Ele é a reflexão – “A Serenidade do Zero”

Temos a tendência de classificar numericamente qualquer coisa, já notam isso?!

Quantos e quantos “top 10”, “top 20”, “top 05”, vemos na vida?! Inclusive nesta humilde coluna (amo listas).

Mas essa tendência tem um outro lado: nunca pensamos no número zero, que de tão esquecido precisa ser escrito por extenso, porque senão é confundido com a letra “o”.

A poeta, cronista, resenhista e ensaísta Alexandra Almeida pensou no pobre e desolado “0” (é diferente do “o”, confundam não) e publicou “A Serenidade do Zero”, sua segunda obra publicada.

Em uma encadernação linda e delicada estão unidos 39 textos poéticos que nos mostram o quão importante é o número esquecido, aquele deixado de lado ou com conotação negativa.

É interessante ler a diversidade de perspectivas que nos dá algo singular, em cada verso nota-se a liberdade que é ver o zero de outra maneira, quebrando uma tendência involuntária.

Sim leitores, a serenidade do 0 traz liberdade de pensamento!!!

Confesso que alguns dos textos devem ser lidos mais de uma vez, com muita atenção, uma vez que a autora usa quase todas as figuras de linguagens que a Língua Portuguesa nos ensina, fazendo com que imaginemos um mundo diferente para cada situação.

Ouso em dizer que qualquer desses textos podem ser usados como exercício para quem precisa entender essas figuras.

Dos 39 textos destaco alguns que chamaram mais minha atenção.

Em o “Poema Para dias Chuvosos” há um trecho que nos faz refletir sobre o que é importante de verdade:

“[…] As pessoas estão acostumadas com a superficialidade, / com a previsibilidade e os números do sem mistério/ Por que não a utopia de um zero, surgindo daí a chuva? […]”

Em “Máscaras” a reflexão cai sobre a realidade de cada um, sobre entender o que escondemos quando usamos este adorno:

“[…]Mais distantes dos eus, mais vizinhas dos corpos/ É hora de partir as máscaras em dois e multiplicar em dois/ E multiplicar a equação das formas/ Nos carnavais em batismo dos corpos em chama/ Máscaras, os segredos dos corpos nus, ou a nudez das almas? / Esconder a face ou expor a vida em festa? Cabe a você a resposta, máscara”.

A verdade também é questionada em “O Imenso Papaguaio de Flauberte” no momento em que se diz:

“[…]De Shakespeare a Flaubert, eu me pergunto:/ o mistério…/ Não seria este o eterno sonho do homem, / seu alento após o sono do morte?/ Em que verdade se esconde o homem?/ Nas verdes asas inocentes de um pássaro?/ No mistério que se esconde entre o Céu e a Terra?/ No encontro entre os seres?[…]”

Uma conclusão pode ser feita: o zero prepara para que tudo se inicia, então sim, ele é tão importante quanto todos os outros números.

Deixo todos com essa reflexão.

Beijinhos e até mais.

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