Marvel: Crise de ideias e diversidades causam vendas ruins, mas não é a primeira vez que a Marvel muda e tem que voltar ao Clássico.
Por Marcelo Moura
Mais uma crise de vendas na Marvel:
O Vice Presidente de vendas da Marvel em entrevista para ICv2, David Gabriel, disse que as vendas não atingiram o esperado com as diversidades apresentados pela empresa, principalmente com o aumento dos personagens femininos e diversidades religiosas ou de nacionalidades, como a nova Thor, a adolescente Ms Marvel, o novo Capitão América (Falcão) e a nova Homem de Ferro. Esta declaração causou frenesi no mercado, que reagiu de maneira contraria a declaração de Gabriel, muitos acusando os roteiros ruins da Marvel nas HQs e outros a personagens desinteressantes, que levaram a queda das vendas e não ao fato da diversidade dos personagens. O escritor G. Willow Wilson se pronunciou, reprovando a declaração de Gabriel, e pedindo a troca do termo diversidade por autenticidade e realismo.
Infelizmente este não é o primeiro Caso de fracasso nas vendas da Marvel, principalmente contra a toda e poderosa DC Comics, com seus Reeboots Crises, Flashpoints e Novos 52, que parece preferir recriar origens ao invés de inventar novos personagens. A Marvel, mesmo sendo contra os reboots, não consegue se estabelecer com seus remakes, e abaixo, falamos um pouco sobre isso.
Novo Universo (Marvel Comics – 1986):
Criada em 1986, por altura do 25º aniversário da Marvel, o então diretor Jim Shooter lançou esta nova linha para HQs na Marvel. Tratava-se de um universo completamente separado, com a sua própria continuidade e sem a existência de crossovers com personagens de outras linhas ou editoras. Pretendendo ser mais realista, não existiram seres mitológicos, deuses, magia, supertecnologia ou extra-terrestres, muito semelhante a série Heroes da TV. A quantidade de super-seres e super-poderes seriam também limitados, não sendo os personagens tão sensacionalistas ou perfeitos. Tal era um contraste direto com o Universo Marvel tradicional, o qual não é mais do que um espelho do mundo real no qual o conhecimento público de super-heróis, super-vilões e das suas atividades tem pouco efeito no quotidiano do cidadão comum. A limitação dos elementos de fantasia e as atividades dos seus personagens serem pouco expostas ao público, tornou-o mais real. No entanto, este Novo Universo permitiu também eventos catastróficos, antes da sua extinção, os quais dificilmente ocorreriam no universo tradicional, como a destruição de Pittsburgh em The Pitt e a guerra com a África do Sul em The Draft e The War.
Conceito e criação: O presidente Jim Galton realizou uma reunião entre os vice-presidentes da Marvel, incluindo Jim Shooter , que também era o editor chefe da Marvel e propôs uma ideia semelhante à linha Ultimate Marvel. Acabar com o Universo Marvel da época e relançar todos os títulos em um universo refeito que usaria os mesmos personagens e conceitos de história como o Universo Marvel original, mas atualizado para a presente época. Um Reboot total de todo universo. Esta ideia foi rejeitada porque era visto como intromissão com uma linha que foi muito bem sucedida na época e assim Shooter propôs a criação de um novo universo inteiramente separado que iria completar o universo Marvel, em vez de substituí-lo. Esta nova proposta foi aprovada e dado um orçamento de US $ 120.000. Depois de uma tentativa fracassada com Tom DeFalco no comando do projeto sem resultados positivos, Shooter concebeu uma linha de HQs que seria a próxima inovação para maior realismo. As novas idéias foram propostas em uma reunião com Shooter, DeFalco, Archie Goodwin , Eliot R. Brown , John Morelli , e Mark Gruenwald. A premissa por trás da linha de HQs era que, antes de 22 de julho de 1986, o novo universo era idêntico ao do mundo real. Primeira divergência do novo universo de realidade normal foi o Evento Branco, um fenômeno astronômico estranho que ocorreu em 22 de Julho de 1986, 04:22, EST, e durou meros momentos. A Terra é banhado por uma luz branca brilhante que causou anomalias genéticas em dois de cada um milhão de seres humanos, o que levou eles a desenvolverem poderes sobre-humanos. A anomalia resultou em uma manifestação física que levou à desfigurações horríveis em alguns, mas outros não. Os seres humanos que desenvolveram uma reação para o Evento Branco foram referidos como paranormais . De acordo com Goodwin, pretendeu-se desde o início que todos os personagens principais no novo universo seriam ou paranormais ou de alguma outra forma ligada ao evento Branca. No entanto, três dos títulos oito lançamentos, incluindo dois criado por o próprio Goodwin, não tinha qualquer ligação de qualquer espécie para o Evento Branco.
Primeiro ano: O novo universo foi fortemente comercializados, mas enfrentou problemas substanciais. Jim Shooter tinha planejado contratar os melhores criadores, mas isso se tornou inviável quando controladora da Marvel, Cadence Industries , ameaçou de vender a empresa, criando uma enorme pressão para a Marvel cortar custos e aumentar as receitas. Como resultado, o Novo Universo teve seu orçamento cortado em quase nada. Devido aos atrasos no desenvolvimento do conceito Novo Universo, dos primeiros problemas enfrentados pressões duras com os prazos e as reclamações de muitos leitores que sentiram que a linha não seguia o realismo que tanto foi prometido, ou o “mundo fora de sua janela”. Muitas edições foram canceladas com o passar do tempo ou passando a ser bimestrais até serem realmente canceladas.
O “Novíssimo Universo” : Em um esforço para salvar a linha, DeFalco (agora editor-chefe da Marvel), Gruenwald, John Byrne e editor Howard Mackie acabaram removendo alguns dos elementos mais fantásticos a partir dele e em alguns casos fazendo reavaliações radicais nos personagens, tentando trazer de volta o conceito inicial de realidade a série: “Houve um grande mal-entendido entre todos os criadores, que deveríamos manter o New U com o conceito de o mundo fora de sua janela, e que nunca deveríamos mudar isso, ou então perderiamos a identificação com o leitor. Perdemos o ponto de ter um universo virgem, organizada por super-seres conhecidos, estrangeiros, outras dimensões, civilizações escondidas, e tudo isso. O ponto é permitir que o leitor a experimentar a primeira vez que o material estranho começa a acontecer. E, mais importante, deixando o material estranho realmente afetar o status quo do mundo.” Apesar de tudo isto, o Novo Universo foi interrompida no final de 1989 depois de um total de 170 revistas publicadas. Os Leitores frequentemente entenderam que o Novo Universo tinha vendas fracas, mas, na verdade, todos os quatro séries foram solidamente rentáveis até seu cancelamento. A verdadeira razão para descontinuar a linha foi a de que, com a Marvel Comics em uma de suas eras de maior sucesso, notou-se que os recursos humanos e produção seriam melhor utilizados em uma nova série mais promissora. A interrupção do lineup foi imediatamente seguido por uma série limitada que foi concebido como a conclusão do novo universo.
Resultado: O Novo Universo não foi o sucesso esperado pela Marvel. Os críticos queixavam-se que os conceitos dos personagens eram pouco inspirados e alguns eram derivados de outros já estabelecidos, sendo Estigma, a Marca da Estrela considerado quase uma cópia do Lanterna Verde. As vendas eram baixas e em 1989 o conceito foi abruptamente encerrado, tendo no entanto existido nos meses seguintes a publicação de The War, que tentava resolver algumas pendências. Posteriormente, o Novo Universo tem tido algumas aparições fugazes. Peter David introduziu Justice como o Profeta da Rede no universo Marvel 2099 e Fabian Nicieza deu um pequeno papel a Estigma em Gambit. Mark Gruenwald trouxe o Novo Universo de volta num número na revista Quasar #31, em Fevereiro de 1992, o que originou a mini-série Starblast em 1994, um crossover onde se viram as personagens do Novo Universo pela última vez. Os títulos publicados foram Trovão (1986-1987), A Marca da Estrela (Estigma) (1986-1989), P.N.7(1986-1989), Justice (1986-1989), Torpedos (1986-1987), Merc, o Cão de Guerra (1986-1987), Máscara Noturna (1986-1987), Força Psi (1986-1989), P.N.7 Anual (1987), Merc, o Cão de Guerra Anual (1987), Força Psi Anual (1987), A Marca da Estrela Anual (1987), The Pitt (1988), The Draft (1988), The War (1989-1990). A maioria destes títulos foram publicados no Brasil pela Editora Abril. Algumas das histórias dos oito títulos principais foram publicados nas revistas Justice e Força Psi, exclusivas do Novo Universo, as quais duraram 12 números. Parte da restante saga de Estigma foi publicada na revista Superaventuras Marvel
Marvel 2099 (1992):
Marvel 2099 é uma linha editorial da Marvel Comics criada como uma versão futurista dos personagens da Marvel. A Editora Marvel decidiu ambientar em 2099 uma nova era de heróis Marvel, onde as histórias eram inspiradoras e com roteiros, geralmente baseadas ou influenciados em heróis do passado, como o Homem-Aranha 2099, Hulk 2099, Justiceiro 2099, o grupo X-Men 2099, entre outros. Muitas histórias foram escritas, e muitos personagens tinham características que lembravam seus antecessores do passado, mas com características fortes que despertavam o interesse nos mesmos, mas atualizados para o tempo em que viviam.
Por exemplo, o Homem-Aranha 2099 (Miguel O´Hara), escrito por Peter David e Rick Leonardi, possuía glândulas nos punhos e suas teias eram naturais, também possuía peçonhas e garras. Seus poderes também vieram de um acidente, assim como Parker, e seu uniforme futurista levavam as cores azul e vermelhas, as mesmas cores do “amigo da vizinhança” Homem-Aranha, o original Peter Parker. O´Hara foi um dos poucos exemplo de heróis que acabaram sendo aproveitados no universo normal, devido ao seu carisma com o público.
O Justiceiro 2099 (Jake Gakllows), criado por Pat Mills, Tom Morgan e Tony Skinner, era tão fanático quanto o Frank Castle. O mesmo decidiu combater o crime depois de uma experiência tão traumática quanto a de seu antecessor. Contava com incríveis aparatos tecnológicos e lidava com sua identidade como Justiceiro, como se fosse uma contra parte ou uma dupla personalidade. Muitas boas histórias foram contadas nesse universo 2099, mas com as poucas vendas dos títulos, e a ameaça a cronologia oficial da editora fizeram com que a sua linha 2099 fosse descontinuada. Com o surgimento de Thor 2099 e outros heróis da casa das ideias, como Capitão América, Vingadores 2099 e toda uma série de heróis e personagens.
Esse universo teve um final emblemático. Um meteoro entrou em rota de colisão com a Terra e isso fez com que os heróis se unissem para encontrar uma solução para o problema. A ultima história mostra a união dos X-Men e Quarteto Fantástico 2099 tentando encontrar uma solução para o que seria a destruição da Terra 2099.
Heróis Renascem (1996):
Com desenhos exagerados, físicos estranhos e mudanças nos uniformes questionáveis, Heróis Renascem foi uma nova visão dos heróis da Marvel em um universo mais compacto. Criado após a Saga Massacre, que foi um importante evento interligando vários dos personagens do Universo Marvel, publicado originalmente em diversas revistas pela Marvel Comics, nos E.U.A., em 1996. Ocorrendo logo após o fim da Era do Apocalipse, a Saga Massacre teve consequências drásticas para todo o Universo Marvel. O principal personagem e causador da crise é o Mega-Vilão Massacre, um ser de pura energia psíquica, surgido das frustações do Professor Xavier, acrescidas da essência maligna de Magneto.
Surgindo primeiramente como uma segunda personalidade de Xavier, o Massacre vai, paulatinamente, eliminando as resistências ao seu plano de dominação mundial e criação de um governo mutante. Porém, quando Jean Grey descobre a verdade por trás de sua personalidade, ele se desvincula de Xavier e começa a agir ostensivamente. Sequestrando Nate Grey e Franklin Richards, ele pretendia usar seus poderes para dominar todo o planeta. Somente com o sacrifício dos Vingadores e Quarteto Fantástico foi possível derrotar o vilão. Porém, enquanto todos pensavam que os heróis haviam morrido, eles estavam presos em uma realidade alternativa, mostrada na saga Heróis Renascem, criada por Franklin Richards.
Na verdade, esta foi a desculpa dada pela Marvel para poder retornar ao seu universo normal e apagar o que foi criado em Heróis Reborn. Essa série foi produzida pelos estúdios de Jim Lee e Rob Liefeld, desenhistas que haviam saído da Marvel para fundarem a Image Comics. Para resolver os problemas de vendas foi dito que estas novas aventuras foram vividas num universo paralelo conhecido como Contra-Terra criado por Franklin Richards.
Pouco tempo após a volta de Franklin criança, o ser conhecido como Massacre sequestrou Franklin e Nate Grey no intuito de usar as habilidades de remodelar a realidade de Franklin juntamente com o imenso poder psiônico de Nate. Para conseguir deter o Massacre o Quarteto Fantástico, os Vingadores, os X-Men e diversos outros heróis primeiramente destruíram sua forma física e depois sua forma psíquica. No processo os pais de Franklin se sacrificaram e aparentemente morreram juntamente com todos os Vingadores. Essa foi a primeira vez que Franklin mostrou seu verdadeiro poder criando o universo compacto de “Heróis Renascem” para enviar os heróis que haviam “morrido” durante aquela aventura. Enquanto seus pais estavam no universo de Heróis Renascem, Franklin foi morar na mansão da equipe de jovens mutantes Geração X. Inicialmente revoltado com a suposta morte de seus pais, graças ao apoio de seus novos amigos, ele aceitou a situação.
Enquanto ele morou com a Geração X, Franklin se juntou ao Homem-Coisa, Howard, o Pato, Artie, Sanguessuga e uma aliada de Thor chamada Tana Nile. Todos viajaram por diferentes realidades alternativas antes de perceberem que era Franklin quem criava inconscientemente todos esses mundos fantásticos. Após perceberem que o grande globo que Franklin carregava após a derrota do Massacre continha um universo inteiro criado a partir da vontade do garoto os Celestiais viram que Franklin representava o ápice de seus experimentos genéticos, com os poderes comparado aos próprios celestiais. O garoto, com a ajuda de Ashema, uma das Celestiais, trouxe de volta os heróis à seu mundo de origem e assim pode se reunir mais uma vez com sua família.
Para comemorar o décimo aniversário do evento Massacre/Heróis Renascem a editora Marvel lançou uma mini-série em 5 edições chamada Massacres Renascem, escrita por Jeph Loeb e desenhada por Rob Liefeld. Nela, Massacre retorna ao universo da Terra 616 para vingar-se de Franklin. Uma ótima maneira de resolver problemas e ainda ganhar um dinheiro.
Ultimate Marvel (2000):
Ultimate Marvel foi uma linha editorial renovada da Marvel Comics, que assim como os filmes dos X-Men, lançado no mesmo ano da criação da linha, e do Homem-Aranha, estreado dois anos depois, foram sucesso inicialmente de vendas e bilheteria. Foram desenhados no sentido de capturar os jovens adolescentes e gerações mais velhas que não conheciam o Universo Marvel e estavam intrigados pelos filmes. Presentemente, os títulos desta linha foram os mais vendidos da Marvel Comics durante uma época, mas atualmente apagadas da continuidade por vendas ruins e decisões de linha de personagens contestáveis.
As revistas retratam versões reimaginadas e atualizadas de alguns dos personagens da Marvel, como os Vingadores e o Quarteto Fantástico. No entanto, estes personagens têm novas origens, estando libertos para que os criadores não tenham dos basear nas histórias antigas. Cada personagem foi modificado de modo a refletir uma abordagem mais moderna do que os anos em que foi originalmente criado, sejam as décadas de 60 ou 70 do século XX. Por exemplo, o Homem-Aranha ganha os seus poderes a partir de uma aranha geneticamente modificada e o seu alter ego Peter Parker tem um emprego em part-time como webmaster do site de um jornal; originalmente, a aranha era radioativa e Peter trabalhava como fotógrafo de um jornal. Alguns títulos, como o do Homem-Aranha, foram originalmente concebidos para atrair jovens adolescentes. No entanto, outros títulos Ultimate têm tido como alvo grupos etários mais idosos. Seja como for, o público alvo da linha Ultimate eram os leitores novos, não pretendendo converter os fãs antigos para esta nova continuidade. No entanto, as vendas da linha Ultimate por um tempo superaram as da linha principal.
Uma das características notórias da Ultimate Marvel é a de que os seus personagens são mais novos do que na continuidade tradicional. Em alguns casos, tal deve-se a se ter começado a contar as suas aventuras desde as suas origens, como é o caso do Homem-Aranha e dos X-Men, ainda adolescentes na linha Ultimate. Noutras séries, as mudanças são mais marcantes. Por exemplo, no Ultimate Quarteto Fantástico, que influenciou diretamente a nova versão cinematográfica, os personagens adquirem os seus poderes muito mais cedo, numa altura em que Reed Richards (Senhor Fantástico), o mais velho, tem vinte e sete anos. O seu papel paternal no grupo da linha tradicional foi, entretanto, transferido para um novo personagem, o Professor Storm, o pai de Sue (Mulher Invisível) e Johnny Storm (Tocha Humana). A continuidade destas personagens não é, portanto, a da Terra-616, pelo que elas não interagem com personagens daquela continuidade, as versões originais. Têm-se distinguido pelo seu trabalho nesta linha or argumentistas Brian Michael Bendis e Mark Millar, além do antigo presidente Bill Jemas e do director Joe Quesada.