E=mc² – “Aqui quem fala é Albert Eistein”

Há uma certa curiosidade de conhecer as pessoas por trás dos grandes feitos e descobertas da humanidade, os grandes cientistas que contribuíram para a evolução do mundo (ou involução).

Movido por essa criatividade e uma improvável amizade, o autor inglês R.J Gadney escreveu a obra “Aqui quem fala é Albert Eistein”, trazida ao Brasil pela Intrínseca, com tradução de Vieira Ribeiro.

O pressuposto dessa história, com algumas licenças poéticas, é um telefone equivocado. A jovem Mimi Beaufort queria ligar para a farmácia, mas acaba discando o número de um morador ilustre de Princeton, o grande Albert Eistein. E, detalhe, era 14 de março de 1954, aniversário de 75 do cientista.

A partir dessa conversa Mimi e a irmã dela, Isabella, firmaram essa improvável amizade com Eistein. Já o livro volta para 14 de março e 1879, na cidade de Ulm, Württemberg, Alemanha, começando a contar sobre a vida da família judia dos Eistein.

Albert era o segundo filho dessa família e foi descreditado por muito tempo, sua mãe dizia que a cabeça do garoto era deformada e seu comportamento era estranho, então ele não iria vingar por muito tempo. Acontece que ele só era diferente da irmã e dos primos, era centrado nos pensamentos e na paixão pela música.

A estranheza dele era inteligência, uma inteligência que desafiou as possibilidades que a família tinha e os riscos de ser minoria em um país preconceituoso. Albert era para ter cursado eletrotécnica, assim ele iria trabalhar na empresa da família, que vez por outra caia na falência, mas ele não aceitou esse destino e ainda conseguiu sair da Alemanha.

Ele investiu no intelecto, na ciência, no orgulho de ser judeu e no seu violino, que sempre o ajudava a chegar mais perto de seu grande ídolo da música, Mozart. Enfrentou o antissemitismo e as desconfianças por onde andou, sentiu o amargo dos resultados negativos de suas descobertas, em especial a bomba atômica que atingiu Hiroshima e Nagasaki no final da Segunda Guerra Mundial.

Ele foi casado duas vezes, primeiro com Mileva, formaram um casal mestiço que, por algum tempo, vivia um relacionamento não oficial (no início do século XX). Nesse primeiro casamento ele teve três filhos, o destino da mais velha ninguém sabe ao certo e o caçula herdou os problemas psiquiátricos da mãe, tendo vivida a vida toda em manicômios. O segundo casamento foi com sua prima Elsa, não tiveram filhos juntos, mas ele ganhou duas enteadas, Ilsa e Margot.

É no relato dos relacionamentos amorosos que conhecemos os defeitos de Albert. Ele começou o relacionamento com Elsa quando ainda era casado com Mileva, embora o casamento já estivesse em crise. Depois que se divorciou com Mileva, momento em que deveria oficializar as coisas com Elsa, ele ainda teve um flerte com a enteada, Ilsa.

De toda forma, Elsa foi quem acompanhou Albert na época mais difícil para os judeus na Alemanha, especialmente para os pensadores e cientistas, o governo Nazista. O casal viajou muito para as palestras e Albert pelo mundo, fixando residência em Princeton, nos EUA, com emprego na universidade como professor.

Elsa faleceu bem antes de Albert, que agora só tinha as velhas amigas e funcionárias Helen e Johanna, além de alguns amigos da ciência. Isso não o tornou razinza, ele ficou conhecido por andar pelas ruas da cidade de forma humilde, tirar foto e dar autógrafo a quem pedisse, dentre outras coisas que seriam irrelevantes para qualquer pessoa, mas que chamam atenção por seres feitas por uma personalidade como ele.

Boa parte do livro tem base histórica, o autor deixa claro nas referências, incluindo aí cartas, bilhetes e trechos de discursos, além das fotos que ilustram as páginas da obra. Contudo, os diálogos mais íntimos talvez façam parte das licenças poéticas do autor, muito bem-feitos.

Tem um muito divertido dos primeiros anos de escola de Albert, ele tinha uns 7 ou 8 anos, momento em que havia aprendido de cor e salteado o livro “João Felpudo”, mas o professor duvidou dele, para provar seu ponto, o garoto já genial recita a primeira página em latim.

Dois detalhes me marcaram nessa passagem. Primeiro é o fato de “João Felpudo” ser um livro de origem alemã, algo que não sabia e surpreendeu por ter sido uma referência (nunca o li, mas minha mãe sempre faz referências ao clássico). Segundo foi ter lido a interjeição “Eistein” sem ser uma ironia.

Há muito tempo usamos essa palavra para ironizar ou zoar algum amigo que dá ideias nada geniais … Bom, pelo menos eu já vi muito desse uso do “Eistein”. Mas antes de esse termo ser o que é hoje era o sobrenome de um garoto inteligente e levemente atrevido, que se transformou em um dos cientistas mais importantes da humanidade.

Até mais!

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