Homem-Formiga – 2015
Armado com a incrível habilidade de encolher em escala mas crescer sua força, o ladrão Scott Lang deve abraçar o seu herói interior e ajudar seu mentor, Dr. Hank Pym, a proteger o segredo por trás de seu espetacular uniforme de Homem-Formiga de uma nova geração de ameaças que aumentam gradativamente. Contra obstáculos aparentemente insuperáveis, Pym e Lang devem planejar e executar um assalto que salvará o mundo.
Homem-Formiga é o segundo filme da Marvel Estúdios em 2015, chegando aos cinemas alguns meses depois de “Vingadores: Era de Ultron”. Uma decisão acertada, pois carrega uma menor pressão do grande público e menos obrigação de atender todas as expectativas e anseios dos fãs, como ocorreu em um nível acima do normal com o filme dos Vingadores. Essa alta expectativa muitas vezes gera opiniões contrárias e frustrações, fazendo com que, mesmo que o filme seja bom, será cercado de críticas e comparações. Outro fato é que, com o sucesso dos filmes e personagens do estúdio adquiridos de 2008 pra cá, hoje basta apenas o nome MARVEL para despertar a curiosidade em assistirem os filmes de seus heróis, fazendo com que o estúdio se sinta confortável em apresentar novos personagens, mesmo desconhecidos de grande parte do público não-nerd.
O diretor Peyton Reed e equipe puderam, assim, trabalhar tranquilos e entregar um longa despretensioso, com bastante humor e bons efeitos visuais. Aqui temos mais um filme típico de origem. Temos a motivação do personagem em virar o herói, as questões familiares envolvidas em suas decisões, o seu surgimento, o aprendizado de seus poderes e suas responsabilidades, como de praxe em filmes de origem. Uma coisa boa é não terem investido em dramas psicológicos, romances desnecessários e histórias secundárias paralelas. Ainda faltou, na minha opinião, conseguir equilibrar um pouco mais a equação humor-ação no filme. Parece que a preocupação em fazer um filme “leve e solto” foi tão grande, graças ao sucesso de “Guardiões da Galáxia”, que a todo momento quiseram inserir uma piada, um comentário irônico, engraçadinho ou uma situação cômica. Algumas funcionam bem, outras nem tanto. Como sempre, os trailers entregaram ótimas cenas, que funcionariam melhor se a gente não tivesse visto antes… Mas o filme vale um “joinha” da MARVEL.
Para quem gosta de referências, é bom assistir o filme pelo menos duas vezes: uma só para acompanhar a história e outra com olhar de detetive tentando identificar todos os “easter-eggs” inseridos na casa de Pym, no laboratório, nas manchetes de jornal, nas conversas etc. Não custa lembrar que o filme tem DUAS cenas pós-créditos, e que vale a pena ficar para conferir, já que provavelmente terão ligação mais que direta com Capitão América: Guerra Civil e com o destino de alguns personagens.
Sobre o elenco, outra boa decisão. Tão improvável e legal quanto Chris Pratt fez como Star Lord em “Guardiões”, Paul Rudd conseguiu ser como Scott Lang. O ator, acostumado com comédias românticas, está confortável no papel de herói e ficou muito bem no traje. Michael Douglas também está bem como um Hank Pym já aposentado, com destaque para a CGI nas cenas de época. Quem se lembra do ator em filmes dos anos 80/90 como “Um dia de fúria” ou “Instinto Selvagem” vai se surpreender com o que conseguiram fazer. Corey Stoll no papel de Darren Cross poderia ter sido mais explorado no traje ou com uma motivação um pouquinho melhor. O núcleo cômico é liderado pelo ótimo Michael Peña interpretando Luiz. Quando ele começar a falar rápido um “ligue os pontos dublado”, prestem atenção redobrada para não se perder. E fiquemos de olho em Evangeline Lilly como Hope Van Dyne…
Finalizando, é um filme correto, que cumpre o (que nem tinha) prometido, longe de ser chato como Homem de Ferro 3 ou de ser épico como Vingadores 1, ficando na média dos bons filmes da Marvel, e mostra que existe um potencial para expandir as possibilidades e habilidades do personagem dentro dos filmes da franquia e nos trazer boas surpresas. O personagem entrará em ação em Capitão América: Guerra Civil, muito provavelmente com direito a uma cena clássica junto com o Gavião Arqueiro, e algumas pessoas apostam que Lang poderá alterar sua estrutura “para cima”, e aparecer como Gigante (ou Golias). Agora é aguardar Doutor Estranho, Pantera Negra, Miss Marvel, Homem Aranha, Inumanos, o restante da equipe d’Os Defensores, além dos atuais membros (os que permanecerem vivos e atuantes até lá) e conferir o que toda esta equipe fará nos cinemas em Vingadores: Guerra Infinita 1 e 2. Continue com seu vale-ingresso – ele será necessário pelo menos até 2020.
Estas são minhas considerações para o longa. A seguir, alguns questionamentos filosóficos sobre a demora na inclusão do herói nos cinemas.
Muitos se perguntam (e me perguntam) por que só agora o Homem-Formiga foi para os cinemas, já que ele é um membro fundador dos Vingadores nos quadrinhos. Contextualizando: Henry “Hank” Pym é o primeiro Homem-Formiga, inventor das partículas Pym, que lhe dá o poder de controlar sua força e altura, podendo ficar pequeno como uma formiga ou grande como um gigante, além de criar um dispositivo que permite se comunicar com as formigas. Pym foi integrante dos Vingadores e também já usou os codinomes de Gigante, Golias e Jaqueta Amarela. Atualmente o herói usa o codinome “Vespa” em homenagem à sua ex-mulher Janet Van Dyne. O codinome Homem-Formiga passou a ser usado por Scott Lange. O filme traz um pouco dessa origem, com modificações necessárias para se encaixar na linha do tempo criada para os cinemas. De minha parte, só posso responder a esta pergunta com suposições, e nesse caso eu tenho algumas.
Em primeiro lugar: a MCU (traduzindo, Universo Cinematográfico da Marvel) não precisa necessariamente seguir a mesma história dos quadrinhos, sendo um universo próprio. Mesmo porque as HQ’s vez por outra sofrem reboots, reinventam fatos e histórias, criam mundos paralelos, formam novas equipes, matam e revivem personagens, tudo para dar um novo fôlego para as vendas de seus produtos. Portanto, não há nenhuma obrigatoriedade de um membro dos Vingadores das revistas ser um membro da equipe no cinema – e isso sem a gente se alongar novamente na questão das vendas dos direitos autorais de alguns personagens para outros estúdios como Fox e Sony. O Wolverine, por exemplo, vive se juntando ao grupo nas HQ’s.
Segunda suposição: a computação gráfica hoje está muito melhor do que a 8 anos atrás, permitindo efeitos visuais ainda mais convincentes, propiciando um mundo pequeno um pouco mais verossímil do que em “Querida, encolhi as crianças” (que, para os anos 80, já estava muito bom, mas agora o tempo e as exigências do público são outros). Além do mais, o roteiro do filme já circula a muito tempo, sofrendo diversas alterações. Com tantas modificações surgindo, é melhor esperar uma história realmente boa com efeitos especiais realmente bons.
Terceira: depois do que o Nolan fez com o Batman, o público gostou de verem heróis “fisicamente reais”. A própria Marvel, com seu Homem de Ferro 1, criou um roteiro para que o herói e o traje, por mais licença poética e tecnológica que tivesse, fosse algo passível de realidade. E, praticamente pisando em ovos, a Marvel foi bem aos poucos inserindo elementos fantasiosos para ver a reação das pessoas. E, quando percebeu que as pessoas aceitaram de boa elementos mágicos, reinos e mundos distintos, seres alienígenas, anti-heróis com passados problemáticos e até mesmo um guaxinim lunático falante, por que não aceitar sem maiores questionamentos um traje que permite alguém encolher e ficar do tamanho de uma formiga???
Quarta: Homem de Ferro, Capitão América, Hulk e Thor já tinham uma certa fama com desenhos, brinquedos e demais produtos, e era mais rentável trazer primeiro personagens mais conhecidos do público que não acompanha as HQ’s. E, por último, como vivem dizendo em tudo o que se faz na Marvel, “está tudo conectado”. Então, uma solução bem inteligente para agradar (uma boa parte) dos fãs é não utilizar o Homem-Formiga original Hank Pym como o herói nos tempos atuais, mas sim o segundo herói a usar o traje, Scott Lang, e inserir Hank no MCU como um herói da época dos anos 60-80, e ligando sua história ao pai de Stark, à época do surgimento da Shield e Hydra etc.
Apesar das linhas diferentes HQ’s-Cinema já citadas, para os mais leigos no assunto, é bom entender algumas reclamações. Nos quadrinhos Pym foi o responsável, entre outras coisas, por construir o Ultron, vilão do segundo filme dos Vingadores. E, como a criatura apareceu nos cinemas antes do criador, a solução foi alterar sua origem nas telas, fazendo com que seu inventor fosse Tony Stark – o que ficou bem coerente, já que a esta altura todos já conhecem o ego e o histórico do homem de ferro, e seria mais fácil do que inserir “pai e filho” na mesma história. Com essa nova leva de heróis chegando, era um momento propício de trazer o personagem para a equipe, mas sem bagunçar o que já foi feito.