Ela é a única que não sabe quem é a Muralha Alemã, nem quer ir tirar foto com o cara (Gil também não sabe quem é, mas não perdeu a oportunidade de ir tirar foto). Hans prestou atenção em Sarah nesse dia, e ela percebeu isso, ficando mexida com o olhar dele para ela. Depois ela começa a criar desculpas para ir até academia, até que os dois começam a sair.
“—Eu jamais deixaria de viver um amor por medo de sofrer. Viveria o momento intensamente, curtindo cada segundo do relacionamento.”
Mas nem tudo é tão simples nessa vida, e Hans tem um concorrente, Andreas. Ele é um amigo de Sarah, estudante de arquitetura, lindo e apaixonado pela moça, capaz de fazer qualquer coisa para a convencer de que ele é perfeito para ela. Mal sabe ela que Hans e Andreas tem uma forte ligação, muito menos eles sabem que estão apaixonados pela mesma pessoa.
Obs.: Vou deixar a ligação para a imaginação de vocês kkkk.
Mas o livro não é só sobre um triângulo amoroso envolvendo uma grande diferença de idade. Sarah tem um dom especial, a vidência, ela é capaz de ver cenas que ainda não aconteceu, mas ainda não entende totalmente o que isso e tende a rejeitar quando conhece alguém com o mesmo dom, Zaira. Esse dom é muito mais complexo do que ela imagina no começo. Ela é uma Estrela da Manhã, videntes que foram colocadas no mundo para o proteger da degradação humana e não podem vender suas visões (cobrar por sessões, por exemplo), ou perderão o dom.
Essa condição é passada de geração para geração, apenas mulheres podem ter, ou seja, uma Estrela da Manhã geram meninas quando encontrar o parceiro certo. Sarah não sabia, mas sua avó era vidente, mas o dom pulou uma geração, e Dona Soraia não o tem.
Por que isso afeta a história? Porque o destino de Hans está entrelaçado com um filho de uma Estrela da Manhã, Jorge. Mas tem um detalhe, uma Estrela da Manhã só pode gerar um menino quando se envolve com o parceiro errado, esse menino será o completo oposto de uma Estrela da Manhã, ou seja, ambicioso demais, capaz de ultrapassar limites morais para conquistar o que querem, além de serem extremamente materialista.
Não dá para contar mais nada sem dar spoiler, e essa história é muito bem escrita para ter spoilers. É maravilhoso como a autora consegue fazer reviravoltas incríveis sem deixar pontas soltas. Se você tem uma certeza depois que termina de ler as 368 desse livro, é que você terá respostas e que nada que for citado ao logo dele foi em vão, sempre haverá um motivo.
Achei muito interessante como a história foi contada. O livro conta com muitos personagens e histórias paralelas, você tem a questão de Seu Átila, a carreira de cantor de Paulo, as questões entre Hans e Jorge, as lições de moral de Seu Antônio, o dom de Sarah, a “vida secreta” de Hans, dentre tantas outras, mas todas conseguem ter uma conclusão sem deixar o livro cansativo.
Confesso que quando vi o livro, e constatei que tinha 368 páginas, fiquei um pouco desanimada para ler, afinal passo o dia estudando, mas consegui ler isso tudo em quatro dias (só num foi em três porque meu plano de estudos não deixou). A história consegue te prender de uma forma que nos instiga a continuar a ler até descobrir a resposta de tudo.
Outra coisa que nos prende a história é a forma que a autora descreve as cenas. Sim, são cenas, porque dá para para visualizar tudo aquilo acontecendo enquanto se lê, desde as características físicas de cada personagem até os ambientes, é tudo descrito com muita habilidade. A descrição das lutas de Hans dá até agonia, porque dá para imaginar o supercílio aberto e o sangue jorrando.
Um aviso para os mais conservadores, essa descrição bem feita se aplica também para os momentos mais íntimos do casal principal. Não chega ao erotismo, mas tem muitos momentos que há insinuação de sexo. No começo eu achava que seria algo exagerado, que chegaria a um ponto que não caberia na história, mas conforme você ler você percebe que há equilíbrio e não é de mal gosto.
O título do livro, “Morgenstern”, – que eu ainda não aprendi a falar, mas vou aprender -, é um termo que Hans usa para se referir a Sarah. Vou adiantar só esse significado porque eu achei lindo demais apesar de ser estranho. Morgenstern é aquela arma medieval que é uma esfera cheio de espinho. Hans diz que essa arma, quando usada em batalhas, era capaz de dilacerar o adversário, exatamente o que ele sentia que Sarah faria com o coração dele, porque ele nunca havia se apaixonado dessa forma. Agora imagina um gigante do MMA (ele tem 2 metros de altura e 120kg de puro músculo), cheio de músculo, baixar a guarda o suficiente para dizer um negócio desses, achei fofo, achei digno.
Só tenho duas críticas, que é só mania minha mesmo.
A primeira é que o livro não tem índice, eu tenho mania, por causa do meu lado concurseira, de ir direto no índice para depois começar a ler o livro, é uma forma de me organizar para ler. Mas assim, isso não atrapalha em nada a qualidade da história.
A outra é que senti falta de nomes mais brasileiros. Eu sou uma patriota chata e gosto de ver elementos mais brasileiros em obras que, como esta, representam o dia a dia brasileiro (num tem como ser mais brasileira do que a batalha diária de Sarah). Novamente, mania minha, que sou “Soares da Silva”, sobrenome mais comum desse país.
Passando das críticas para os personagens favoritos, eu tenho três. Seu Antônio é o primeiro disparado, não há uma fala dele que não tenha uma lição, a mais lida de todas é: “Deus nos fez de amor. Não podemos passar a vida vazios desse sentimento”. Dá para passar um ano inteiro refletindo sobre isso.
A segunda é Gil. É essa amiga que Sarah precisa todos os dias, quem a anima com seu jeito maluco, suas piadas que arrancam sorrisos de todos em volta, sua alegria e sua preocupação na vida amorosa de Sarah. É ela que apresenta Sarah a vidente que dá sentido ao dom de Sarah.
Por último é Ramon. Não o citei no resumo de cima porque ele é um personagem secundário, mas não deixa de ser essencial. Ramon é o amigo de infância de Sarah, sempre moraram no mesmo prédio, sempre disposto a ajudar a amiga, capaz de dar sua vida pela dela.
Desde pequeno Ramon não se sentia menino, Sarah sempre esteve ao seu lado e foi a primeira a o apoiar quando ele decidiu assumir a sua homosexualidade e, depois, quando ele passou a ser travesti. Ela presenciou muitos casos de preconceito e se irritava muito com isso, sempre o protegendo de quem quer que fosse.
É um livro apaixonante, faz o leitor se envolver na história, imaginar a continuação da história, sonhar em ter uma namorado que dê de presente um iPhone no quarto encontro (tinha que dizer isso, não me contive), amigos fiéis e um chá nos momentos mais difíceis do dia.
A autora, Kelly Hamiso, tem um site que disponibiliza o primeiro capítulo do livro e outros contos dela (ainda não li para poder comentar, mas, pelo que li no livro, acredito que muito bons), é o www.kellyhamiso.com.br. O livro físico pode ser adquirido no site da editora Novo Século, www.gruponovoseculo.com.br. Aproveito para parabenizar a editora pela linha “Talentos Brasileiros”, que publica livros de autores ainda desconhecidos pelo público em geral, como é o caso “Morgenstern”.
Minha sugestão: visitem o site de Kelly Hamiso, leiam o primeiro capítulo, apaixonem-se por Seu Antônio (ele que abre o livro), e depois adquirem pelo site da Novo Século, vocês não vão se arrepender.
Deixo vocês aqui, tentando imaginar uma Muralha se apaixonando!
Beijinhos e até a próxima.