Na próxima semana, em São Paulo capital acontece o segundo festival de cinema voltado aos filmes sul-coreanos (longas e curtas). O festival acontece nas salas de cinema do Reserva Cultural e os ingressos podem ser retirados através do site que organiza o evento. Os organizadores do festival reuniram críticos e jornalistas para apresentar o projeto e aproveitaram para fazerem a exibição do longa ‘Exhuma‘, o filme de maior bilheteria na Coreia do Sul em 2024 até este momento.
O longa-metragem conta a história de um grupo de paranormais que ganham a vida ajudando as pessoas a se livrarem de maldições, mal-olhados e coisas desta sorte. Algumas vezes eles ganham dinheiro fácil apenas se aproveitando da crença das pessoas, e é nessa busca por dinheiro fácil que acabam se deparando com o caso de uma família muito rica que precisa se livrar de uma maldição através da exumação de um corpo; daí o título.
A proposta deste mundo ligeiramente fantástico instiga o espectador logo no começo da trama. Os médiuns não são pessoas estereotipadas para este tipo de trabalho, mas este mundo criado pelo diretor e roteirista Jang Jae-hyun parece aceitar essas pessoas com certa normalidade.
A primeira parte do filme conta uma história clichê de terror, com algumas boas ideias de escolha de planos de fotografia e uma boa ambientação, a história chega em seu primeiro clímax num piscar de olhos e nos entrega uma excelente cena do ritual shamânico, com destaque aos atores Kim Go-eun e Lee do-hyun, a dupla mais jovem de protagonistas.
Inclusive, a atuação de Go-eun é o maior destaque por aqui. A atriz habituada a fazer filmes românticos entrega uma corporalidade muito coerente a seu papel, que a todo momento poderia cair em uma caricatura. Ela é quem melhor consegue capturar essa essência de que estamos numa realidade onde a verossimilhança é muito aproximada a nossa, mas com uma nuance um pouco mais mística. Se seus parceiros de cena às vezes pecam pelo excesso (tanto numa vertente mais mística, quanto para um lado mais realista), a jovem atriz consegue encontrar esse limiar em todos os momentos da fita.
Mas é na segunda parte da história que mora o verdadeiro sentido do filme existir. Apesar de algumas pinceladas logo na primeira sequência do longa, após a conclusão dessa primeira exumação é abordada a relação que os coreanos (em especial os do sul, nesta visão), tem com o Japão em relação ao seu passado imperialista.
Pra quem não sabe, o Japão invadiu a Coreia por 35 anos (entre 1910 até o fim da segunda guerra em 1945), e deixou traumas na sociedade coreana que é discutida nas mais diversas mídias até hoje.
A história se vira para esse tema de uma maneira nada sutil e temos uma extensa hora de debate metafórico com um samurai de três metros de altura e nossos protagonistas, contando e recontando os traumas ligado à invasão forçada.
Sinceramente, nesta metade da história a película fica um pouco menos inspirada, de fato, e tende a um terror corporal muito mais frontal do que vinha acontecendo até então, o que desanima em alguns aspectos.
Mas o que mais me incomodou nessa parte, não é nem tanto culpa desta obra específica, e sim da já cansada escola de cinema sul-coreana. Cerca de 15 anos atrás, o cinema sul-coreano estourou a bolha com filmes como Oldboy, A Criada e culminando no Oscar de Melhor Filme para Parasita. E todos estes filmes tem uma coisa em comum: O plot twist, quando o filme vira completamente a direção do enredo para surpreender o espectador.
E o abuso dessa técnica no cinema sul-coreano vem tornando, ao menos na minha visão, um cinema desinteressante de se assistir.
Aqui em Exhuma, eu fiquei com um sentimento praticamente idêntico ao que tive com Decisão de Partir. É Claro que a primeira metade do longa de 2022 é mais cativante e instigante do que aqui, mas a virada bem na metade para contar uma outra história, acaba sendo um tombo maior, equilibrando as coisas.
Por mais que nenhuma das segundas metades sejam exatamente ruins, a forma com que isso vem se tornando repetitivo no cinema sul-coreano, faz com que criemos uma certa empáfia assim que percebemos que estamos diante de mais uma obra do tipo.
Portanto, por mais que a mensagem do longa seja realmente importante, o ritmo não se sustenta. E quando o filme chega ao fim, antes da reflexão sobre o tema proposto, vem o alívio de sairmos daquela situação ligeiramente tediosa.
Nota 6/10
TRAILER
Lembrando que o festival acontece dos dias 03 a 09 de outubro no Reserva Cultural em SP, garanta o seu ingresso