Hellraiser: renascido do Inferno. Resenha da obra máxima de Clive Barker.

Por: Franz Lima


Lançado inicialmente em 1986, mas inédito até 2015 no Brasil, Hellraiser é um clássico do terror. Escrito por Clive Barker, o livro se tornou um filme homônimo e hoje é uma franquia ainda extremamente rentável. Prova disso é o primor com que a editora Darkside lançou o livro no Brasil. Todos os detalhes foram muito bem planejados e o resultado final está absolutamente impecável.

Antes de expor os dados técnicos e as características do livro, vamos a uma análise da obra literária em si…

Hellraiser é um livro audacioso. Pleno de uma linguagem agressiva e com cenas que podem chocar muitos leitores, ele tem uma trama aparentemente simples, mas que deu espaço para a ampliação do universo criado por Clive de uma forma que até o próprio autor não deve ter imaginado.

A trama tem, basicamente, quatro personagens principais. O que pode parecer fraco ao leitor mais acostumado com narrativas lotadas de personagens será, ao fim da leitura, uma grata surpresa, pois é possível compreender cada nuance deles conforme a história ganha vulto. Ao final, você verá que a condensação de personagens e ambientes na trama tem um propósito. 

Cabe ressaltar que os ditos “personagens” são os humanos presentes (Frank, Julia, Rory e Kirsty). Há ainda outros que não se enquadram na categoria, cujas origens e propósitos só serão explicados através das outras mídias envolvendo a franquia Hellraiser, incluindo filmes e quadrinhos, os quais o autor chamou de Cenobitas.

Os cenobitas são uma atração à parte, os responsáveis pela sombria passagem inicial e também os arquitetos de um pacto que causará várias mortes. Na verdade, as criaturas são seres parecidos com demônios, porém desprovidos de temor aos ditos símbolos sagrados. Eles só tem um ponto vulnerável: não podem aparecer em nossa realidade sem que sejam convocados, após o qual os limites das dores que podem provocar só terão como limite a própria imaginação. Mas pensam que o mal está apenas contido nessas criaturas? Hellraiser (Hellbound é o título original) expõe a maldade humana em sua essência. Retrata, sobretudo, a loucura da busca pelo prazer e as consequências dessa irrefreável procura.

Barker foi um escritor de grande vulto na literatura de terror, principalmente durante o final da década de 80 e os anos 90. Seu personagem mais famoso se tornou um ícone na cultura pop, o cenobita Pinhead. A própria ‘configuração de lamentos’, o cubo que abre portais para a dimensão dos cenobitas se tornou uma peça marcante nesse universo, reconhecível por qualquer um que tenha vista os filmes ou lido as revistas, livros e quadrinhos da franquia. 

A trama básica


Frank é um homem com um caráter questionável. Abusado, sádico e ruim por natureza, ele só se aproxima da família quando há uma necessidade financeira. Frank tem um irmão, Rory, que é casado com Julia. O casamento deles está em franca decadência e piora com a chegada de Frank. Julia não nutre amor por seu marido, mas tem ciúme da relação dele com a amiga Kirsty. Apesar disso, os amigos não são amantes, fato que não impede Julia e Frank de nutrirem uma atração mútua.

A situação piora quando – motivado pela busca do prazer extremo – Frank descobre a configuração de LeMarchand, o cubo que pode abrir as portas de uma dimensão onde o prazer não tem fim. Só havia um detalhe com o qual ele não contava: lá, o prazer é medido pela dor proporcionada (uma versão extrema do BDSM de hoje). Frank é destroçado pelos cenobitas e ganha o privilégio de ser torturado por toda a eternidade.

Com o sumiço de Frank, Julia e Rory pioram o relacionamento. Nenhum deles tem ciência de que o morto pode vê-los de um quarto isolado na casa. Essa presença, entretanto, ganha força quando Julia sofre um corte na mão e seu sangue cai no piso. A força vital dela dá forças para que Frank possa convencê-la a trazer novas fontes de energia, o que implica em um assassinato seguido de outro. 

As cenas estão extremamente bem descritas, fato já previsível quando o assunto é Clive Barker. O desfecho da trama segue – mais ou menos – o mesmo do que já vimos no filme da década de 80 (lançado em 1990 no Brasil). Porém um fato que fica evidente com a leitura dessa obra lançada pela Darkside é a necessidade de um remake à altura do livro. Com recursos tecnológicos fracos quando comparados à época atual, Hellraiser tem potencial para ser um filme ainda mais impactante e sombrio, principalmente se levarmos em conta as críticas sociais embutidas e a análise indireta da busca pelo prazer insano de algumas pessoas.

Esse é um livro 100% recomendado. Não só pelo conteúdo – aguardado por décadas pelos fãs – como também pelo acabamento à altura da obra e daquilo que era esperado pelo público de Clive Barker no Brasil. Parabéns à editora Darkside Books.

Dados técnicos:

Título : Hellraiser – Renascido do Inferno

Autor : Clive Barker

Tradutor : Alexandre Callari

Editora : DarkSide®

Edição : 1ª

Idioma : Português

Especificações : 160 páginas

Limited Edition (capa dura) & Classic Edition (brochura)

Dimensões : 14 x 21 cm

ISBN : 978-85-66636-69-7

 

Comentários sobre o livro:

“Eu vi o futuro do terror, seu nome é Clive Barker.”
– STEPHEN KING, AO LER HELLRAISER QUANDO FOI PUBLICADO, EM 1986

“Barker é a melhor coisa que aconteceu à ficção de horror em muitas luas. […] [Ele] nunca falha em entregar o que promete.”
– CHICAGO TRIBUNE

“O mais imaginativo entre os romancistas macabros e ela apenas continua a melhorar.”
– KANSAS CITY STAR

“Esperar algo deste mestre do macabro que se aproxima do ordinário é pedir por problemas.”
– PORTLAND SUNDAY OREGONIAN

“Barker tem um verdadeiro dom para as coisas verdadeiramente assustadoras.”
– LOS ANGELES TIMES

Mais do NoSet

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *