Homem-Aranha: De volta ao lar é um filme para ser visto e revisto. Fruto direto dos erros e acertos de seus antecessores (a trilogia de Tobey Miguire e os dois com Andrew Garfield), esse novo filme solo (ou não) do Amigão da Vizinhança bebe não só na fonte dos filmes anteriores como também nos quadrinhos. Referências não faltam e nós iremos apontá-las antes de analisar a trama em si.
Preparados? Por favor, cuidado com os SPOILERS!!! Are you ready? Please, be careful with the SPOILERS!!!
O que encontramos ou não dos cinco filmes anteriores?
Mais do que referências aos filmes anteriores, esse novo Homem-Aranha evitou de forma brilhante muitos dos erros dos seus antecessores. O primeiro ponto positivo está na escolha do elenco que ficou primorosa, ainda que com alguns atores relativamente desconhecidos. Os principais acertos estão nas escolhas de Tom Holland para ser o Aranha e em Michael Keaton como o Abutre. Ambos se encaixam de forma perfeita e dão credibilidade a seus personagens.
Outro fator primordial para dar mais dinâmica à narrativa foi a opção de não mostrar (pela milésima vez) a origem dos poderes de Peter Parker. A simples citação de como ocorreu – incluindo o destino da aranha radioativa – foi suficiente. Também acertaram ao não mostrar a morte do tio Ben. Óbvio que o personagem é imprescindível para a mitologia do herói, porém esse filme não pedia tal cena.
Alguns fãs reclamaram da ausência de J. J. Jameson, mas não vejo coerência nisso. A trama se passa muito antes de Peter ser freelancer para o Clarim, isso sem citar que não fez falta até o momento. Em um futuro próximo, talvez, ele venha a aparecer.
Interligação do universo Marvel.
Mais uma vez a Marvel se destaca por seu apuro nas continuidades e interligações de filmes. Homem-Aranha mostra bem como essa receita de sucesso continua sendo aplicada de forma impecável.
O filme começa mostrando as sequelas do primeiro Os Vingadores, passa para cenas de Guerra Civil filmadas pelo próprio Peter e traz novamente a presença de Happy Hogan (Jon Favreau) que esteve nos três filmes do Homem de Ferro.
Só que não estamos falando apenas em citar filmes passados. A Marvel é primorosa em dar sequência a fatos de filmes anteriores nos atuais. Isso gerou até algumas expectativas quanto a um namoro entre a tia May e Stark, porém já antecipo que isso não irá acontecer.
Seja como for, o Universo Marvel é até o momento o mais correto “universo expandido” do cinema. Outras franquias terão que se esforçar muito para que a credibilidade chegue ao nível do Marvel Cinematic Universe (MCU) que não se restringe ao cinema ao incluir séries, animações e quadrinhos.
Um jovem Peter?
Sim. Peter Parker é bem novo. Um adolescente para ser mais específico. Ele vive sob a mesma pressão de um garoto que está no ensino médio, sofre bullying, é zoado, tem seus medos e inseguranças como qualquer adolescente comum. Claro que o fato de ser o Homem-Aranha lhe dá pontos adicionais de ‘skill’, mas seus atos ainda refletem muito a imaturidade comum à idade. É dessa imaturidade, inclusive, que ganhamos alguns dos mais divertidos momentos do filme.
Aos críticos e fãs ferrenhos dos filmes anteriores, principalmente aos de Tobey Maguire, lembro que esse remake é o fim de um impasse entre a Marvel e a Sony, indispensável para que possamos rever o Cabeça de Teia em aventuras de maior porte ao lado de outros heróis consagrados da Marvel. Não descartamos os filmes anteriores, mas é preciso compreender que essa é uma nova era para o MCU e é preciso ter um Aranha à altura dele.
O diretor Jon Watts e os roteiristas souberam mostrar o cotidiano de um garoto e conciliá-lo à vida como herói que, aliás, aparece no filme de forma bem engraçada. Peter tem a ansiedade à flor da pele, é impulsivo e não consegue entender o porquê de não ser acionado por sue mentor, Tony Stark, para outras missões de grande porte. Essa ansiedade rende ótimo momentos em “Homecoming”, além de mostrar a preocupação em não fazer algo sombrio, pois isso ficará por conta de Guerra Infinita.
A presença dos amigos de Peter é algo que merece destaque. Ned Leeds (Jacob Batalon) é o parceiro de nerdices dele. Gordinho, gente boa e um profundo conhecedor do mundo da informática, Ned também faz parte do grupo de isolados da escola, apesar de não haver destaque para isso como vimos em Thirteen Reasons Why. Ele e Peter são os estranhos da escola, mas nunca os plenamente rejeitados, fato destacado pela proximidade entre Peter e a bela Liz Allen (Laura Harrier).
A narrativa e o roteiro estão coerentes?
Sim, não duvidem. A narrativa do filme é fluente e fácil de acompanhar. As cenas estão bem amarradas e mostram a competência do diretor Jon Watts que coordenou uma verdadeira operação de guerra para nos proporcionar esse ótimo longa-metragem. O roteiro é outro ponto fundamental para o sucesso de Homem-Aranha: De Volta ao Lar. A presença de cenas interligadas corretamente, a ausência de passagens vistas em outros filmes e o destaque para personagens que são importantíssimos para a trama mostram o apuro da equipe de roteiristas.
Quanto à escolha do elenco, isso deu força total á obra, principalmente por conta de Robert Downey Jr., Michael Keaton e o carismático Tom Holland.
Os coadjuvantes.
Personagens como Shocker, Cindy, o Consertador, Betty Brant, Karen e até o próprio Happy Hogan dão mais dinâmica a Homecoming. Eles garantem a amplitude com dramas pessoais, humor ou mesmo a simples complementação de uma cena. O que eles fazem, resumidamente, é garantir que as possibilidades para o próximo filme do Amigão da Vizinhança sejam as melhores.
O traje.
Polêmicas à parte, o traje do Aranha é um personagem à parte. Cheio de recursos tecnológicos, incluindo uma adequação automática a quem o usa, gadgets mil e uma Inteligência Artificial inacreditável, o traje é usado no filme também para destacar o conhecimento tecnológico de Ned, mas os resultados são algo que Peter jamais poderia pensar em passar, além de divertidíssimos.
Quanto à mente por trás de tantos recursos, só resta dizer que este uniforme é apenas um protótipo destinado a treinar Peter para um passo bem além, criado pelo próprio Tony Stark.
Comparativamente aos uniformes dos outros dois Aranhas do cinema, este é quase uma armadura do Homem de Ferro.
Sim, claro que vou falar sobre a polêmica declaração de que Peter já esteve em um filme do Homem de Ferro. Na minha opinião, uma teoria de fãs ganhou peso ao unirem Peter e Tony em um mesmo filme, mas dizer que ele realmente foi incluído como um ‘easter egg’ em Iron Man 2 é algo improvável. Valeu a inteligência de aproveitar isso para trazer mais divulgação ao longa-metragem.
O combate final.
Vi que há críticas ao embate final entre o Aranha e o Abutre. Elas são fruto de um certo radicalismo, talvez de conservadores que exigem a famosa “fidelidade” aos quadrinhos. Caso alguém queira realmente a fidelidade com a Nona Arte, preciso lembrá-los de que nem mesmo as próprias HQ são fiéis aos dogmas da mitologia de alguns personagens.
O combate entre o Abutre e o Cabeça de Teia não se restringe ao fim do fim. Na verdade, o diretor tece (perdoe o trocadilho) essa luta por todo o filme. Há o combate físico (simplesmente inacreditável) entre eles, porém o destaque fica para a luta psicológica travada no automóvel de Adrian Toomes, o Abutre. O diálogo dessa cena é tão intenso e nervoso que é impossível não ser afetado por ela. Brilhante!
Crítica social.
A principal crítica social está presente na alusão da parceria de Tony Stark com a Divisão que passa a comandar a remoção dos escombros do prédio Stark, destruído no primeiro Vingadores. Essa parceria selou o fim do trabalho de Adrian Toomes ao condenar seu investimento à derrota.
Muitos podem não ter enxergado isso, mas por trás dessa parceria há muito lucro para o já bilionário Stark. Tecnologia alienígena e metal de outro mundo são garantias de um retorno ao trabalho e investimento dispendidos para recolher as sucatas e escombros da guerra. Quando Toomes não tem mais como prosseguir honestamente em seu investimento, resta a ele poucas opções para manter sua família. É a partir daí que um um homem normal acaba se transformando em um vilão. Isso é muito comum em nossa realidade e serve de alerta para as sequelas do desemprego e do descaso dos ricos, o que não justifica a violência ou criminalidade, obviamente.
O treino até se tornar o Homem-Aranha.
Muitas cenas acrobáticas foram feitas pelo próprio Tom Holland. Ágil e muito dedicado, Tom conseguiu mostrar que tem qualidades suficientes para ser o melhor Homem-Aranha do cinema.
Uma pequena amostra de seus esforços está nesse vídeo:
Referências mil… ou quase.
Há muitas referências em Homecoming. Uma delas mostra o Homem-Aranha sustentando uma balsa partida ao meio com suas teias. Vimos uma cena quase idêntica em Homem-Aranha 2, com Tobey Maguire, só que com um trem lotado.
Jennifer Connelly, a Betty Ross do filme do Hulk de 2003, é a voz de Karen, a I.A. que controla o traje de Peter.
Miles Morales tem sua presença insinuada nesse longa quando o Aranha interroga (com a voz igual à do Batman de Christian Bale) o Gatuno (Donald Glover). Essa cena serve também para destacar, de novo, o quanto ele é novato no combate ao crime.
Curtindo a Vida Adoidado é um dos filmes que trouxe inspiração a Jon Watts. Uma longa cena do Homem-Aranha é totalmente inspirada nessa comédia dos anos 80. Há outros filmes antigos que também foram usados como referência para o diretor.
Michelle, interpretada por Zendaya, diz que gosta de ser chamada de MJ, mas isso não é o mesmo que dizer que ela seja uma versão da Mary Jane. Isso já foi confirmado.
Por duas vezes ouvimos a clássica versão da música tema do Homem-Aranha. Uma delas é orquestrada por Michael Giacchino, a outra tem os Ramones como intérpretes.
Por trás da máscara.
Tom Holland, assim como fizeram Chris Pratt, Johnny Depp, Chris Evans e outros astros, visitou um hospital para doentes em tratamento por câncer. As cenas são emocionantes e evidenciam o lado humano do ator que deu uma grande alegria aos pacientes do Hospital para Crianças de Los Angeles. Vejam o vídeo:
Todos os fatores acima citados me levam a afirmar que esse é o melhor filme do Homem-Aranha. That´s all folks!