Iza apresenta Afrodhit Tour em Porto Alegre
Imitando aquelas chamadas dos anos 1990, onde cantoras de tais lugares eram chamadas furacões, como Alanis Morissette, o canadense, e Shakira, o colombiano, Porto Alegre presenciou no Araújo Vianna a chegada do furacão de Olaria, falo de Isabela Cristina Correa de Lima Lima, ou simplesmente Iza. Com uma curta carreira, mas recheada de hits contagiantes, a cantora carioca aterrissou aqui em mais um show de sua Afrodhit Tour, no sábado passado, e o NoSet esteve lá conferindo esse grandioso espetáculo.
Com um ótimo público, mas com alguns vazios pela nave sonora do Araújo, por volta das 21h30min surge a banda da cantora no palco. Com bateria, teclados, samplers, guitarra, um trio de naipes e backing vocals afiados, a cantora surge toda de preto em uma elevação do palco, no topo, com um telão ao fundo e junto aos dançarinos, abaixo dela, começa o show com Nunca Mais, primeira canção do seu último disco, Afrodhit, lançado em agosto. Não preciso nem falar que mal a cantora subiu ao palco, a plateia já estava de pé hipnotizada pela artista. Que Se Vá, do mesmo disco, segue o baile, com agora Iza largando e pegando o microfone e desfilando sua sensualidade e potente voz dança, canta, faz caras e bocas, tem o cabelo esvoaçado por ventiladores e encanta a galera. Quase sem parar ataca de Gueto, grande single afrobeat de 2021, ensandecendo a plateia e ligando a canção à divertida Mega da Virada. Um começo arrasador, mostrando a força da cantora.
Usando e abusando do novo disco, segue com Fé Nas Malucas e Terê, e para um disco recém-lançado, as músicas são surpreendentemente cantadas pela massa. Iza esbanja simpatia, manda uma guriazinha fã, aos prantos de emoção, subir no palco, onde ela abraça e tira fotos. Iza então segue com Sem Filtro, em mais um show vocal da artista. Mas é hora de falar do show da Iza. Uma apresentação visual com um show de dançarinos dançando livremente os movimentos das ruas, bailarinos e bailarinas em um balé visceral, servindo a cantora que não pára um instante, acompanhada de uma banda excelente e com batidas eletrônicas pulsantes e intensas. Sobre a cantora, fica difícil definir o estilo dela. Seria simplista dizer que é cantora de funk urban, ela vai desde o gospel (tem formação vocal em igrejas) ao rhythm and blues, groove, pop grudento, reggae, batidão, enfim, uma miscelânea musical agradabilíssima aos ouvidos. E nessa tour exalta a africanidade com um palco tomado tanto por músicos quanto dançarinos pretos, em um figurino de destaque, em um empoderamento de atitude visual e sonoro marcantes.
Continua o show com Fiu Fiu, do seu mais recente trabalho, e com Droga, single de 2022. Em diversos momentos, a cantora pede interação da plateia, exalta a energia da cidade e o quanto está feliz de fazer show no Araújo, uma prova de sintonia entre artista e fãs. E como sempre falo, artista popular tem fãs, vai ao show para cantar, dançar, filmar, ser feliz, ao contrário de muitas pessoas que às vezes vão ver artistas que nem dão boa noite pra galera, enfim… seguem os sucessos Bomzão, Mó Paz. Mas com Meu Talismã, a cantora mostra mais uma vez suas raízes rhythm and blues, soltando a belíssima voz, aliada a uma poderosa performance. Sintoniza, mais uma ótima canção do Afrodhit segue o set, por sinal um show que devido a intensidade da performance, quase não pára, a plateia não senta e a artista, com raros momentos, entre um deles, que deixa o seu trio afinado de backing vocals fazer um medley de sucessos internacionais, sempre está presente, com uma energia vigorosa, quase ligada a um 220W de extrema potência performática.
Em Fé, single de sucesso da artista, ela tem uma atuação espiritual, tal qual uma pregadora, cercada pelos dançarinos, com uma letra de motivação, perseverança e muita luta em um mais um grande momento do show. Outro mérito, entre tantos da artista, é que ela é compositora, usa o cotidiano, rua, negritude, amores, feminismo e independência das mulheres como temática de suas canções. Elementos presentes em um dos seus maiores sucessos Dona de Mim, de 2018, fazendo do Araújo Vianna um salão de festas regado de alegria. O que segue no show são mais três de seus grandes sucessos, Pesadão, que pode ser considerado o início do sucesso nacional da cantora, com sua miscelânea de ritmos, o reggae Brisa, trilha de novela e uma das mais cantadas pela massa, e encerra o show com Ginga, com a deliciosa mistura de batida afro e vocais a la R&B. Ao sair de cena, os dançarinos e a banda ainda fazem um show à parte, com uma coreografia de dança das ruas, contagiando a plateia que pedia um bis que não veio.
Passado o furacão, fiquei impressionado com a força da cantora, que usa sua sensualidade e coreografias intensas, abusando da imagem de uma mulher poderosa, mas muito mais que isso, uma cantora brilhante, com uma voz que pode ser considerada uma das melhores do gênero no país, com canções simples e diretas, mas com letras profundas e reais, um emaranhado de ritmos, tudo junto e misturado, em uma sonoridade contagiante, além de uma simpatia que faz mesmo quem não tinha tanto conhecimento da sua curta, mas brilhante carreira, se render ao encantos da imperatriz do pop brazuca. Uma experiência e tanta, mostrando a força da música brasileira e o quanto o palco hoje é mais que apenas um show e sim um espetáculo e isso a Iza sabe fazer bem até demais.
Crédito das fotos: Vívian Carravetta