Leoni – Baladas Sortidas no Bar Opinião
Se tem um cara que foi um dos pilares do Brock dos anos 1980, mas às vezes, talvez até por opção, não é tão lembrado é o Leoni. O cara foi a cabeça pensante dos primórdios do Kid Abelha, compôs os primeiros sucessos da banda, era um exímio baixista, um dos primeiros a usar slap no pop daquela década. Seguiu em frente e montou o Heróis da Resistência, super banda, que em 1986 lançou um disco que teve no mínimo uns 5 sucessos. Nos anos 1990 ainda foi responsável por uma balada que fez todo mundo cantar ou arranhar um violão para tocar, falo do sucesso Garotos 2, que junto com More Than Words, do Extreme, era presença obrigatória em rodinhas de som da galera dos anos 1990. Leoni seguiu em frente, gravou discos, lançou livros, continuou fazendo shows e recentemente soltou um EP, Baladas Sortidas, disponível nas plataformas digitais. Na esteira do EP, veio o show de mesmo nome, que ele trouxe domingo passado para o Bar Opinião em Porto Alegre e que tive o privilégio de cobrir.
Domingo de agosto, 21h não é um horario dos mais propícios para show na gélida Porto Alegre, mas mesmo assim, um bom público, de várias idades, estava lá para prestigiar o artista de olhos tristes e canções vigorosas de amor e relacionamentos complexos. Pouco depois das 21h ele sobe ao palco, com a banda Outro Futuro, com um figurino especial de Nicole Nativa, vestindo roupas largas em xadrez e uma iluminação marcante, com ênfase em luzes vermelhas e verdes, de Olivia Munhoz.
Abre o espetáculo com uma intimista versão de Só Pro Meu Prazer para delírio da fiel plateia. Segue o show com violão em punho e lembra que fazia mais de 30 anos que não pisava no Opinião, ou seja, desde a era Garotos 2. A segunda canção é parceria dele com Zeca Baleiro e está presente no seu último EP, Te Entendo 100 Por Cento. A promessa do show é que ele iria intercalar canções suas com outras de compositores diversos, então apresenta uma ótima versão de Tendo a Lua, dos Paralamas do Sucesso. Resgata uma dos Heróis, Incapacidade de Amar, momento em que pega o baixo, mostra todo seu talento nas quatro cordas e faz a galera dançar, mais uma vez com o violão, numa versão reggae de A Fórmula do Amor. Leoni está solto, conversa com a galera, sua cara de rapaz tímido é só estampa, pois comanda com bom humor e muita simpatia o show.



Em um momento alfineta aquelas pessoas que acham que música boa só foi feita no passado e faz questão de tocar Nuvem Vermelha, da cantora e compositora Ana Frango Elétrico, da novíssima geração da música brasileira. Mas mantém o equilíbrio e toca em seguida Charme do Mundo, da amiga Marina Lima e do saudoso Antonio Cicero, mostrando que música boa tem em qualquer época. A próxima canção é mais uma com uma parceria ilustre, Zélia Duncan, a recente e competente Quem Nos Dera.
Volta para 2002, com o sucesso Temporada das Flores, e volta mais ainda, para 1993, 1994, época que fez a carreira solo decolar, hipnotizando o Opinião com seu clássico absoluto Garotos 2, quando uma enxurrada de celulares são sacados para registrar a lindíssima balada. Leoni, então, com a massa garantida, aproveitou a intro de teclados de Carol Mathias e tocou o super sucesso Como Eu Quero. Ele brinca com o instrumento, tocando inicialmente como a balada conhecida pela galera, mas depois emendou uma versão dele mesmo com mais peso e agressividade vocal, em mais um dos ápices momento da noite.


Leoni, além de tocar muito violão, baixo e esbanjar simpatia, está cantando muito bem, sua voz continua limpa e agradável como há 30 anos, exemplo de profissionalismo. Segue o baile lembrando o tempo que era um dos Abóboras Selvagens, com Por Que Não Eu? e mais uma vez pega o baixo para tocar o sucesso dos Heróis da Resistência, Dublê de Corpo. Em seguida, com o baixo, brinca com a galera mostrando a importância do instrumento e como aquelas músicas perdem o brilho e o sal sem o instrumento, mesmo que muita gente nem saiba direito o som do baixo, depois disso, emenda a linha clássica de Fixação e toca a música pra delírio da galera. Com Lágrimas e Chuva (uma das primeiras do pop rock nacional que usaram a técnica do slap no baixo), esbanja técnica e voz com mais uma canção do Kid Abelha cantada e idolatrada pelo povo presente.



Leoni, então, faz uma declaração de amor à arte de Djavan, dizendo ser ele o maior compositor do Brasil e segue com Lilás, canção do ídolo. Em um momento de total liberdade, vai pro meio do público e canta junto com a galera, em mais um momento sublime do incrível espetáculo. Leoni resgata uma canção de 2006, a lindíssima Soneto do Seu Corpo e segue com Os Outros, de 2005. Não tem como não falar desse show sem apresentar a super banda Outro Futuro. No baixo e teclados Carol Mathias, que recentemente esteve acompanhando Marina Lima por aqui, juntamente com Gustavo Corsi, guitarrista. Seu filho Antonio Leoni assume a outra guitarra, e na bateria, Lourenço Monteiro, aniversariante da noite, um time afiado para acompanhar o artista.




Educação Sentimental, outro sucesso do Kid Abelha e os Abóboras Selvagens, faz mais uma vez a galera cantar junto e para o bis, ele escolhe um dos maiores sucessos de Cazuza, Exagerado. A canção com letra de Ezequiel Neves e do próprio Cazuza, mas a melodia toda composta por Leoni, fecha com maestria o surpreendente show.
Digo surpreendente porque não esperava tanto, mas o que presenciei é um artista que é uma lenda no pop rock nacional, esbanjando vitalidade, sabendo mesclar passado com presente, mostrando que só viver dos louros do passado e viver na zona de conforto não serve pra ele. Com canções de sucessos de sua carreira de mais de 40 anos, apresentando seu novo trabalho e tocando alguns covers que admira, Leoni entregou um dos melhores shows do Opinião do ano, mostrando que continua firme, ativo e forte, não tão garoto como antes (trocadilho besta), mas amadurecido e atento ao seu tempo, além de ter uma conexão incrível com seu público e uma presença de palco cativante. E que continue brilhando e não demore tanto para voltar para Porto Alegre.
