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MÚSICA

Kiko Loureiro e Marty Friedman – Bar Opinião

Kiko Loureiro e Marty Friedman – Bar Opinião
  • Publishedjunho 9, 2025

Quinta passada, Porto Alegre teve o privilégio de assistir, no palco do Bar Opinião, dois dos maiores guitarristas de som pesado do mundo. De um lado, Kiko Loureiro, que por anos foi um dos seis cordas do Angra, e tem uma carreira solo regular. De outro, Marty Friedman, estadunidense, que chegou a tocar com Jason Becker no Cacophony, é radicado no Japão e ainda produz muito. Em comum, os dois tocaram em momentos distintos pela banda de Dave Mustaine, o aclamado Megadeth. A tour era do Kiko, a Theory Of My Mind, e quem foi esquentado naquela noite foi a plateia gaúcha com a fritação de notas dos dois virtuoses guitarristas.

A celebração do metal começou cedo, tendo a banda local Phornax como abertura dos trabalhos. Depois dos gaúchos, quem subiu ao palco foi o guitarrista colombiano-americano Andy Adams. Com sua virtuose e velocidade nos dedos, deu uma palhinha sobre o que iria ocorrer em alguns instantes. Por volta das 22 horas, o Opinião já estava muito cheio e ávido para assistir a mais uma vez o nosso “tesouro” Kiko Loureiro. Acompanhado de dois quintos do Angra, o baixista Felipe Andreoli e o baterista Bruno Valverde, e tendo como escudeiro o ótimo guitarrista Luiz Rodriguez, surge Kiko Loureiro, com sua simpatia e presença marcante e inicia o show com Blindfolded, pedrada do seu último disco solo, Theory Of My Mind. Segue o show com Reflective, do seu disco de 2012, e fecha a primeira troca de músicas com Overflow, do seu disco Open Source de 2020, mapeando um bocadinho de sua carreira solo no início do espetáculo. 

Kiko então parte para lembrar sua fase de guitarrista do Megadeth, atacando de Dystopia, do álbum homônimo da banda. O guitarrista arrisca na cantoria soltando o gogó, mas provando que realmente a sua praia são as seis cordas da guitarra. Kiko então voltou a 2004, quando lançou seu primeiro álbum em paralelo ao Angra, No Gravity, com a música de mesmo nome. Como constatação inicial, o guitarrista está cada vez mais bem humorado, leve, com uma performance mais madura e mais solta. Na questão técnica não tem o que falar, ele toca demais e é certamente um dos maiores de sua geração. E sua banda de apoio, o “Angra B” dispensa apresentações, apesar do eterno mau humor de Andreolli…

Em seguida, Kiko chama aquilo que o povo pede mesmo. Seu medley instrumental do Angra, fazendo uma junção maravilhosa de canções como Carry On, Spread Your Fire, Nova Era, Morning Star, Evil Warning e Speed. Para matar a saudade de seus tempos áureos na banda, além de lembrarmos de André Mattos, que imortalizou algumas delas com sua voz angelical. Com Conquer Or Die relembra sua fase na banda da Mustaine. Como de praxe chama alguém para fazer um som com ele, e o escolhido é Andy Adams, que faz um belo dueto de guitarras com direito à resposta de solos e exímia técnica de ambos. Do seu mais novo álbum, toca Mind Rise e logo depois, para delírio da galera, chama Alírio Netto, uma das vozes mais bonitas do metal nacional para tocar um clássico absoluto do Angra, Nothing To Say. Os dois bumbos de Valverde chegam a bater no estômago e a introdução de guitarra emociona a plateia. Segue com Angeles On Demos, do Temple of Shadows, disco de 20024 do Angra, e encerra esse bloco da saudade (ou seria uma prévia de que Kiko voltará para o Angra?) com a acústica Late Redemption, do mesmo disco, com Kiko mostrando seu talento no violão e Alírio esmerilhando nos vocais. E Kiko fazendo a parte do Milton Nascimento nos vocais, uma responsa danada…

Mas enfim, estava chegando o momento que o povo queria mesmo. Eis que surge no palco, com seus 63 anos e rostinho de 40, Mr. Marty Friedman. A lenda da guitarra do metal, já chega chegando com seu carisma e bom humor únicos, chamando a galera, tagarelando e dizendo que queria ser brasliero naquela noite. Começa a jam de amigos com Hyper Doom, do disco Inferno, de Friedman. Uma aula de técnica, timbres e performances. A galera ainda delirava quando eles mandavam de Tornado of Souls, clássico absoluto do Rust In Peace, do Megadeth, com aquele antológico solo de Friedman, que tivemos o prazer de presenciar na nossa frente.

Depois dessas duas pedradas, a dupla resolveu mostrar sua versatilidade e talento, tocando um medley com dois clássicos da música brasileira. Juntam Luiz Gonzaga e Waldir Azevedo. Asa Branca com Brasileirinho, em show de talento de dois dos maiores guitarristas do estilo. E o melhor, aqui fazendo aquele crossover que o Angra sempre soube fazer bem, misturando música do Brasil com som pesado. Um antológico momento. Marty é um caso à parte. Está numa prateleira acima mesmo, um dos maiores guitarristas que vi perniciosamente, além de ficar enorme com suas botas de salto altíssimas, no melhor estilo Kiss. Além de esbanjar sorrisos e simpatia, era nítido que estava feliz e se divertindo com a função. Teve tempo de tocar mais uma de seu repertório, Tearful Confession, do seu mais recente álbum, Drama, de 2024, e logo depois, para delírio da galera, Kiko vai ao violão,  Alírio volta ao palco e Marty participa junto a eles de uma antológica execução do clássico Rebirth, do Angra, fechando com maestria e emoção a participação no palco dos dois ícones do metal. Depois daquela ceninha de vamos embora e agradecimento ao público, Kiko ainda volta ao palco para tocar Enfermo, de 2004, seu primeiro álbum. Eu achava que ele iria fechar com Stormbringer, do Deep Purple, mas com esse excelente número, fecha com estilo essa noite inesquecível.

Kiko e Friedman fizeram aquele tipo de show de contemplação de sempre. Com um público, na maioria músicos, que ficam por duas horas celebrando a técnica exímia dos dois guitarristas quase sem piscar. Mas com o diferencial que nesse show tivemos um Kiko mais solto e à vontade, onde soube explorar sua rica carreira solo, homenageou suas origens com músicas do Angra, sua fase de Megadeth e ainda nos proporcionou esse momento que ficará para sempre em quem é fã de metal e de guitarra: assisti-lo junto a Marty Friedman no mesmo palco, fritando seus instrumentos com um talento incrível, unindo peso, melodia, velocidade e destreza. Feliz foi Dave Mustaimne que teve os dois como guitarristas do seu lado e burro também foi ele que dispensou os dois… Em suma, e voltando à noite de quinta, quem viu e ouviu jamais esquecerá!

Written By
Lauro Roth