Jumanji: Bem vindo à selva. Divertida homenagem ao filme original, mas com vida própria.

Sim, caros leitores do NoSet. Jumanji – Bem vindo à Selva estreou e traz a desconfiança* de uma continuação de um clássico do cinema onde o protagonista era ninguém menos que o saudoso Robin Williams. Mas não se preocupem. A diversão é garantida e os risos também, já que o filme tem elementos de ação, games, paródias, humor e, claro, referências ao primeiro longa. Isso sem falar que temos uma breve explicação do que seria o board game (jogo de tabuleiro) que tanto atormenta a vida das pessoas.

A história.

Essa continuação do filme de 1995 está divertida por não levar a sério o que poderia ser uma obra de ação. Isso, contudo, não ocorreu, já que os roteiristas preferiram abordar Jumanji como ele é: um jogo. Explico: a maldição do jogo de tabuleiro é arrastar alguém para a selva onde, anteriormente, ficou preso o jovem Alan Parrish (Robin Williams). Um ano após o caos visto no primeiro longa, estamos em 1996 e testemunhamos o poder do tabuleiro que, para arrecadar mais uma vítima, se adapta a algo bem mais atual: um vídeo game.

Só essa parte inicial serve para mostrar que os roteiristas tiveram a coragem de apostar na mudança e trouxeram para nossos tempos (apesar de ser um console antigo, ainda com cartucho) outra versão do jogo que, anteriormente, trouxe a floresta para fora. Esse adaptação do game fará o contrário ao levar os jogadores para dentro do universo de Jumanji.

As vítimas dessa vez são Spencer (Alex Wolff), Bethany (Madison Iseman), Fridge (Ser’Darius Blain) e Martha (Morgan Turner). Eles foram reunidos ao acaso e acabaram detentos na escola por causa de suas qualidades negativas. Spencer é o nerd medroso que é obrigado a fazer os trabalhos do gigante jogador de futebol americano, Fridge. Martha é a menina tímida  e inteligente que não vê necessidade de praticar esportes e, por último, Bethany é a viciada em redes sociais que põe seus problemas à frente de tudo, inclusive os estudos.

Detentos, pouca coisa lhes resta a fazer, fora discutir. Assim, eles encontram um console antigo e o ligam a uma TV. Esse é o ponto de partida para que todos sejam “sugados” para o universo de Jumanji.

Jumanji: Regras.

Cada um dos jovens escolheu um “char”, um personagem do jogo. Só o que eles não sabiam é que seriam transformados nos personagens que optaram. Spencer se transforma no Dr. Smolder Bravestone (Dwayne Johnson) que é um fortíssimo e ágil desbravador. Fridge passa a ser o pequeno e lento zoólogo Moose Finbar (Kevin Hart). Bethany tem sua beleza transfigurada para um cara gordinho, barbudo e de óculos, o Professor Shelly Oberon (Jack Black). Por fim Martha é radicalmente transformada na linda e fatal Ruby Roundhouse (Karen Gillan).

Essas mudanças são o ponto alto do roteiro, principalmente por fazer uma brincadeira com as personalidades e a aparência dos adolescentes. Ao serem transpostos para o universo virtual, seus avatares são exatamente o contrário daquilo que eles são na vida real. Mas isso não é o único problema: as mentes adolescentes estão presas aos corpos adultos. Logo, a confusão está armada.

Brincando com nossos preconceitos e estereótipos.

Outro achado nesse novo Jumanji é a correta utilização do humor através do destaque dos estereótipos e preconceitos em evidência, principalmente entre os mais jovens. Nerd, atleta, quieto ou “poser” são qualidades que incomodam, seja por haver popularidade demais ou porque o dono da característica é visto como um “Zé Ninguém”.

O pacote fica completo quando unimos as atuações dos astros principais que ainda agem como os mais jovens. Jack Black como a narcisista Bethany é impagável.

Mas não terminam as brincadeiras por aí. Os próprios games são criticados (uma crítica inteligente, diga-se de passagem) por seus excessos. A jovem que não compreende o porquê de estar com shortinho e top na selva (Lara Croft, alguém disse?), o toque no avatar para descobrir as características e fraquezas, os NPC (Nigel, interpretado por Rhys Darby, é o mais engraçado deles) ou Personagens Não Jogáveis, o uso das três vidas de cada personagem, entre outros.

Claro que não posso deixar de citar o humor através do visual gordinho de Jack Black, a redução de tamanho quando Fridge vira Moose e, por fim, a imponência do Dr. Bravestone que contrasta com a personalidade medrosa e acanhada do nerd Spencer. Tudo feito sem exageros ou discursos de “haters”. Há apenas humor bem aplicado às cenas e à trama em si.

P.S.: o humor com a sobrancelha e o olhar do Dwayne é diversão garantida.

O vilão e a maldição.

Bobby Cannavalle faz o vilão Van Pelt, um homem que ganha poderes graças a uma pedra roubada. Esse roubo é o responsável por desestruturar todo o universo de Jumanji e também dar início à maldição que traz novos personagens para esse mundo estranho.

O vilão não é um cara maligno capaz de assustar o espectador. Na verdade, Van Pelt se encaixa no perfil de vilão de jogos antigos, onde ele existia para motivar o jogador a chegar ao fim do game. Seu poder não é grande o suficiente para sobrepor os atributos combinados dos quatro jogadores, porém isso não incomoda. Afinal, Jumanji é um filme que brinca a todo momento com os estereótipos que os próprios videogames criaram.

Interligação com o primeiro Jumanji (Cuidado! Pequenos spoilers).

Alguns pontos são óbvios até para quem assistiu ao primeiro filme de 1995. O personagem de Robin Williams (Alan Parrish) tem uma parte de sua vida na selva revelada, ainda que não seja algo tão pertinente à trama. Vale como homenagem.

As origens do jogo ainda são um mistério. O que é mostrado, contudo, dá a entender que o jogo é muito mais poderoso e maligno do que se pode imaginar. O novo filme leva o espectador a crer que isso não irá parar tão fácil, o que pode render uma outra continuação. Quanto a isto, peço que o bom senso fale mais alto e nada a mais seja produzido. As duas obras (1995 e 2017) são complementares, cada uma tem seu mérito, mas não há mais espaço para sequências. Um prequel, talvez, seja uma boa ideia para uma animação ou minissérie. Quem sabe?

P.S.: o estouro de rinocerontes é uma clara alusão ao filme original. Genial!

Não lembram de onde os viram antes? Eu ajudo a lembrar…

Dwayne Johnson é presença garantida em muitos filmes recentes, entre eles a animação Moana, onde faz a voz de Maui. Karen Gillan é a Nebula de Guardiões da Galáxia. Kevin Hart está no recente Um Espião e Meio. Jack Black tem mais de 40 filmes e, entre eles, temos Goosebumps e o clássico Escola de Rock. Nick Jonas é ator e um dos cantores do grupo Jonas Brothers. Alex Wolff aparece como coadjuvante em Meu amigo Dahmer. Morgan Turner está em Sem Fôlego, de 2017. Ser’Darius Blain atua em Quando o jogo está alto. Bobby Cannavale é o padrasto da filha de Scott Lang em Homem Formiga. Madison Iseman participa de Contos de Halloween.

Concluindo…

Jumanji: Bem vindo à selva é um filme muito bom, divertido e com um roteiro enxuto que sabe usar do humor para divertir o público e ainda bagunçar com alguns estereótipos e cenas manjadas de filmes e games.

O respeito ao filme original é visível e é possível sentir a ausência do divertidíssimo Robin Williams em cena. Quanto a isso, o humor bem dosado da nova produção mostra que os roteiristas e o diretor fizeram a lição de casa e souberam seguir o tom do longa original. As atuações de Dwayne, Karen, Kevin e Jack são muito boas e mostram uma interação indispensável não só para o bom andamento do filme, como também para que a sensação de um game onde a cooperação entre os jogadores seja necessária pareça convincente.

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