Homenagem à Rita Lee, com Beto Lee e Fernanda Abreu em Porto Alegre

Sexta passada foi uma noite histórica. Araújo Vianna presenciou uma bela e digna homenagem à rainha do rock brasileiro, Rita Lee, sob a batuta do seu filho Beto, com uma banda que acompanhou a cantora em diversas fases da vida e ainda com a participação ilustríssima de Fernanda Abreu. E por que não histórica? Pois nós, do NoSet, completamos 40 noites de cobertura no Araújo Vianna. Desde que as máscaras caíram, no  pós-pandemia, a Vívian Carravetta e eu, em 18 meses, tivemos o privilégio de acompanhar 40 shows de diversos artistas, num ecletismo musical que só nos engrandece, enfim, rumo aos 50.

Voltando ao show em si, com um público bom, mas longe de lotar a casa, por volta das 21h 15min, surge no telão um vídeo antigo de Rita com Beto Lee criança, onde o guitarrista diz que a mãe é a melhor roqueira do Brasil, o que é a deixa da super banda formada por Beto Lee e Rogério Salmeron nas guitarras, Danilo Santana nos teclados, o lendário Lee Marcucci no baixo, subirem ao palco. Com telões com imagens da rainha Rita Lee, surge então Débora Reis, que por muito tempo foi backing da banda e nesse show assume os vocais brilhantemente, começando com Nem Luxo Nem Lixo. Segue com Flagra, outro sucesso radiofônico da cantora e na terceira canção, a também sucesso, Saúde, entra ao palco Fernanda Abreu, aniversariante do dia, com uma linda camisa com a imagem da homenageada. Nesse momento ninguém mais sentou no show. Fernanda cumpre bem a missão e ataca com Ovelha Negra, clássico supremo da cantora e com direito a interpretação do solo histórico de Luiz Carlini por Rogério Salmeron, emocionando a plateia. Plateia que a cada fim de música ecoava um Rita Rita Rita, arrepiando  o tímido e talentoso Beto Lee.

Chega a vez da homenagem aos Mutantes, lembrado por Beto que foi talvez a primeira banda de punk brasileira, onde os músicos mesmo faziam seus instrumentos, num do yourself de equipamentos. Débora assume os vocais de novo e faz duas lindas interpretações de Panis et Circenses e Ando Meio Desligado, dois clássicos da lendária banda paulista. Mania de Você e Doce Vampiro, canções onde o lado romântico da Rita e seu amor transcendental por Roberto foram imortalizados em canção, segue o show, em mais duas incríveis atuações de Débora Reis. Mérito da cantora que usa e abusa da teatralidade (bagagem de sua herança artística) e canta Rita a seu jeito, visceral, performático, dando sua aura pessoal às músicas, mas sem desfigurar as canções que todos querem ouvir. Uma gigante vocalista à altura dessa linda noite de celebração.

Fernanda Abreu volta ao palco para cantar Mamãe Natureza, que é seguida por Jardins da Babilônia, em que lembram que Lee Marcucci, baixista da era Tutti Frutti de Rita Lee, nos anos 1970, foi coautor. A presença de Lee é hipnótica, um dos maiores baixistas do Brasil, com carreira também na seminal Rádio Táxi. Mas voltando aos jardins, Fernanda representa bem numa pulsante versão. Segue mais uma versão arrepiante de Balada do Louco, dos Mutantes, em mais uma tocante interpretação de Débora Reis. Segue Coisas da Vida, canção de 1976 de Rita, que foi revisitada no acústico de 1997 e segundo Beto foi graças à insistência do pai Roberto que foi incluída, meio contrariando Rita. Em mais um golaço do show a super banda faz uma linda interpretação permeada por lindas imagens no telão. Telão que a cada música nos premiava com imagens da diva Rita, nos emocionando e dando a benção ao espetáculo.

Todas as Mulheres do Mundo, de 1993, faz o Araújo delirar com a homenagem que Rita faz às guerreiras mulheres desse país, mas hoje trocaria os versos para que todas as mulheres, homens e seres humanos querem, além de ser Leila Diniz, ser Rita Lee. Segue a pegada rock com On The Rocks, de 1983, e em seguida Beto Lee comenta sua estima por bandas de rock do Rio Grande do Sul, como Cachorro Grande e TNT e emendam o rockaço Orra Meu, aquele que fala que todo roqueiro brasierio tinha cara de bandido, isso em 1980, dois anos antes de os roqueiros com cara de jovem e cheios de vida mudarem a música pop do Brasil.

Banheira de Espuma e Chega Mais foi a homenagem à era Lincoln Olivetti, festiva, quase disco meio circense, era de uma Rita que vendia discos como água e era a cantora mais popular do Brasil. Com Esse Tal de Roque Enrow, essa dos 1970, a banda mostra toda a sua pegada roqueira, com destaque ao baterista Edu Salvetti, esmerilhando os tambores com uma técnica e precisão incríveis. Agora Só Falta Você, sucesso dos anos 1970, mas que fez uma geração conhecer e amar Rita nos anos 90 e 2000, também é um show da banda, com Beto mostrando que é um exímio guitarrista, com timbres bem especiais e únicos e sua dobradinha com Salmeron é das mais afiadas do rock brasileiro. Detalhe negativo do show é que o tempo foi curto, pouco menos de duas horas, e Beto, depois de exaltar a loucura que é um Grenal em Porto Alegre, canta Papai Me Empresta o Carro, mais um dos inúmeros sucessos da mãe, como disse a cantora Débora, a dona da porra toda!

Depois de apresentações da banda, Fernanda Abreu é chamada, ganha parabéns da galera, com direito a bolo com 4 velinhas no palco, e pra encerrar a ceLeebração, o exímio tecladista Danilo Santana chama na introdução indefectível de Lança Perfume, com Fernanda dividindo com Débora os vocais com auditório de pé, dançando e cantando, fechando com talento um super show de rock, pop, curto, grosso e direito, com exímios músicos, com conhecimento de causa e um filho apaixonado por sua mãe e que mostrou que aprendeu tudo bem direitinho, tanto com ela, quanto com seu pai, Roberto de Carvalho.

Uma noite mágica, arrepiante e histórica para nós do NoSet, que aprendemos a cada cobertura, que a música salva e se depender dessas 40 noites, fomos salvos a cada uma dessas noites, com tão diferentes artistas, com shows uns melhores, outros digamos assim piores, alguns perrengues, uns lotados, outros calmos e vazios, mas sempre com a certeza de que cada um tem uma história diferente e única e através de nossos textos e imagens procuramos imortalizar esses momentos e contar um pouco da história da música brasileira (e internacional) a cada uma dessas coberturas. E nada com Santa Rita Lee de Sampa para abençoar essa marca, e com um show desses como o de sexta, o NoSet só agradece por viver, escrever e ilustrar essas história sob nossos olhos.

 

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

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