Entre Avó e Neta – “A Troca”
Quantas vezes você já pensou em trocar de lugar com alguém para, sei lá, ter “férias” dos problemas diários da sua vida?
Essa é a solução encontrada por Eileen e Leena Cotton no livro “A Troca”, da autora Beth O’Leary, que volta a encantar os eleitores depois de “Teto Para Dois”. Ambas as obras foram publicadas no Brasil pela Intrínseca.
Leena Cotton tem 29 anos, é uma ambiciosa consultoria econômica, com carreira em ascensão em uma grande empresa de Londres, mas com alguns planos guardados de abrir seu próprio negócio, ao lado da amiga e colega de trabalho Bee.
Eileen Cotton tem 79 anos, vive ao norte da Inglaterra, no condado de Yorkshire, em uma vila chamada Hamleigh, dentro de Hamleigh-in-Hanksdale. Resumindo, uma cidade campestre muito calma, onde foi morar ainda nova, recém-casada. Agora ela está se sentindo sem rumo, depois de ter sido abandonada pelo marido, Wade, e vive com projetos inacabados e, talvez, grandes demais para esse lugarzinho.
Na verdade, são duas Eileen’s Cotton, Leena é o apelido da neta que recebeu o nome da avó, que são próximas até hoje, tanto por motivos bons quanto por motivos negativos. Há pouco mais de um ano elas perderam alguém muito especial, Carla, a irmã mais nova de Leena.
Isso afastou Leena da mãe, Marian, mas manteve a boa relação com a avó. Pessoalmente, essa perda representou muito para Leena, ela tentou seguir em frente, continuar trabalhando da mesma forma, mas aos poucos aquilo foi a destruindo por dentro. Ela desenvolveu síndrome do pânico, o que atrapalhou no trabalho, fazendo-a “ganhar” uma licença de 02 meses para lidar com o luto e voltar a ser quem era.
No começo Leena se sentiu perdida de verdade, aquilo era a única coisa sólida que tinha na vida naquele momento, embora ainda tivesse o apoio deliberado dos amigos Martha e Fitz (com quem dividia apartamento), do namorado, Ethan, e da avó.
Em uma ligação entre ela Eileen a convenceu de ir a visitar e Leena foi passar um final de semana com a avó.
A vila de Eileen é dessas bem caricatas, com poucos habitantes e cada um é marcante de seu jeito, mas tem um defeito seríssimo para ela nesse momento: não há homens da sua idade que valham a pena investir. Esse é o novo projeto dela, encontrar um novo amor.
Elas conversando sobre a situação de cada uma surgiu a ideia de usar esses dois meses para trocarem de lugar, Leena cuidaria das coisas em Hamleigh e Eileen iria passar esse tempo com Martha e Fitz no apartamento localizado em um bairro de artistas em Londres, ativando o perfil no site de namoro e procurando londrinos acima dos 70 anos.
Elas mal sabiam da real mudança que viria na vida delas.
Eileen se sentiu perdida no começo, mas lembrou de seus grandes sonhos quando jovem, interrompidos por um casamento por conveniência. Aos poucos percebeu o quão solitária aquela cidade poderia ser e logo começou um novo projeto, além daquele do amor novo: criar uma área de convivência para idosos.
Ela uniu um prédio em que poucas pessoas se conheciam, aconselhou os amigos próximos de Leena, tornando-se ela mesma amiga deles. Ajudou Bee a entender o que ela procurava como “homem perfeito”, servindo até de cupido. Fez Fitz encontrar seu propósito e seu talento de verdade. Acalmou Martha quanto ao futuro próximo.
Isso tudo enquanto tinha um relacionamento casual com Tod, conversava com um tal de Howard e reconhecia no antigo vizinho, Arnold, alguém muito além daquele velho rabugento que implica com ela por causa do jardim em Hamleigh (ele também entrou no site de relacionamento e conversava com ela por lá).
Leena sofreu um pouco mais em Hamleigh. Primeiro ela percebeu que a vida de Eileen não é nada monótona, ela é como o coração daquela comunidade, todo dia tinha uma atividade diferente para fazer, fosse uma reunião da Patrulha da Cidade ou caminhar com o cachorro de Jackson, o enteado de Arnold, que Leena se lembra vagamente das férias que passava ali quando criança.
Os dois projetos atuais é ajudar na locomoção dos idosos dos arredores da cidade, assim eles poderiam socializar melhor e não se sentirem tão sozinhos, e a tradicional festa de Primeiro de Maio, a qual arrecadava dinheiro para uma instituição (dessa vez seria destinada aos pacientes oncológicos e suas famílias, em homenagem a Carla).
Além disso tinha Marian, a mãe de Leena. Ela fora instruída pela avó para sempre está de olho na mãe, porque ela não estava bem. Leena não deu tanta importância, mas só depois descobriu que Marian havia passado por episódios sérios de depressão e que, assim como ela, não havia superado a perda de Carla.
Mesmo com a resistência dos Patrulheiros da Cidade, liderado por Betsy e formado por alguns cidadãos implicantes de Hamleigh, Leena conseguiu não só por em prática os projetos da avó, mas também conquistar a amizade e confiança daquelas pessoas, encontrando ali um lar mais aconchegante que Londres.
Refletiu muito sobre o luto, superou os problemas com a mãe, redescobriu quem era de verdade e se apaixonou por alguém que realmente valia a pena, Jackson … Quanto a Ethan? Aí só lendo, porque é uma história boa de mias para ser um spoiler.
De toda forma, as mulheres Cotton se uniram na dor, mudaram um pouco a perspectiva, entendendo os desafios da outra, vivendo aventuras que nunca imaginaram viver e homenagearam Carla da melhor forma que conseguiram.
Seja na grande e imponente Londres ou na pequena, aconchegante e, talvez irritante, Hamleigh o amor estava presente, assim como a superação, a amizade, o propósito e o sentimento de comunidade, eles só precisavam procurar direitinho e se expressar melhor.
É uma leitura incrivelmente gostosa de ser feita e emocionante, a narração se reveza entre Leena e Eileen, o que nos ajuda entender a mudança de perspectiva entre elas, com descrições excelentes, fazendo o leitor se sentir dentro da história.
Aliás, esse é um daqueles livros que conseguimos ver as cenas se desenrolarem como se fosse um filme. Se sua imaginação for boa, é até possível pensar em possível atores que estariam na trama.
Eu sei que consegui ver Jane Fonda como Eileen Cotton e Adam Driver como Jackson … Embora a nacionalidade não esteja certa, porque a história se passa na Inglaterra e eles são dos EUA, mas vocês entenderam a intenção (né?).
Ah, falando em filmes, quando eu vi o livro pela primeira vez lembrei do filme “O Amor Não Tira Férias”, com Cameron Dias, Kate Winslet, Jude Law e Jack Black. A intenção é bem parecida, porque, no filme, Amanda e Iris realmente trocam de lugar, mas o livro é bem mais intimista, por se tratar de pessoas da mesma família, compartilhando dores iguais.
De toda forma, enquanto não sai o filme de “A Troca” (a fonte dessa notícia é a minha cabeça e minha vontade de ver a história sendo contada em filme mesmo, não levem a sério … a não ser que você seja produtor de cinema e compre os direitos e queira fazer um filmão =D), dá para assistir “O Amor Não Tira Férias” (disponível no Prime Vídeo).
Até mais!