Fome de Viver (The Hunger – 1983)

Salve Nosetmaníacos, eu sou o Marcelo Moura e hoje falamos de mais um filmaço Cult que todos deveriam assistir.

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Fome de Viver (The Hunger):

Direção Tony Scott, roteiro Whitley Strieber (romance) e Ivan Davis, elenco Catherine Deneuve, David Bowie e Susan Sarandon. Foi a estreia no cinema do então diretor de vinhetas e comerciais Tony Scott, tendo adquirido um status de “cult” entre os admiradores da sub-cultura gótica pelo fato de contar com uma fotografia excessivamente escura e sombria e também pelo tratamento neogótico da temática do vampirismo. No começo do filme há uma memorável cena com os protagonistas e a banda Bauhaus, numa boate gótica.

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Sinopse: Mirian Blaylock (Catherine Deneuve) é bela mas perigosa vampira com séculos de idade (apesar de ainda manter a aparência jovial). Ela e seu amante, John (David Bowie), um talentoso tocador de violoncelo do século XVII, também vampiro, vivem na Nova Iorque dos dias atuais, predando e se alimentando de incautos frequentadores do submundo da cidade e das ruas noturnas, onde eles se passam por um casal de chiques góticos. Os amantes humanos de Mirian (como John), entretanto, não tem um tempo indefinido de vida e sofrem de decadência acelerada após certo período de anos. Literalmente os amantes de Mirian se tornam “mortos-vivos”, ou seja, não morrem mas envelhecem exageradamente até o ponto de se tornarem irreconhecíveis e inúteis (no que Mirian os “armazena” em caixões em uma sala especial de seu apartamento). Temendo que seu “fim” esteja próximo (após os primeiros sinais de decrepitude acelerada), John procura a dra. Sarah Roberts (Susan Sarandon), uma especialista em desordens do envelhecimento, esperando que ela o ajude a se livrar da iminente decadência. Sarah, intrigada pelo fenômeno do rápido envelhecimento de John, procura visitá-lo em seu apartamento (onde também vive Mirian) após ele não comparecer a uma consulta marcada (neste momento John, já exageradamente envelhecido, havia sido posto para “dormir” em seu caixão, destino compartilhado por outros amantes anteriores da vampira).

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Chegando no apartamento do casal, Sarah é recebida por Mirian que, após uma breve conversação, tenta convencê-la a ser sua nova amante. Após um momento de relutância, em que Sarah demonstra repugnação em viver de sangue humano, a médica acaba cedendo aos encantos da vampira. Como parte da transformação de Sarah em vampira, ela e Mirian compartilham sangue em uma memorável cena de amor lésbico. À medida que o filme se aproxima do fim, vê-se um agente imobiliário oferecendo o apartamento de Mirian (então vazio) para compradores interessados: ambas as vampiras haviam arrumado as coisas e viajado para o oeste a fim de começar uma nova vida como resultado do aumento de intensidade das investigações policiais que se seguiram após o desaparecimento de uma outra jovem, uma das vítimas mortas por John e Mirian para alimentá-los de sangue (no começo do filme), o que as poderia expor e a sua condição de vampiras.

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Crítica: Fome de Viver é um daqueles clássicos que serão eternizados na memória dos amantes de cinema, porque simplesmente reconta o mito vampírico, trazendo conceitos de estilo, moda, elegância, imortalidade, sensualidade e sexualidade, sem os tons violentos e truculentos que os filmes de época de terror traziam como os da antiga produtora Hammer tanto “martelaram” no público. Fome de Viver trouxe uma versão poética aos contos de Drácula que com certeza impressionaram e influenciaram grandes obras como o Drácula de Bram Soker (1992) de Francis Ford Coppola e até a franquia literária do Vampiro Lestat de Anne Rice e na sua versão para o cinema de Entrevista com o Vampiro (1994) de Neil Jordan ou Queen of Damned (2002) de Michael Rymer. É fácil ver a influência gótica com uma veia poética e sensual nestes filmes que nasceram de Fome de Viver. Quando assisti ao filme pela primeira vez, não tinha certeza do que esperar, pois esta influência ainda não fervia em minhas veias, mas quando terminei de ver, sabia que tinha visto algo novo, diferente, atraente e que precisava entender melhor aquele conceito. Não que seja uma novidade um roteiro ou um filme sobre vampiras lésbicas, em 1971 o polêmico diretor espanhol Jesus Franco já tinha o seu filme B Vampiras Lésbicas em cartaz na Europa, mas o resultado do diretor Tony Scott, irmão de Ridley Scott, foi simplesmente fantástico. Tony também dirigiu sucessos como Top Gun (1986), Dias de Trovão (1990) e Inimigo de Estado (1998), mas dificilmente atingiu o charme e características do seu primeiro trabalho.

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Difícil mesmo é falar do mega e premiadíssimo elenco do filme. Catherine Deneuve, nome artístico de Catherine Fabienne Dorléac, é uma atriz francesa, considerada um modelo de elegância e beleza Gálica, uma das mais respeitadas atrizes do cinema francês e mundial e com mais de 50 filmes em toda sua carreira. Se ela é a alma do filme, sua luz e direção é o camaleão do rock e do cinema, o charmoso David Bowie, ou como foi conhecido em sua maternidade, David Robert Jones. Além de ambos, a mega atriz Susan Sarandon de Thelma e Louise, As Bruxas de Eastwick, Cloud Atlas, The Banger Sisters, Shall We Dance, Speed Racer e tantos outros sucessos. Completando o mega filme temos em uma ponta o consagrado ator Willem Dafoe de filmes como Platoon, Homem Aranha e A Última Tentação de Cristo. Difícil não gostar de um filme assim.

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Bauhaus (Banda): Bauhaus é uma banda musical fundada em 1978 em Northampton, Inglaterra. Compostos pelo guitarrista Daniel Ash, o baixista David J, baterista Kevin Haskins que actuaram como trio até formarem quarteto com o vocalista Peter Murphy. Apoiados no descontentamento social pós-punk, reuniram características deste movimento musical criando uma sonoridade nova, mais de acordo com o período nuclear (guerra fria e cortina de ferro e de crise econômica que apelava à ausência de cores tal era a desconfiança no futuro. A despreocupação estética do punk deu lugar a uma nova valorização de estilos e conceitos neo românticos e depressivos como fuga à ausência de reais conquistas sociais. A ideia a principio, era satirizar elementos do Expressionismo, dando uma vertente de teatro aos filmes como Drácula. Inspirados no horror desses filmes criaram a música Bela Lugosi’s Dead que acabou fazendo com que fossem considerados um dos fundadores do rock-gótico, criaram um estilo minimalista, experimental apoiado em guitarra reverberada e acordes frios e distantes de teclado. A voz de Peter Murphy é uma presença forte e contribuiu para o culto da banda. Em 2008 os Bauhaus lançaram um novo álbum de estúdio, “Go Away White”, que garantiram ser marco final da banda.

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David Bowie: O Músico.

David Bowie é o nome artístico de David Robert Jones, Brixton, Londres, 8 de janeiro de 1947 – 10 de janeiro de 2016, foi músico, ator e produtor musical inglês. Por vezes referido como “Camaleão do Rock” pela capacidade de sempre renovar sua imagem, tem sido uma importante figura na música popular há cinco décadas e é considerado um dos músicos populares mais inovadores e ainda influentes de todos os tempos, sobretudo por seu trabalho nas décadas de 1970 e 1980, além de ser distinguido por um vocal característico e pela profundidade intelectual de sua obra. Embora desde cedo tenha realizado o álbum David Bowie e diversas canções, Bowie só chamou a atenção do público em 1969, quando a canção “Space Oddity” alcançou o quinto lugar no UK Singles Chart. Após um período de três anos de experimentação, que incluem a realização de dois significativos e influentes álbuns, The Man Who Sold the World (1970) e Hunky Dory (1971), ele retorna em 1972 durante a era Glam Rock com um alter ego extravagante e andrógino chamado Ziggy Stardust, sustentado pelo sucesso de “Starman” e do aclamado álbum The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars. Seu impacto na época foi um dos maiores cultos já criados na cultura popular. Em 1973, o disco Aladdin Sane levou Ziggy aos EUA. A vida curta da persona revelaria apenas uma das muitas facetas de uma carreira marcada pela reinvenção contínua, pela inovação musical e pela apresentação visual.

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Em 1974, o álbum Diamond Dogs previa, com seu som e sua temática caótica, a revolução punk que surgiria anos depois. Em 1975, Bowie finalmente conseguiu seu primeiro grande sucesso em território americano com a canção “Fame”, em co-autoria com John Lennon, do álbum Young Americans. O som constitui uma mudança radical no estilo que, inicialmente, alienou muitos de seus devotos no Reino Unido. Nessa etapa, a carreira musical de Bowie se renovou e seguiu novos rumos. Após a criação de uma nova persona, Thin White Duke, apresentada no aclamado Station to Station (1976), que traz um Bowie interessado em misticismo, Cabala e Nazismo, ele confundiu as expectativas de seu público americano e de sua gravadora com a produção do minimalista Low (1977) a primeira das três colaborações com Brian Eno durante os próximos dois anos. A chamada “Trilogia de Berlim” (com “Heroes” e Lodger) trouxe álbuns introspectivos que lograram o topo nas paradas britânicas e que ganharam admiração crítica duradoura. Seguindo o sucesso comercial irregular no final dos anos 70, a canção “Ashes to Ashes” do álbum de 1980 Scary Monsters (and Super Creeps) alcançou o primeiro lugar no Reino Unido e lançou bases para um novo movimento chamado New Romanticism. No ano seguinte, junto à banda Queen, escreveu e cantou a canção “Under Pressure” e em seguida atingiu novo pico comercial com o álbum Let’s Dance (1983), que rendeu sucessos com a canção homônima e o fez cativar nova audiência. Ao longo dos anos 1990 e 2000, Bowie continuou a experimentar novos estilos musicais, incluindo os gêneros industrial, drum and bass, e adult contemporary. Seu último álbum de inéditas foi por muito tempo Reality, uma mistura de melancolia e humor, suportado pela A Reality Tour de 2003–2004. Após um período de quase dez anos em hiato, anuncia The Next Day pelo Facebook e pelo seu novo website. Seu novo álbum (The Next Day), está com três indicações ao Grammy (Melhor performance de rock ‘Stars Are Out Tonight), Melhor Conteúdo Extra (The Next Day Extra) e melhor álbum de rock.

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A influência de David Bowie é única, musical e socialmente. Como escreveu o biógrafo David Buckley, “ele penetrou e modificou mais vidas do que qualquer outra figura comparável.” De fato, grande é sua influência no mundo da música entre artistas e bandas mais antigas e a nova geração (Ver Influência), e, além de ter auxiliado movimentos como a libertação gay e a recriação de uma nova juventude independente, introduziu novos modos de se vestir na cena musical e tem uma carreira prestigiada no cinema. Em 2002, ficou em 29º lugar na lista popular 100 Greatest Britons e já vendeu mais de 136 milhões de álbuns ao longo de sua carreira. Foi premiado no Reino Unido com 9 certificações de álbum de platina, 11 de ouro e 8 de prata, e, nos Estados Unidos, 5 de platina e 7 de ouro. Em 2004, a Rolling Stone colocou-o na 39ª posição em sua lista dos “100 Maiores Artistas do Rock de Todos os Tempos” e em 23º lugar na lista dos “Melhores Cantores de Todos os Tempos”.

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O ator: Sua carreira como ator começa antes de seu avanço comercial como músico. Estudante teatro de avant-garde e mímica com Lindsay Kemp, interpretou o papel de Cloud na produção teatral de 1967 de Kemp chamada Pierrot in Turquoise (posteriormente transformada no filme televisivo de 1970 The Looking Glass Murders). No filme The Image em branco e preto (1969), interpretou um menino fantasma que surge da pintura de um artista envolvido em problemas, para assombrar seu criador. No mesmo, fez uma breve aparição na adaptação do romance The Virgin Soldiers (1966) de Leslie Thomas. Em 1976, ganhou elogios por seu primeiro papel principal num grande filme, retratando Thomas Jerome Newton, um alienígena de um planeta moribundo, em The Man Who Fell to Earth, dirigido por Nic Roeg. Também interpretou o papel principal em Just a Gigolo de 1979, co-produção anglo-alemã dirigida por David Hemmings, em que é Paul von Pryzgodski, um oficial prussiano a retornar da Primeira Guerra Mundial, que é descoberto por uma Baronesa (Marlene Dietrich) que o convida a seu estábulo de gigolô. Entre 1980 e 1981, fez o papel principal de O Homem Elefante, produção tetral da Broadway em que recebeu elogios por uma atuação expressiva. Em Christiane F. – Wir Kinder vom Bahnhof Zoo, filme biográfico de 1981 focando a dependência por drogas de uma jovem na Berlim ocidental, Bowie fez uma aparição como ele mesmo em um concerto na Alemanha.

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A trilha sonora do filme, Christiane F., traz algumas das canções dos álbuns da Trilogia de Berlim. Em 1983, estreou The Hunger/Fome de Viver, filme de vampiros revisionista, com Catherine Deneuve e Susan Sarandon. Em Merry Christmas, Mr. Lawrence, do mesmo ano, dirigido por Nagisa Oshima e baseado no romance The Seed and the Sower de Laurens van der Post, Bowie representou o Major Jack Celliers, prisioneiro de guerra num campo de internamento japonês. Ryuichi Sakamoto, que também era músico, atuou como o comandante do campo que começa a se prejudicar pelos comportamentos bizarros de Celliers. Participou de uma cena do Yellowbeard de 1983, comédia sobre piratas criada pelo Monty Python, e em 1985 representou Colin, assassino de aluguel no filme Into the Night. Recusou retratar o vilão Max Zorin no filme 007 Na Mira Dos Assassinos/007 – Alvo Em Movimento do mesmo ano. Absolute Beginners (1986), musical de rock baseado no romance de Colin MacInnes de 1959 sobre a vida londrina, trazia música de Bowie mas lhe presenteou um papel de qualidade inferior. No mesmo ano, interpretou o andrógino Jareth, rei dos goblins, no filme fantástico Labirinto – A magia do tempo de Jim Henson. Dois anos depois interpretou Pôncio Pilatos no filme A Última Tentação de Cristo de Martin Scorsese, em 1988. Em 1991, no The Linguini Incident, atuou como um descontente empregado de um restaurante que é o antagonista de Rosanna Arquette. No ano seguinte, foi o misterioso agente do FBI Phillip Jeffries em Twin Peaks – Os últimos dias de Laura Palmer (1992) de David Lynch. Retratou Andy Warhol, figura do qual havia conhecido na década de 70, no filme Basquiat, filme da biografia de Jean-Michel Basquiat, dirigido por Julian Schnabel. Co-estrelou no filme Il Mio West de Giovanni Veronesi em 1998 (lançado como Gunslinger’s Revenge em 2005) como o pistoleiro mais temido da região. Em 1999, interpretou o velho gangster Bernie em Everybody Loves Sunshine de Andrew Goth e fez uma breve aparição na série de horror televisiva The Hunger. Em Mr. Rice’s Secret (2000), retratou o papel principal como vizinho de um doente terminal de doze anos de idade e, no ano seguinte, apareceu como si mesmo em Zoolander junto a outras personalidades famosas. Em 2006, retratou Nikola Tesla, físico pioneiro na corrente alternada, no filme O Grande Truque/O Terceiro Passo co-estrelado por Christian Bale e Hugh Jackman, dirigido por Christopher Nolan e baseado no romance epistolar de Christopher Priest sobre a rivalidade entre dois mágicos no início do século XX.

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No mesmo ano, emprestou sua voz ao poderoso vilão Maltazard na animação Arthur e os Minimoys e também para o personagem Lord Royal Highness do desenho animado Bob Esponja: Calça Quadrada. No filme de 2008 August, dirigido por Austin Chick, Bowie atuou como coadjuvante no papel de Ogilvie, ao lado de Josh Hartnett e Rip Torn, no qual ele já havia trabalhado anteriormente em 1976 em The Man Who Fell to Earth.

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O Adeus (2016):

David Bowie nos deixou na noite de 10 de janeiro de 2016, depois de lutar contra um câncer durante dezoito meses.

 

 

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2 Comments

  • Parabéns pela dissecagem desse cultuado filme, depois de ler esta excelente reportagem, até quem não é chegado ao gênero, fica tentado à assistir ao filme, obrigado.

    • Alberto, nós é que agradecemos a paciência e o tempo dedicado a matéria. Somos apaixonados pro cinema como você.

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