Estreia no dia 2 de julho, no Teatro Itália, em São Paulo, a peça Dá Trabalho!, uma comédia crítica que coloca sob os holofotes os impactos do mundo corporativo na vida pessoal, nas relações e na saúde mental. Com sessões às quartas e quintas-feiras, sempre às 20h, o espetáculo convida o público a repensar o papel do trabalho em suas vidas, equilibrando humor, incômodo e empatia.
Criado e dirigido por Cris Wersom, Juliana Rosenthal e Paulo Azevedo — que também assinam o texto e estão em cena — o projeto nasceu da necessidade de discutir as estruturas do mercado de trabalho contemporâneo. Em cena, a trajetória de dois personagens é retratada em três momentos distintos, refletindo mudanças tecnológicas, culturais e emocionais que marcaram os últimos anos.
Três décadas, uma mesma pergunta
A narrativa começa em 2008, quando Humberto A., recém-promovido e à beira do colapso, entrevista Bartira para o cargo que ocupava. Avançando para 2018, os papéis se invertem: Bartira agora é líder, também exausta, enquanto Humberto tenta se reinserir no mercado. Já em 2025, os dois se reencontram como concorrentes diretos para um cargo dos sonhos. Na sala de espera, forçados a pausar, revivem memórias, arrependimentos e questões que vão além do currículo: qual é o verdadeiro custo de se entregar ao trabalho?
Uma crítica real e necessária
Embora ficcional, o espetáculo se ancora em dados alarmantes da realidade brasileira. O Brasil ocupa o segundo lugar no ranking mundial de casos de burnout, segundo a Organização Mundial da Saúde. Só em 2024, o número de afastamentos por questões de saúde mental no país cresceu 68% em relação ao ano anterior. A peça não ignora essa realidade: trata do culto à produtividade, da pressão por performance, da hiperconectividade e da perda de sentido diante de um ambiente de trabalho muitas vezes tóxico — tudo isso com uma abordagem provocadora e bem-humorada.
— “A ideia surgiu a partir de nossas vivências e do desejo de jogar luz sobre um tema urgente. A peça nasceu de muitas histórias reais que escutei ao longo dos 15 anos em que trabalho com cultura organizacional”, explica Paulo Azevedo, que também é fundador da consultoria ComCultura.
Rir do que nos adoece
Para além da crítica, Dá Trabalho! aposta no riso como ferramenta de conexão e transformação. Com diálogos afiados e situações que muitos espectadores reconhecerão como suas, a montagem alterna momentos de ironia, desconforto e identificação.
— “A comédia tem esse poder de revelar o que está escondido. Quando rimos juntos, entendemos que não estamos sozinhos. E talvez esse seja o primeiro passo para mudar alguma coisa”, reflete Cris Wersom.
Juliana Rosenthal, autora do texto, reforça: “A sociedade está doente, e o trabalho tem sido um dos grandes vetores desse adoecimento. Precisamos falar sobre isso antes que normalizemos o inaceitável.”