Involução humana: Homo Corcundus
Estudando a evolução do ser humano através dos tempos, percebemos que ele mudou de uma posição quase animalesca, para uma forma bem mais ereta. O homem, que antes era praticamente um parceiro e andava ao lado de animais e até abaixo de vários deles, foi desenvolvendo seu cérebro, seu corpo. Passou a caçar, a tecer. Descobriu o fogo. De nômade passou a fixar moradia num local quando desenvolveu a agricultura. Não era mais um parasita. Aprendeu a cultivar a terra e a cercar seus animais para alimentação e transporte.
Fixando moradia, ele precisou descobrir maneiras de proteger seu patrimônio. A terra onde estava agora era dele. Pois o que estava nela tinha sido plantado por ele, construído por ele, caçado por ele. Essa pequena comunidade começou a ser ameaçada por outras que queriam tomar tudo aquilo que eles suaram pra conseguir (parece até alguns movimentos que conhecemos hoje?). Então criaram suas armas de guerra. Precisaram lutar agora não apenas para ter o que comer, mas para proteger sua propriedade.
E cada comunidade foi constituindo regras de boa convivência e para sua proteção. A sociedade foi se organizando. E não apenas os nômades e bárbaros queriam tomar os pertences dos outros, como também uma comunidade queria englobar a outra e submetê-la ao seu domínio. Quem tinha mais terra, mais escravos, mais posses, era o Poderoso Chefão da época.
Com isso veio de maneira mais intensa estudos para desenvolver uma tecnologia que permitisse proteger, atacar e desenvolver estratégias mais eficazes para ser o chefão. Os mais perspicazes começaram a criar novas armas e planos de ataque e defesa. Os mais fortes eram treinados para usar essas armas. E as mulheres? Bom, nem preciso dizer o que era feito delas.
E vieram grandes guerras. Fome. E doenças. E como as doenças estavam dizimando grande parte da população, foi necessário realizar mais pesquisas para descobrir maneiras de curar esses males. Mas os males precisavam ser curados e evitados. Perceberam então que muitas das doenças eram causadas por causa da falta de higiene. E começaram a entender a necessidade da limpeza e da prevenção.
Com isso tudo, as guerras foram diminuindo em grande parte do mundo pois se desenvolveu a retórica e a lógica. Os grandes Chefes de Estado passaram a dialogar antes de atacar. Claro que houveram alguns escapes que mataram muita gente… Enfim, nesses “escapes” novas tecnologias se desenvolveram. Pois quem detivesse a melhor tecnologia, detinha também o poder. Porém, algumas pessoas perceberam que essas tecnologias de guerra também poderiam ser utilizadas para melhorar a vida da população. Armazenagem mais eficaz de comida, meios de comunicação, transporte.
Poderíamos conversar com um parente do outro lado da cidade. Ou de outra cidade. Ou de outro país! Que maravilha! As notícias que antes demoravam dias, meses, chegavam muito mais rápido aos jornais. Ficamos mais informados e conhecendo o mundo. A televisão, as imagens de outros locais. O rádio. E depois os celulares. Que ótimo poder conversar sem estar em casa.
Mas isso era pouco ainda. Havia uma tecnologia de guerra não explorada: a internet. Essa veio para modificar de vez o estilo de vida das pessoas. Computadores pessoais, notebooks, tablets e…o “smartphone”. E com ele uma nova etapa da evolução humana se iniciou: de “Homo Erectus” a “Homo Corcundus”. O Homo Corcundus ou HC como vou chamar agora, passa o dia conectado. Pescoço olhando para baixo. Para o pé? Não, para o celular. Ele agora pode ver o mundo todo, conversar com várias pessoas e saber das notícias em tempo real. E ele não perde um lance, uma oportunidade de fazer uma foto ou um vídeo, e mandar imediatamente para sua Rede Social.
O Homo Corcundus está a cada dia mais fixado na tela. Foi tão engraçado ver a filmagem de um casamento esses dias! A noiva entrando e a igreja toda olhando para ela pela tela do celular, que filmava ou tirava fotos. Poucas pessoas olhavam para ela e retribuíam seu sorriso. Poucas pessoas viviam o momento com ela e o noivo, seus amigos. O HC passou a viver como no Mito da Caverna de Platão. Ele vê o mundo pelas sombras nas paredes da caverna, ao invés de sair e observar como a vida é muito mais bonita em alta definição. E a cada dia sua coluna entorta mais, pois ele está enxergando menos e escutando também. Precisa chegar bem pertinho da tela do seu “projetor de vida”.
O homem partiu de si, se abriu para o outro e agora volta para sua concha, seu casulo. Quem sou eu para falar de internet, de TV? Também estou participando dessa evolução. Mas percebo que ela é bem dolorosa. E que está na hora de tentar reverter. Vamos voltar a olhar frente a frente. Usar com sabedoria a tecnologia. Fazer dela um instrumento de uma evolução para cima.