Não, eu não farei uma resenha! Aliás eu nem mesmo sei como fazê-la. Existem blogs ótimos e que fazem isso. O Porto, ou “Le Havre” título original em francês é um longa metragem do diretor finlandês Aki Kaurismaki, e que me inspirou sobremaneira a falar sobre alguns aspectos do comportamento humano, tão em desuso nos dias de hoje.
Mais do que qualquer outra coisa, o filme, um dos melhores que assisti no ano, mesmo datando de meados de 2012, fala de amizade. Das grandes e verdadeiras amizades. Daquelas que não se cantam aos quatro ventos, que não vivem das grandes festas, nem compartilham de todos os momentos, mas que acima de tudo existem e independem de qualquer fator externo. Isso não existe mais, ou, em existindo é raríssimo.
O Porto, filme em exibição no elogiável canal Arte1, nos mostra que amizade é um sentimento muito mais profundo do que nós, ocidentais do novo mundo imaginamos, amizade tem a ver com caráter, com gênese moral. Mostra-nos que é impossível ser uma boa pessoa sem antes ser um bom amigo. E como fazem falta as boas amizades!
Para nós, do novo mundo, da bela América do Sul, Latina, amizade é laço de fidelidade, companhia, presença constante, onde troca-se os amigos na mesma velocidade com que se troca de roupa, de estação, de gosto musical. Mudar de cidade é fazer novos amigos, não é mesmo? Nem sempre! Amizade é do caráter, é intrínseco da personalidade, é sentimento imutável.
A poucos dias escrevi um texto, intitulado “O para sempre, sempre acaba!”, onde eu afirmava que amizade eterna também não existe, e que por vários fatores pode acabar. Uma amiga, muito querida, de uma alma tão mais boa que a minha, discordou veementemente do que escrevi. Hoje, neste texto, faço também uma confissão de erro, um ato de desagravo: Eu estava errado!
Não errado por querer errar, mas errado por minha visão limitada do que realmente é ser amigo. Amizade é mais do que brigar por alguns tostões ou pela metade de uma maçã. Amizade é sentimento profundo, imutável, se não for assim, nunca foi amizade. Temos muito que aprender com o velho mundo sobre isso se um dia quisermos ser e ter amigos de verdade.
No filme, vemos a história de um homem solitário, sem mãos estendidas para ajudarem a carregar o peso de seus dias de pouca sorte, amigos que o negavam a mão, escondiam-se dele, desviavam do seu caminho, mas que de forma surpreendente, quando este realmente precisou, teve a demonstração única de que tinha os maiores e melhores amigos que se poderia ter. Conhecemos nossos amigos quando eles nos aparecem sem que tenhamos de chama-los.
Eu assisto a muitos filmes, séries, leio muitos livros, revistas, nunca ousei indicar um aqui no blog, pois acho que este tipo de gosto é algo muito pessoal, mas dessa vez me arrisco. O Porto não é uma super produção, nem uma história de fazer chorar, nem tem um grande elenco. Mas é um filme que faz o que poucos conseguem: Nos faz pensar!
Que possamos compreender a profundidade da amizade, para que sejamos amigos melhores, e claro, para que tenhamos amigos melhores.
Ninguém pode dar aquilo que não tem.
Por Patrick Canterville
Original em Portal das Letras