Inis na Amplóra – “A Lista de Convidados”

O suspense de investigar um assassinato à lá Agatha Christie e Sir Arthur Doyle, mas sem saber exatamente quem é a vítima e conhecendo os pensamentos mais íntimos de personagens essenciais da estória.

Esse é um bom resumo de “A Lista de Convidados”, novo livro da autora inglesa Lucy Foley, famosa por “A Última Festa”, publicado pela editora Intrinseca, com tradução de maria Carmelita Dias, mas não traduz a emoção de cada página, minuciosamente escrito para prender a atenção do leitor até a última palavra.

Já ouviram falar em Destination Wedding? Esse termo não é usado no livro, mas é basicamente o que acontece!

Jules e Will formam o casal do momento, ela é editora de uma importante revista online, conhecida por ter construído o próprio caminho (e, por isso, ser intimidadora), ele é a estrela de um programa de sobrevivência, dono de uma personalidade enigmática, conhecedor de seu próprio charme e privilégios.

Eles não estão juntos há muito tempo, mas se decidem se casar. O local precisa ser imponente como eles, algo excêntrico, exclusivo e inovador: Inis na Amplóra. Inis na Amplóra é o nome original, em gaélico, para a Ilha Cormorant, um lugar considerado mal-assombrado pelo seu passado, seu clima e sua paisagem. Há quem diga que o pântano que rodeia a ilha engoliu muitos corpos e, depois que a população foi embora para viver no continente, as almas continuam a lamentar por lá.

Ah, para chegar lá só de barco, enfrentando a maré, que pode ser bem violenta às vezes. Parece ser um péssimo lugar para um casamento, mas Aoife, cerimonialista, e Freddy, especialista em comida (não é chef, mas chega perto), conseguiram reconstruir a propriedade que cobre boa parte da ilha, transformando em uma hospedagem e local de festas. O final de semana do casamento de Jules e Will pode resgatar os fantasmas da ilha ou a ilha pode reavivar os fantasmas que rodeiam suas vidas e de seus convidados.

Do lado de Jules tem a mãe, a irmã e o pai (com a madrasta). Jules nem sempre foi a figura que é hoje, enfrentou muitas inseguranças com seu corpo e sente necessidade de sempre reafirmar suas capacidades. Isso se explica pela relação conturbada com os pais, separados desde cedo, e com o amor misturado com inveja que sente da irmã mais nova, Olivia (que recebeu um tratamento bem mais carinhoso da mãe). Ela só tem uma pessoa que confiar inteiramente, até mais que Will, Charlie. Ele é o melhor amigo de Jules, amizade construída na base de uma paixonite de adolescente. É Charlie que será seu padrinho e mestre de cerimônias da festa, ele vai acompanhado de sua esposa, Hannah, que tem a desconfiança que a tal paixão não ficou na adolescência e não é platônica.

Do lado de Will tem seus padrinhos encrenqueiros e seus pais. O pai de Will é o diretor de uma escola interna só para meninos, a qual ele mesmo frequentou e onde conheceu os amigos que serão seus padrinhos, todos com memórias das loucuras cometidas na época. Johnno, Pete, Duncan, Femi e Argus são os nomes dos encrenqueiros.

A narrativa começa com a festa, depois de uma queda de energia e um possível corpo encontrado na praia, depois vão sendo mostradas os “flashbacks” de alguns desses personagens: Hannah, Jules, Johnno, Aoife, Olivia e Will. Esses momentos mostram diferentes histórias que culminam nesse final de semana.

Diferente de Poirot e Holmes, nessa estória o leitor sabe que tem um corpo (um assassinato), mas não sabe quem é, quem poderia ter matado, quais motivos nem sequer qual arma foi usada. A dedução acontece por meio dessas estórias contadas por esses personagens, que acabam se entrelaçando.

São três principais estórias: o estado de espírito (depressivo) de Olivia; a menção da morte de Alice, a irmã de Hannah; algo estranho que aconteceu no colégio interno, que foi encoberto por Johnno e Will. Tem outras que parecem ser secundárias, mas podem ligar os pontos e ajudar na dedução.

A forma como tudo isso vai se ligando, como tudo vai sendo descrito, às vezes fugindo de clichês, outras se encaixando perfeitamente no gênero, é surpreendente. Sem querer ser repetitiva, mas já sendo, a leitura prende atenção até a última palavra e ainda deixa aquela curiosidade para saber o que pode ter acontecido depois.

Sobre a ilha irlandesa, Inis na Amplóra ou Ilha Cormorant, pesquisei para saber se as lendas só existem no livro ou se é algo “real”. Realmente existe uma ilha chamada Cormorant na Irlanda, mas não é na mesma localização nem tem a mesma fama, é um local de observação de aves.

Contudo, a Irlanda é um país conhecido por suas lendas e locais ditos mal-assombrados, provavelmente as lendas criadas no livro tiveram como base algumas dessas lendas irlandesas.

Até mais!

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