Espetáculo “Vitaminas” estreia em maio no Sesc Pinheiros com olhar crítico sobre a sociedade dos anos 80

A partir do dia 2 de maio, o Auditório do Sesc Pinheiros recebe a estreia de “Vitaminas”, uma peça que mergulha nas contradições da sociedade americana da década de 1980. Com dramaturgia de Clayton Mariano — que também assina a direção ao lado de Rodolfo Amorim —, o espetáculo expõe a tensão entre as relações íntimas e a promessa incessante de sucesso individual.
No palco, os atores Ericka Leal, Fani Feldman, Igor Mo, Jessica Mancini, Jonathan Moreira, Lígia Fonseca e Victor Bittow dão vida a personagens atravessados por fragilidades emocionais e pressões sociais.
“Vitaminas” investiga o crescimento da depressão e de outros distúrbios psíquicos que ganharam força nos anos 80, período marcado pela ascensão do realismo capitalista descrito por Mark Fisher. A obra propõe uma reflexão sobre a ausência de alternativas fora do modelo neoliberal, expondo como a indústria cultural de Hollywood moldou — e ainda molda — o imaginário coletivo, especialmente no Brasil pós-ditadura.
A montagem apresenta uma crítica ácida ao “American way of life”, destacando o fracasso como uma forma possível de resistência em uma sociedade que valoriza apenas o sucesso. Com um estilo que combina o realismo sujo e minimalista, o espetáculo evita o sarcasmo vazio e encontra no ato de narrar uma nova maneira de abordar os limites da vida privada.
“A intimidade que trazemos para a cena é o oposto da exposição exagerada que domina as redes sociais. Queremos falar dos afetos esquecidos, daqueles sentimentos considerados impróprios pela lógica capitalista, como o luto, a vergonha e a angústia”, explicam Mariano e Amorim.
Inspirada nos clássicos “filmes de sessão da tarde” e nas séries americanas que inundaram a televisão brasileira, “Vitaminas” busca olhar com distanciamento crítico esse passado fabricado, tentando revelar aquilo que ainda pulsa sob a superfície dos melodramas familiares: o fracasso, a humanidade e a resistência diante de uma cultura colonizada.