Escrevendo sua história – “Hollywood”

Depois da Segunda Guerra Mundial a indústria cinematográfica, com foco em Hollywood, presenciou várias mudanças ou, pelo menos, o pedido do público para que essas mudanças acontecessem.

O gênio das séries curtas da Netflix, Ryan Murphy, conseguiu traduzir esse momento, contando com Ian Brennan ao seu lado, e criou a série “Hollywood”. Se você não reconheceu esses nomes, eles também foram responsáveis por “Glee”, “Screem Queens” e “The Politician”.

A trama acompanha a história de dois aspirantes a atores, duas atrizes em busca do primeiro papel, um roteirista fora do padrão, um diretor cheio de ideias inovadoras, um produtor cansado de ver injustiças e alguns outros importantes personagens.

Todos os aspirantes a atores, diretores, roteiristas, dentre outros profissionais desse mundo do cinema sonham em ir para Los Angeles, mas a maioria desses sonhos não são realizados, por muitos motivos. Eles acabam trabalhando em “bicos”, que podem se tornar o ofício deles.

Neste caso era a lavanderia de Ernie West, fachada para uma agência de acompanhantes. Ele empregou Jack Castello e Archie Colemen. Jack queria ser ator, mas não tinha preparo, Archie queria ser roteirista, mas era negro e gay em uma sociedade altamente preconceituosa (o que continua sendo, infelizmente).

Jack conheceu Avis, esposa do grande Ace Amberg, e Archie conheceu Rock (também aspirante a ator). Avis fez com que Jack conhecesse pessoas influentes da indústria, Archie se apaixonou.

Enquanto isso, Raymond Ainsley tentava ser um diretor diferente, trazendo mais diversidade, como dar o papel principal para a atriz asiática Ana May, mas antes disso tinha que realizar algum dos projetos que Dick Samuels tinha em sua mesa. Por sorte ele encontrou “Peggy”, roteiro de Archie.

Sabendo da qualidade desse trabalho, eles lutaram para que ele ocorresse e que Archie recebesse seus créditos, e conseguiram!

A seleção de atores envolveu Jack e Rock, mas também Camille Washington e Claire Wood. As duas faziam curso de atuação dentro da produtora, Camille era a melhor aluna, mas era a primeira negra, por isso só conseguia papeis menores, Claire é a filha de Avis e Ace, que não viam o talento dela.

Camille e Jack conquistam os papeis principais, Archie muda o nome para “Maggie”, mostrando a luta pela diversidade. Enfrentando também muitos obstáculos ao longo das gravações, arriscando a carreira de todos e o futuro da produtora.

Uma história paralela é a entre Rock e o agente Henry Wilson. Excêntrico e conhecido por abusar de seus clientes, usando isso para se manter na indústria. Aos poucos ele viu que o problema é que ele nunca se aceitou como era, sofrendo e traumatizando os outros. Infelizmente Henry Wilson de fato existiu, mas a história vale para muitos outros agentes da indústria.

A frase de efeito da divulgação dessa série era “E se você pudesse reescrever a história?”. Isso porque eles pegaram fatos históricos e misturaram com algumas licenças poéticas que gostariam de ter acontecido, como Camille se tornando a segunda mulher negra a ganhar o Oscar e conseguir receber o prêmio no teatro.

Sabemos que isso só foi acontecer em 2002, com Halle Berry. E ainda hoje é difícil ver profissionais negros sendo indicados pela Academia, em 2020 só foram duas indicações.

A primeira mulher negra a ganhar o Oscar foi Hattie McDaniel, que foi representada na série, conversando diretamente com Camille, dando apoio para ela na trajetória. Ela foi interpretada pela maravilhosa Queen Latifah (sou fã mesmo).

Também faz alusão a esse respeito dentro da indústria quanto ao gênero, a orientação sexual e ao racismo. Vemos que Henry se “regenerou”, diferente do que aconteceu na vida real.

É uma excelente reflexão sobre a necessidade de mudar essa postura. Hoje os bastidores do cinema seriam mais justos se na década de 1940/1950 realmente tivesse acontecido o que aconteceu na série.

Falando nisso, a série é de época, exige uma caracterização a altura e foi isso que aconteceu. Desde os figurinos e penteados até os cenários da época, você se sente na Hollywood da época. Mas é preciso dar destaque ao que fizeram com Jim Parsons.

Foi ele que deu vida ao polêmico Henry Wilson… Confesso, fui assistir a série achando que eu iria ver Sheldon Cooper de época, afinal Parsons ficou estereotipado/caracterizada depois de mais de 10 anos de série, mas isso não aconteceu. Junto ao talento do ator (que eu subestimei, nunca mais farei isso), a caracterização entrega um personagem perfeito e nem me lembrei do meu nerd preferido.

Já falei de dois membros do elenco, serei justa e falarei do resto!

Uma série de Ryan Murphy não é uma série de Ryan Murphy sem carinhas conhecidas, neste caso, Darren Cris e David Corenswet. Darren já trabalhou com Murphy em “Glee” (aí que saudades de Blaine e suas gravatas de borbuletas) e “American Crime Story – Versace”, já David estrelou “The Politian”.

Eles sabem ser os mocinhos por quem nos nós apaixonamos e torcemos a série inteira, mesmo sendo controversos.

Camille Washington é vivida por Laura Harrier, conhecida por seus papeis em “Homem Aranha – De Volta para Casa” e “Infiltrados na Klan”. Claire Wood é representada por Samara Weaving, um de seus trabalhados mais conhecidos é “Três Anúncios Para Um Crime”.

O interessante entre essas duas personagens é que se inicia parecendo ser a clássica rivalidade entre a riquinha privilegiada e a talentosa deixada de lado, mas elas superam isso antes mesmo de se aprofundarem. Exaltam o “seja uma mulher que levanta a outra” … AMEI.

O produtor de cinema cansado de injustiças Dick Samuels é vivido por Joe Mantello, que estava afastado da indústria há vinte anos. Ele entrega o melhor lado do personagem, você acha que não vai gostar de Dick, mas termina o admirando. O braço direito de Dick é Ellen Kinkad, professora de atuação e responsável pela seleção de elenco, ela é vivida por Holland Taylor, outra que ficou caracterizada por causa de personagem em série, ela era a mãe de Charlie Sheen em “Two and a Half Man”.

Mas, assim como Jim Parsons, mostrou que é muito mais do que um só papel famoso.

Avis Amberg, personagem poderoso e empoderado, liderou a empresa do marido quando foi preciso e fez mudanças importantes, é vivida por Patti LuPone. Eu não lembrava, mas eu a conheci como a terapeuta de Vanessa Ives em “Penny Dreadful”.

O lindo casal Archie e Rock é interpretado por dois atores ainda pouco conhecidos. Rock é Jake Picking teve alguns papeis pequenos em produções, sendo “Hollywood” o mais famoso, mas já confirmado no elenco de “Top Gun: Maverick”. Archie é Jeremy Pope, mais famoso nos palcos da Broadway, com duas indicações ao Tony Awards de 2019.

Depois de ter declarado minha admiração à série, preciso avisar: não desistam no primeiro episódio e não o assistam com a família (caso você tenha vergonha).

Não tem censura, tem nudez mesmo … Mas a série se desenvolve depois e você vai entender o porquê de começar desse jeito!

Até mais.


Confira o trailer:

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