Vou pedir um favor a você, leitor, antes que dê prosseguimento neste review: não vá ao cinema para buscar um filme “cabeça”. Emoji tem alguns momentos de reflexão, uma moral embutida, mas nada a ser levado no rigor extremo. Não cometa o erro de comparar essa animação com outras mais profundas como Divertida Mente, Wall-e, Up, Os Smurfs e a Vila Perdida e Toy Story ou mesmo as puramente divertidas, bem humoradas, entre as quais destaco Detona Ralph, Hotel Transilvânia e Monstros S.A.. Até os que têm poucas pretensões de serem “filosóficos” possuem alguma lição nas entrelinhas, basta olhar com atenção.
Emoji é uma animação feita para um público infantil, isso é um fato. Entretanto, ser um filme infantil não é demérito. Ri em algumas passagens e acompanhei as reações dos meus filhos durante toda a projeção. Eles se divertiram do início ao fim. São crianças com faixas etárias diferentes e, ainda assim, curtiram muito essa nova animação. Um fato que alguns críticos esquecem é que as animações devem ser voltadas ao seu público alvo: as crianças. Nós, adultos, somos apenas o público que surge em consequência da necessidade do acompanhamento delas, mas, basicamente, animações infantis devem ser feitas para as crianças. Caso os desenvolvedores dessas obras consigam conciliar diversão e profundidade, parabéns. O que não pode existir é uma “onda de críticas cuja meta seja degradar uma animação por ela ser infantil. Quer drama, conflito existencial e lições para despertar a auto-crítica? Então, procure por filmes cult ou busque o cinema adulto. Emoji é uma obra para crianças, mas que tem potencial para divertir também os adultos… desde que não queiram uma análise com o psicólogo. Sem chatices, por favor.
Só para citar, vi minha filha em desespero com a “morte” do amigo imaginário em Divertida Mente. Ela praticamente parou o cinema com seu choro, pois é difícil para uma criancinha compreender o conceito de morte e perda com a tranquilidade (ou não) de um adulto. Animações puramente divertidas são necessárias também!
Agora, esclarecimentos feitos, vamos à análise de Emoji: o Filme. Antes, um breve trailer para ampliar a imersão neste review.
A trama mostra o dilema de um emoji chamado Gene, cujo legado é seguir os passos de sucesso dos pais. Ele tem sob os ombros a pressão de fazer um trabalho tão bom quanto o deles e isso significa replicar a carinha que o usuário escolheu. Gene é um emoji que representa o tédio, porém ele também consegue fazer outras expressões e isso é considerado um bug.
No universo de Gene, na realidade um aplicativo de mensagens, as funções deles são, basicamente, demonstrar sentimentos e sensações com apenas uma imagem. Esse foi um ponto bem explicado na narrativa que comparou os emojis e emoticons aos hieróglifos, o que não deixa de ser uma verdade, guardadas as devidas proporções.
O longa de animação tem algumas premissas básicas já vistas em outras produções: um vilão improvável, a famosa Jornada do Herói, um escudeiro tão atrapalhado quanto o Sam de O Senhor dos Anéis, uma companheira com dons incomuns, entre outras. Há novidades em Emoji? Sim, mas são todas basicamente visuais, o que é o ponto alto do filme. A trama é simples… e muito eficiente. Acompanhei as crianças em suas oscilações de humor. Risos, tensão, atenção. O filme cumpriu com sua meta principal que é a de divertir os pequeninos.
O usuário.
Alex é o dono do smartphone onde “moram” os emojis. Ele é o responsável pelo momento mais glorioso da vida dos emojis: ser escolhido em uma mensagem (as cenas para essa escolha lembram as máquinas da Matrix coletando os espécimes). É quase ritualístico.
A família de Gene foi um sucesso em sua função, mas o bug e o nervosismo dele o impedem de fazer seu trabalho de forma correta. Esse é o ponto de partida para o caos que irá, literalmente, modificar a vida dele, de seu amigo abandonado Hi-Five (ou Bate Aqui) e de uma misteriosa personagens chamada Rebelde. Juntos, eles irão trafegar pelos recantos de outros aplicativos do celular de Alex, irão para o submundo (áreas onde ficam app esquecidos) e até acessarão o firewall do smartphone para alcançar a nuvem em busca da solução para os problemas dos três.
Só há um porém. Cada ação deles reflete diretamente no smart de Alex, provocando confusão e a impressão de que o aparelho está com problemas. Assim, ou Alex conserta o aparelho ou sua vida social na escola estará arruinada. E consertar o aparelho é sinônimo de formatar.
Pormenores.
Com seu smartphone problemático, Alex pensa mesmo em formatar o aparelho. Para evitar isso, o bug de Gene tem que ser corrigido. Essa é apenas uma parcela dos problemas do trio. Gene, Bate Aqui e Rebelde precisam fugir alucinadamente dos Bots enviados por Sorrisete, a líder dos emojis, que pretende eliminar seus problemas e manter sua influência no aplicativo de mensagens.
No contexto acima, o diretor e roteirista Anthony Leondis teve ótimas ideias que são lançadas no longa-metragem. Eles criticam o facebook por sua superficialidade, um aplicativo onde as pessoas são amigas sem sequer conversarem, além da importância das curtidas. A futilidade por trás de um aplicativo que tem uma ótima função primordial (aproximar pessoas que estavam afastadas) foi criticada com bastante propriedade. Mas não foram feitas apenas críticas, obviamente.
O uso de aplicativos famosos mostra que houve um grande planejamento antes da produção do filme. Twitter, Instagram, Dropbox, Candy Crush, Spotify e Just Dance são os app que se destacam na trama, além do aplicativo de mensagem que não teve seu ícone e nome evidenciados.
Até os anti-malware são citados.
Não dá para esquecer o ótimo desempenho dos dubladores nacionais. Eles conseguiram novamente nos presentear com vozes perfeitamente enquadradas nos personagens. Good Job!
O uso dos emojis.
Esse é um ponto crucial da narrativa, já que fica em questão a funcionalidade deles. Ver alguns abandonados e outros esquecidos ou pouco usados é uma tremenda crítica aos rótulos e à fama que, em geral, servem para ditar nosso lugar na sociedade.
Mas o que fica na mente após o fim da animação é uma só coisa: precisamos usar os demais emojis!
Assim, deixe de lado a busca por animações com base em premissas de Freud e leve suas crianças para curtirem ver este filme que só tem um propósito: divertir.
Bônus.
Antes de Emoji, tivemos o prazer de assistir um curta com os personagens de Hotel Transilvânia. O curta, chamado Puppy, mostra Drac agradando seu netinho com um cãozinho. O problema é que o cachorrinho é um monstro – literalmente – incontrolável, apesar de bem meigo. O estrago está feito e garante bons risos em crianças e adultos, isso sem contar o fato de que nos prepara para um próximo Hotel Transilvânia.