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Análise Fílmica: Intocáveis (2011)

Análise Fílmica: Intocáveis (2011)
  • Publishedjaneiro 26, 2016

ATENÇÃO: Para uma melhor experiência reflexiva veja o filme antes de ler o texto.

A ética do cuidado diz respeito à moral estabelecida a partir de relacionamentos pessoais. Os relacionamentos são, neste sentido, a fonte de autoridade da moral. As obrigações morais são assim determinadas pela vulnerabilidade humana. Isto é, pela vulnerabilidade do ente querido. Ademais, não se considera esta categoria ética como sendo uma das mais exigentes. Pelo contrário, ela é parcial, pois busca preservar a rede de relacionamentos pessoais, atendendo às necessidades e mantendo a confiança das pessoas mais próximas.

No filme Intocáveis, o personagem Driss (Omar Sy) tem um modo singular de agir. Ele cuida de Phillipe (François Cluzet) de um jeito muito diferente. Não que as pessoas agissem errado na forma como zelavam pela saúde e o bem-estar de Phillipe. Porém, quando alguém se encontra em situação de vulnerabilidade imutável (como é o caso da tetraplegia), não se busca apenas compaixão, mas reconhecimento. Muitos sentem pena do tetraplégico e, ao longo do tempo, Phillipe começa a sentir repulsa dessas pessoas. Quem está em situação de vulnerabilidade, tendo chances de se recuperar ou não, busca, acima de tudo, ser tratado como um igual.

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Mais do que um cuidador, Phillipe buscava um amigo. Alguém que não o fitasse com um olhar de ternura, mas que o animasse e soubesse mostrar um aspecto distinto da vida. Independente de regras ou padrões, o princípio do zelo, pressupõe uma compreensão do sentimento alheio. Todos, ao olharem para Phillipe enxergavam sua vulnerabilidade. Entretanto, ninguém enxergava o homem por trás daquele estereótipo. Que ainda tinha vontade de amar e aproveitar, ao máximo, o pouco que a sua condição ainda lhe permitia. E foi o que Driss deu a ele. Dando prioridade ao relacionamento e às responsabilidades dentro desse relacionamento, e não às regras.

“Cuidado, empatia, sentimentos pelos outros, ser sensível aos sentimentos uns dos outros, tudo isso pode ser um melhor guia para o que a moralidade exige, dentro do contexto atual, do que regras abstratas da razão ou cálculos racionais”. (Virgina Held)

Agindo de acordo com outro modelo ético, Driss, seria mais calculista, aplicando a regra ao caso. Algo que a ética do cuidado, por vezes, ignora. Algumas das regras morais, segundo a ética do cuidado, seriam a atenção, a responsabilidade, a competência e a sensibilidade. Agir eticamente então, de acordo com esse modelo, é estar ciente da necessidade dos outros e ter disposição para atendê-las. Mas para isso é preciso ter habilidade para zelar de forma competente e, claro, reconhecer, a fim de evitar, os abusos do cuidado.

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A ética do cuidado se configura como a mais feminina das éticas. Isso se deve ao fato e as mulheres serem biologicamente aptas a gerar vida e socialmente condicionadas a preservá-la. No âmbito biológico, observa-se que uma mulher só pode gerar vida a cada nove meses. Um processo demasiado desgastante para a progenitora. Já no âmbito do social, as mulheres buscam preservar a integridade do lar e da família. Por consequência, desenvolvem valores relacionados ao cuidado como a sensibilidade, a empatia e a compaixão. Mesmo assim, podemos dizer que Phillipe queria um pouco menos de feminilidade dentro do relacionamento com seu cuidador. Ele buscava muito mais quebrar regras e fazer aquilo que lhe traria realização pessoal do que apenas preservar sua integridade física.

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Nome original: Intouchables

Direção: Olivier Nakache e Éric Toledano

País de origem: França

Informações adicionais: Intocáveis é um filme francês baseado no livro autobiográfico Le Second Souffle de autoria de Philippe Pozzo di Borgo. O dinheiro arrecadado com a venda dos direitos de autor da adaptação do livro ao cinema (cerca de 650 mil dólares) foi doado a uma associação de ajuda a deficientes físicos. Intocáveis é o filme francês mais rentável da história (com uma taxa de rentabilidade de 602%). A obra é, também, a terceira maior bilheteria da história da França.

Premiações: Grande Prêmio Sakura e melhor ator para François Cluzet e Omar Sy, no Festival Internacional de Cinema de Tóquio, no Japão em 2011. Melhor ator para Omar Sy no Prix Lumières da França, em 2012. Melhor filme e melhor ator para Omar Sy no Globos de Cristal da França, em 2012. Melhor ator para Omar Sy no César da França, em 2012. Ainda em 2012, o filme fora indicado para o César de melhor filme, melhor realizador, melhor argumento original, melhor ator para François Cluzet, melhor atriz secundária para Anne Le Ny, melhor fotografia, melhor montagem e melhor som.

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