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Missão e Propósito – “Soul”

Missão e Propósito – “Soul”
  • Publicado em: janeiro 2, 2021

Será que já nascemos com uma missão, com um propósito na vida? E se nossos sonhos e objetivos não são alcançados da forma como planejamos ou queremos. Faremos o que?

Tenho certeza que, pelo menos uma vez na vida, todos nós já tivemos esse pensamento, mas raramente encontramos a resposta. Joe Gardner, em “Soul”, teve uma jornada que o fez encontrar as respostas dele.

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A animação “Soul” é o mais novo lançamento da Pixar e da Disney, lançado no dia 25 de dezembro direto da Disney+, sendo dirigido por Pete Docter e Kemp Powers, que também assinam o roteiro, ao lado de Lime Jones.

Joe Gardner é apaixonado pelo jazz desde que o seu pai o levou para uma apresentação em que o pianista estava inspirado, daquele jeito que a pessoa parece está em outro lugar enquanto toca. Joe aprendeu a tocar assim, mas parece que o jazz não gosta tanto dele como ele gosta do jazz.

Mesmo com todo seu talento e conhecimento, Joe nunca teve a grande oportunidade na música, tendo que se contentar em ser professor de música de escola primária, para a alegria da mãe.

Ela acredita no talento dele, mas já viu o quão pesada pode ser a vida de um músico que não tem esse tipo de oportunidade. Ela mesma teve que sustentar a casa com seu ateliê enquanto o marido ganhava quase nada nos clubes de jazz.

Ainda assim, Joe não perdeu as esperanças na música e agora parece ter sua chance. Um ex-aluno dele aparece com a oportunidade Joe tocar no quarteto em que ele está tocando, liderado por uma das maiores estrelas do jazz, com quem Joe sempre sonhou tocar, Dorothea.

Depois de um teste bem sucedido Joe sofre um acidente e acorda em um mundo totalmente diferente. Não demora muito para perceber que agora ele é uma alma e está prestes para ir para o Além-Vida.

Isso é bom, né?

Não para Joe, afinal ele finalmente conseguiria a oportunidade dele e faria sucesso, agora ele vai morrer sem ter alcançado nenhum de seus objetivos!

Isso faz a alma Joe se desesperar e procurar uma saída sem ser o Além-Vida. Ele acaba chegando no outro extremo, a Escola da Vida, onde jovens almas formam suas personalidades, missões e propósitos, ganhando passes para enfrentar o nascimento.

Joe se passa por um monitor, almas experientes que aconselham e auxiliam essas jovens almas a encontrar suas missões. Para Joe é designada a jovem alma mais complexa da Escola da Vida, a 22, que já teve como monitores grandes nomes como Aristóteles, Maria Antonieta, Madre Teresa de Calcutá, Benjamin Frankling e Mogammad Ali, mas nunca encontrou sua missão nem sequer é bem quista entre esses monitores.

A questão é, 22 não se interessa por nada da vida, o que é exatamente o que pode ajudar Joe. Ele conta para ela que não é um monitor de verdade, só quer ajudar a encontrar a missão para pegar o passe e voltar para seu corpo na Terra. Isso até motiva 22, mas eles não conseguem encontrar o propósito/missão dela.

Mas nem tudo está perdido, ela leva Joe para conhecer um lugar diferente, uma dimensão em que estão as almas das pessoas vivas, mas em um estado de êxtase. Sabe quando o músico está inspirado? Então, a alma dele é transportada para esse lugar, assim como os atores e bailarinos quando estão no palco, os jogadores nas quadras e campos, daí por diante.

Nessa dimensão também estão as almas daquelas pessoas que perdem seus propósitos, tornam-se tão obsessivos por algo ou realizam trabalhos tão mecânicos que sequer sabem o que estão fazendo da vida. São as almas perdidas.

Há um terceiro tipo de alma ali, as almas das pessoas espiritualizadas, essas que meditam de verdade, como o Bicho-Grilo. Ele e algumas outras almas conseguem motivar as almas perdidas, fazendo-as voltar ao corpo delas, e é assim que Joe acha que pode voltar para o seu corpo.

Ele consegue se visualizar numa cama de hospital, com um gato em cima dele (terapia com gatos, completamente aleatória). Ele não pensa duas vezes e, mesmo sob os protestos do Bicho-Grilo, ele se joga na imagem ali projetada e, sem querer, leva 22 com ele, causando uma confusão de almas. Joe assume o corpo do gato e 22 assume o corpo de Joe, tendo que lidar com todas as coisas mundanas que a apavora desde sempre.

Joe como gato guia 22 em seu corpo pela cidade, procurando uma solução, que é o Bicho-Grilo em seu corpo de verdade. Mas no caminho encontram Dorothea e precisam provar a ela que Joe ainda pode ser seu pianista, isso faz com que a inusitada dupla tenha que enfrentar umas situações estranhas.

A primeira é com a aluna desmotivada Connie, que quer desistir da música, mas é indiretamente motivada por 22. Também teve um lindo discurso de 22 na cadeira do barbeiro de confiança de Joe, mostrando que eles poderiam conversar sobre muitas coisas além do jazz, e, lógico, uma conversa necessária com a mãe dele, quando eles finalmente se entendem quando ao jazz e as pretensões de carreira de Joe.

Também tiveram muitas lições para 22. A alma descobriu o sabor da pizza, a bondade das pessoas, a delicadeza do vento em seu rosto, o amor de Connie pela música, a dedicação da mãe de Joe, os detalhes da vida cotidiana que as pessoas pouco vêm, mas que, inesperadamente, fizeram 22 querer ter uma vida.

Bom, 22 queria ficar no corpo de Joe, mas Joe queria voltar para o corpo para poder tocar com Dorothea. Eles não conseguem a ajuda do Bicho-Grilo porque 22 foge, mas eles caem na armadilha de Terry, o contador das almas que percebeu a falta de Joe na esteira do Além-Vida daquele dia.

Joe consegue voltar ao seu corpo com o passe dela, consegue se apresentar a ganha vaga permanente, mas algo mudou nele. Ele pensa em 22 e nesses pequenos detalhes da vida que ele nem prestava atenção, toca seu piano querendo voltar para aquela dimensão diferente e encontrar 22, conversar com aquela alma rebelde e dá chance a ela a ter a vida dela.

A lição que ele aprende é que não existe missão predestinada, o que as jovens almas aprendem com os mentores é algo que as motivam a viver, não precisa ser algo específico, como uma profissão ou um talento, mas algo as faça amar a vida.

Para Joe isso costumava ser a música, o jazz, o piano, mas para 22 eram tais detalhes que poder ver enquanto estava no corpo de Joe, o que, aliás, passou a ser o elemento dele também.

O que não foi explorado muito, mas poderia ter sido e se tornado um ponto focal, foi o fato de Joe inspirar seus alunos, apesar de ele mesmo não ser um grande entusiasta da carreira de professor. Vemos Curley, um ex-aluno de Joe, trilhando uma carreira de sucesso ao lado de Dorothea, sempre muito grato a tudo que Joe o ensinou, e vemos Connie se encontrando na música, mesmo com todos os obstáculos.

Para mim, a missão de Joe é ensinar e inspirar, ele poderia ter prestado mais atenção a esses detalhes e, com certeza, não ficaria tão triste quando viu o museu de sua via com 22, na Escola da Vida.

Já deu para notar que a animação não decepciona e é tudo o que a divulgação prometeu, ou seja, produção ao estilo de “Divertida Mente” e “Viva – A Vida é uma Festa”, algo que chama atenção das crianças pela bela animação e emociona os adultos com as reflexões da vida.

Com a descrição do filme é possível ver que os adultos estão se emocionando e se identificando com a história (eu inclusa no grupo). E o desenho da animação? A Pixar nunca decepciona, a cada filme eles melhoram mais esse quesito, os traços os humanos se tornam cada vez mais reais e os seres criados, como as almas, nesse caso, são incríveis.

Isso também é lucrativo, a Disney vai investir em bonecos das almas e, com certeza, vai ser um grande sucesso de vendas (aceito presentes, obrigada).

Outro ponto muito comentado desde a divulgação foi a forma como a diversidade étnica e de gênero é representada e abordada no filme. Diferente da maioria, esse filme é estrelado por personagens negros, o que respeita a história do jazz (embora o gênero também tenha expoentes de outras etnias atualmente), tratando o assunto de forma natural, como deve ser.

A questão de gênero pode ser vista de duas formas. Na vida na Terra pela mãe de Joe e por Dorothea, mulheres fortes e independentes, líderes de suas carreiras e de personalidade forte, embora excelentes conselheiras. Na outra dimensão, há ausência de gêneros, uma vez que as almas são neutras, o gênero é definido no nascimento (antes ou depois, há várias teorias e discussões sobre isso atualmente).

Isso também acontece com os conselheiros, são seres quânticos que guiam a Escola da Vida, o Além Vida e demais dimensões envolvidas, que chamados todos de Jerry (em inglês) ou Zé (em português), exceto pelo contados das almas, que é Terry. Contudo, as vozes oscilam entre masculinas e femininas.

As jovens serem chamadas por número também destaca a neutralidade, o que é possível de perceber mais na dublarem original, em inglês, já que esse idioma agrega ais termos neutros do que o português. Algumas vezes, na dublagem brasileira, 22 recebe pronomes femininos.

Atenção, não é uma crítica à dublagem brasileira, que não decepciona também, o trabalho é muito bem feito, apenas uma observação sobre a Língua Portuguesa em si e suas regras gramaticais.

Falando em dublagem, vou citar aqui o elenco original e o brasileiro.

Jamie Foxx dá voz e personalidade a Joe, o que faz sentido, afinal ele viveu Ray Charles, um dos grandes expoentes do Jazz, nos cinemas, no filme “Ray”, de 2004; A rebelde 22 é dublada por Tina Fey; Bicho-Grilo (ou Moonwind) recebe a voz de Graham Norton, um dos maiores apresentadores de talk show da Inglaterra (melhores entrevistas, recomendo); Curley recebe a voz de Questlove; Dorothea precisava de uma voz inspiradora, e é justamente o que Angela Basset faz ao dublar essa personagem); o barbeiro, Dez, recebe a voz de Donnel Rawlings; e Paul, um cliente de Dez que implica com Joe, tem a voz de Daveed Diggs.

Terry tem a voz de Rachel House, já os Zé’s/Jerry’s têm vozes diversas, começando pela da brasileira Alice Braga (mas ela só fez a dublagem em inglês), dentre outros nomes estão: Ruchard Ayoade, Wes Studi, Fortune Feimster e Zenobia Shroff.

Já o elenco brasileiro conta com os seguintes dubladores: Jorge Lucas (Joe), Carol Valença (22), Sérgio Rufino (Bicho-Grilo), Gabriel Noya (Curly), Luciana Mello (Dorothea), Francisco Júnior (Dez), Vágner Fagundes (Paul), Adriana Pissardini (Terry). Os Zé’s são Sylvia Salustti, Márcio Marconato, César Marchetti e Glauco Marques.

Vou finalizar com polêmica, preparados?

Amei “Soul”, mas meu coração ainda pertente a “Divertida Mente” e “Viva – A Vida é uma Festa”!

Até Mais.

Written By
Nivia Xaxa

Advogada, focada no Direito da Moda (Fashion Law), bailarina amadora (clássico e jazz) e apaixonada por cultura pop. Amo escrever, ainda mais quando se trata de livros, filmes e séries.