Ingresso para o Paraíso

Fico admirado que em pleno 2022 existem ainda alguns filmes sendo lançados com fórmulas, roteiros, piadas e situações que parece que já vimos dezenas, centenas e milhares de vezes em outros filmes. Aquela sensação de déjà-vu onde, para quem já viu esses filmes, praticamente adivinha como será a próxima cena ou como acabará o filme. E Ol Parker junta George Clooney e Julia Roberts em um filme mais do mesmo, Ingresso para o Paraíso (Ticket to Paradise), estreia dessa semana nos cinemas.

Lily está se formando em Direito. Para a formatura convida seus divorciados pais, Georgia e David, que tiveram um casamento breve e hoje praticamente não se suportam. Alegam que se casaram por impulso quando eram jovens e, tirando a filha, tudo deu errado. Lily, depois da formatura, parte para umas férias em Bali com sua melhor amiga Wren, a fim de relaxar antes de seguir na carreira de advogada. Mas lá ela conhece Maxime, um nativo cultivador de algas com uma família gigantesca, se apaixona, pretende largar tudo para casar com ele e morar no paraíso que é Bali. Georgia e David ficam apavorados com a situação e vão para lá a fim de tentar convencer do erro da filha e sabotar de todas as maneiras o enlace do jovem casal.

Clichê é a palavra-chave para tudo em Ingresso para o Paraíso. Ol Parker também assina o roteiro com David Daniel Pipski. Roteiro que usa todas as artimanhas e situações das comédias românticas de sempre. Temos o casal que se ama e se odeia, o jovem casal que está loucamente apaixonado, cenários naturais belíssimos, um choque de culturas, piadas repetidas, situações que eram para ser cômicas, só que não funcionam, enfim, é mais um filme descartável, que diverte sim em alguns momentos, mas que vai ficar esquecido na sessão da tarde, ou melhor, nos catálogos de streaming por aí. Logicamente que temos o charme da dupla George Clooney e Julia Roberts como diferencial, só a presença dos dois e o timming e eficiência da dupla até valem o ingresso, ao menos para relaxar, mas é nítido que mesmo eles não estão na melhor forma. Clooney força muito com poucos momentos de humor e várias piadas sem graça e Julia Roberts até parece se esforçar mais, mas também provoca poucas risadas.

Kaitlyn Dever é a filha Lily, que até se esforça, mas não agrada no papel, e Maxime Bouttier, como Gede, o nativo cultivador de algas, parece que está trabalhando no piloto automático, com zero carisma, aliás, nem a química do casal funciona, são apenas um casalzinho bem sem graça. Billie Lourd, como a melhor amiga de Lily, Wren, talvez é a que mais se destaque no filme, fazendo aquele papel que temos em todos os filmes do gênero, mas ao menos ela provoca algumas risadas e autenticidade.

O visual do filme é belíssimo, com locações em paradisíacas regiões da Austrália, muito bem fotografado e ao menos temos agradáveis imagens, contrastando com os aborrecidos clichês que as quase duas horas de filme nos apresenta. Realmente, como falo, é preciso muita coragem pra fazer filmes assim, assinar com astros famosos do cinema e filmar uma história tão inofensiva que lembra muitas produções descartáveis da Netflix. É claro que deve ter muita gente que vai gostar, se encantar com a história de amor e se divertir, como disse antes, é um filme para ir com a cabeça esvaziada e saber que está vendo o que já se viu mil vezes e apenas relaxar.

Enfim, Ingresso para o Paraíso é aquele filme com cara de anos 1990, com romance e comédia (ao menos tenta), com situações levemente engraçadas, com um casal carismático e cancheiro de atores que já trabalharam diversas vezes juntos, com cenários esplendorosos, um roteiro pra lá de simplório e, repetindo mais uma vez, extremamente clichê, que pode agradar alguns menos exigentes e fãs de Clooney e Roberts. Ah, as cenas dos créditos com os erros de gravação talvez é a parte mais divertida do filme, vale a pena esperar e ficar até o fim…

 

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