Lucille Ball em destaque – “Apresentando os Ricardos”

Um dos maiores sucessos da TV estadunidense nos anos de 1950 era o sitcom “I Love Lucy”, o qual tem servido de inspiração para outras produções até a atualidade, tendo como maior exemplo “WandaVision”.

Os bastidores do show foram muito mais tensos do que as risadas que Lucille Ball e seu marido, na ficção e na realidade, Desi Arnaz, levavam para todo o país. Três assuntos delicados, crises profissionais e pessoais, são retratadas no longa “Apresentando os Ricardos”.

O filme teve o roteiro e a direção assinados por Aaron Sorkin, tendo sido lançado em outubro de 2021, já rendendo várias indicações de prêmios e o quarto Globo de Ouro de Nicole Kidman, que dá vida a Lucille Ball.

Agora “Apresentando os Ricardos” está disponível na Amazon Prime Video. Vamos conhecer melhor a trama?

Os bastidores de “I Love Lucy” enfrentam uma semana atípica, com vários problemas a serem resolvidos e 03 crises que podem mudar o rumo do programa e da vida conjugal de Lucille e Desi. Esse momento crucial é visto tanto como memórias dos três escritores, Jess Oppenheimer, Madelyn Pugh e Bob Carroll, quanto com detalhes de conversas privadas do casal famoso.

As três 03 crises consistia em: fofoca revelando uma possível traição de Desi, a acusação de que Lucille fazia parte do Partido Comunista e o anúncio da gravidez dela.

Desi sempre foi muito charmoso, com seu sotaque e sua musicalidade latina, mas grande paixão pelos EUA, ele era conhecido por ser amado pelas mulheres. Ele se apaixonou perdidamente por Lucille desde o primeiro encontro, até gostava da vida de casado, mas algumas coisas machucavam seu orgulho masculino, a principal era ter o comando dos negócios e da casa (a falta disso, na verdade).

Lucille era extremamente talentosa, mas também controladora e exigente com todos os detalhes, sempre fazendo sugestões aos escritores e produtores, com tom de ordem. Desi era um dos chefes e, mesmo que não parecesse, essa postura dela o atingia e isso o estava afastando de casa, levando-o para noites de jogatinas e, talvez, mulheres.

Essa é a perspectiva e justificativa dada no filme, mas precisamos lembrar que a história/estória se passa nos anos de 1950, por isso tem esse tom de conservadorismo em contraste com a postura firme de uma mulher.

A segunda crise era vista como mais grave. Um programa de rádio de alto alcance (comparável ao que o Jornal Nacional é hoje, por exemplo) afirma que Lucille é membro do Partido Comunista.

Mais um vez precisamos lembrar que a trama se passa nos anos de 1950, momento em que os EUA estavam em plena guerra contra o comunismo. Afirmar que a estrela do sitcom mais popular da época era comunista era o mesmo que jogar a artista na sarjeta, porque ninguém iria mais querer trabalhar com ela, o próprio sitcom poderia acabar ali mesmo.

Lucille não estava tão preocupada com isso. Ela realmente havia se alistado, anos antes, simplesmente para agradar o avô dela, quem a criou, mas retirou a associação pouco tempo depois, com tudo documentado. Estava de consciência limpa quanto a isso e bem mais preocupada com a foto da revista que alegava a traição do marido.

Isso porque ela conhecia bem Desi, ela sabia que havia algo errado entre eles e que a acusação poderia ser verdade sim, apesar de toda dedicação dele para a proteger, especialmente do caso do Partido Comunista.

Por fim havia a questão da gravidez, o que poderia parecer tranquila ao lado das outras questões, mas não era. Tanto Lucille quanto Desi queriam incorporar isso no sitcom, afinal eles também eram casados na ficção, nada mais natural do que Lucy também estar grávida “junto” com Lucille.

Mas esse pensamento era muito moderno para o momento, naquela época não era aceito abordar o assunto gradivez no horário que o programa iria ao ar, especialmente de humor. A ideia dos produtores e da emissora era esconder a barriga de Lucille e seguir a vida normalmente, o que ela não aceitou calada.

Como comentei no começo, muitos desses momentos foram se desenrolando como memórias. O filme foi montado como se fosse aqueles programas estilo documentário, com depoimentos de alguns envolvidos, que, no caso, eram os escritores que mencionei anteriormente. 

Essa escolha foi bem feita, porque deu a perspectiva deles sobre os eventos, não só de como Lucille de Desi eram retratados. Além disso, abriu-se espaço para falar de eventos anteriores, como, por exemplo, a formação do casal, os primeiros anos de casamento e os desafios de Lucille para se estabelecer como atriz a ser levada a sério pela indústria.

E, dando vida a Lucille Ball, uma das atrizes mais marcantes da TV estadunidense, a escolhida foi Nicole Kidman, famosa por tantos trabalhos, dentre os mais recentes estão “Big Little Lies”, “The Undoing” e “Nove Desconhecidos”. Ela foi tão perfeita que a filha de Lucille Ball e Desi Arnaz, Lucie Arnaz, disse que a atriz havia se tornado a alma da mãe.

Além do talento incontestável de Nicole Kidman, é preciso parabenizar a caracterização que foi feita no filme. Ela já tinha algumas semelhanças com Lucille, mas a maquiagem ficou tão perfeita que fica difícil ver Nicole “por trás” de Lucille no filme em alguns momentos.

Desi Arnaz é interpretado por Javier Bardem, famoso por filmes como “Mãe!”, “Duna” e “007 – Sem Tempo para Morrer”. Em uma primeira análise ele parece ser muito caricato, mas Lucie Arnaz comentou que, embora Bardem não parecesse com o pai fisicamente, ele capturou a personalidade perfeitamente.

Minha única reclamação é, ironicamente, a caracterização. Teve uma cena que representaria Arnaz com 22 anos, mas Bardem, mesmo com a caracterização, não passa a impressão de ter essa idade. Talvez, só nessa cena, teria sido melhor ter um ator mais novo (opinião minha, baseado em achismo).

O elenco conta com outros nomes estrelados, dois deles bem conhecidos do Universo Marvel: J.K Simmons, o J. Jonah Jameson, o chefe do Homem Aranha de Tobey Maguire, interpretando o comediante William Frawley; e Clark Gregg, o eterno Agente Coulson, interpretando um dos chefões da emissora que transmitia “I Love Lucy”, Howard Wenke.

Os escritores que parecem dando os “depoimentos” são vividos por dois grupos de atores, de um lado a versão jovem, quando os eventos ocorriam, do outro eles mais velho, na hora de relembrar a semana tensa. Na versão jovem estão Alia Shawkat (Madelyn Pugh), Tony Hale (Jess Oppenheimer) e Jake Lacy (Bob Carroll). Na versão mais velha estão Linda Lavin (Madelyn Pugh), John Rubinstein (Jess Oppenheimer) e Ronny Cox (Bob Carroll).

Outros nomes em destaque são: Nina Arianda (Vivian Vance), Nelson Franklin (Joe Strickland), Jeff Holman (Roger Otter), Jonah Platt (Tip Trippy), Christopher Denham (Donald Glass – um dos diretores convidados de “I Love Lucy”), Brian Howe (Charles Koerner), Ron Perkins (Macy) e Baize Buzan (Mary Pat – secretária de Oppenheimer).

Até Mais!

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