Fábio Jr. apresenta show Bem Mais Que Meus 20 e Poucos Anos no Araújo Vianna
Não tem como não respeitar e admirar um cara que é cantor, compositor, apresentou programa de televisão, atuou em filmes, seriados e novelas, e além de tudo, é um galã. Falo, é claro, de Fábio Correa Ayrosa Galvão, ou simplesmente Fábio Jr. Completando sete décadas e mais de 50 anos de carreira artística, o cara do agradecimento mais famoso do Brasil, corre o país afora com seu show Bem Mais Que Meus 20 e Poucos Anos, um apanhado do melhor que sua jornada musical nos deu nesse meio século. Em mais um show reagendado devido às enchentes do Rio Grande do Sul, na quinta da semana passada Fábio Jr. voltou a Porto Alegre para mais uma noite inesquecível no Araújo Vianna. Tive o prazer de cobrir pela primeira vez o cantor pelo NoSet.
Uma garoa chata insistia em molhar o povo que se dirigia ao Auditório, mas nada que fizesse desanimar os fãs. Com um público praticamente 80 por cento feminino, mulheres de todas as idades já aqueciam o gogó antes do show, esperando o nosso eterno cantor boa pinta. Por volta das 21h30min, alguns telões começam a surgir no fundo do palco, com imagens da carreira do cantor em programas de televisão, novelas e filmes. Imagens narradas por um Fábio Jr. tentando explicar o porquê de tanto sucesso na vida. Após essas breves imagens, uma mega banda abre o show com um instrumental para anunciar a chegada do ídolo. Sempre de roupas escuras e elegante, Fábio, com sua simpatia de sempre, abre o show com o clássico agitado Ilumina, do álbum de 1985. A magnética do cantor é incrível e a adoração da plateia com o ídolo é algo de arrepiar. Segue o show com a repaginada versão de Na Canção, de 1998, composição de Vinícius Cantuária e termina a trinca inicial com uma irresistível interpretação de um de seus primeiros sucessos, Enrosca. Emocionado, o cantor agradeceu a plateia, falou da força de vontade do povo gaúcho e ficou sem palavras ao ver a alegria de volta depois de tanta tragédia, exaltando a força e animação da plateia.
Fábio é daqueles artistas que são feitos para admirar, com uma luz própria e quase que uma aura sagrada, que hipnotiza qualquer um. Poucos cantores têm esse poder e Fábio é um deles. A horda de sucessos segue com Seu Melhor Amigo, seguida por uma das mais belas canções do seu cancioneiro O Que É Que Há? A tal super banda é impecável, com músicos maravilhosos e um som no ponto. O que posso reclamar é que o microfone do Fábio Jr. estava muito baixo, ficando inaudível algumas palavras. E como meu papel é de crítico, muito também pode se colocar na conta do cantor, que tem uma das vozes mais belas e marcantes do Brasil, mas que a cada ano está mais debilitado,o que faz da sua voz sem punch e magrinha. Mas como fã, não diminui a minha admiração pelo artista. Mantendo o clima, segue com Senta Aqui, outro sucesso dos primórdios, e segue com Só Você, fenômeno de execução do ano de 1997, mais uma de Vinícius Cantuária, cantada a pleno pulmões pela galera.
Segue com Desejos e Delírios, de 1986, e naquele momento introspectivo (ou vá lá, de cansaço), ele senta numa poltrona, segue com Rio e Canoa e uma apaixonada Pareço um Menino, com apoio maravilhoso dos seus incríveis backing vocals. Fábio também é daqueles cantores que já podem ligar o modo Zeca Pagodinho de ser. A plateia canta todas as músicas de uma maneira emocionada e alta, então pode apenas cantar quando quer, e a presença dos vocais de apoio só abrilhantam as interpretações. Já de pé, ataca de Esqueça, sucesso romântico na voz do rei Roberto, em 1966, que voltou às paradas numa gravação do Fabião nos anos 1990.
Luzes são apagadas, um telão com um vídeo antigo do cantor fala sobre poupar os filhos da saudade. Uma luz ilumina o cantor e ele inicia aquela canção que é quase uma oração. Poucas músicas retratam tão bem um relacionamento de pai e filho, e Pai, esse hino é entoado por Fábio Jr. Em mais de 80 coberturas, nunca vi um auditório Araújo Vianna tão quieto, cantando baixinho e se emocionando em mais uma interpretação sensível e tocante. Momentos que ficam pra sempre e valem um show. Impossível não se comover.
Passada essa catártica passagem do show, segue o baile levantando a galera com palmas, numa suingada versão de 20 e Poucos Anos, seguido por uma agitada Eu Me Rendo. O show segue com a indefectível introdução de Sem Limites pra Sonhar, que eu não canso de dizer que é umas das power ballads mais lindas do mundo. Como de praxe, emenda talvez seu maior sucesso, a lindíssima Quando Gira o Mundo, em mais um momento de muita emoção e sinergia do cantor e seu público. Felicidade, outro grande sucesso dos anos 1980, com aquele refrão inspirador.
Outro momento esperado do show (diga-se de passagem curto, com 90 minutos de duração) é Alma Gêmea, em que o Araújo literalmente vai abaixo, como se Fábio Jr. e o público gaúcho fossem as duas metades da laranja que se unem na música. Como diria a própria canção, Fábio Jr. sabe como nos fazer felizes. Para fechar o baile, a banda manda a cheia de groove e balanço, uma versão de Caça e Caçador, fazendo todo mundo dançar e cantar. Fábio Jr. não cansado de agradecer, enfim solta seu “Obrigadu!”, pra delírio da galera, e acaba saindo à francesa, com a banda ainda tocando a música, fechando uma noite mágica para os fãs.
Impecável a produção do show Bem Mais Que Meus 20 e Poucos Anos. Desde a cenografia, a maravilhosa banda, seleção de repertório, os telões contando a história da trajetória do cantor, e é claro, a estrela Fábio Jr. Como disse antes, talvez a equalização do microfone poderia ser mais alta, e até do áudio que narra os momentos que os telões mostravam, mas fora isso, presenciamos mais uma noite de gala de um dos maiores cantores do Brasil. Nosso eterno menino, com sua pinta de galã e simpatia ímpar, mesmo com uma voz mais cansada e um corpo idem, ainda encanta e consegue lotar um Auditório Araújo Vianna, demonstrando a sua importância no terreno da música popular do Brasil genuína, aquela que a gente canta junto, se emociona e é atemporal. O romantismo nunca sai da moda e enquanto não tivermos limites pra sonhar, vamos curtir e muito nosso Don Fábio Jr.!
Crédito das fotos: Vívian Carravetta