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Economizar poder ser demais – “Um Amável Pão-Duro”

Economizar poder ser demais – “Um Amável Pão-Duro”
  • Publicado em: outubro 1, 2020

Esperar o post da rua acender para ter luz em casa, guardar sache de ketchup para depois, ficar com caneta emprestada, fugir da vaquinha para comprar presente de colega, nunca comprar roupa nova, evitar se aproximar de pessoas, ter como melhor amigo e “terapeuta” o gente da conta.

Loucura, né? Bom, isso é um uma parte do que François Gautier é capaz de fazer para economizar no filme “Um Amável Pão-Duro”, filme de 2016 dirigido por Fred Cavayé, que também auxilia na adaptação do roteiro, ao lado de Laurente Turner e Nicolas Cuche. A história original é de Olivier Dazat e eles tiveram a colaboração de Samantha Mazeras. O título se encontra disponível no catálogo nacional da Amazon Prime Video.

François é filho de grande gastador, então a mãe cria-o para ser o ser humano mais econômico possível, o plano deu mais do certo, mas o resultado foi uma pessoa peculiar. Embora tenha um talento incontestável para o violino, o que lhe deu uma vaga na orquestra da cidade e alunos particulares, ele não tem amigos e nem é querido pelos colegas.

A razão disso é que ele se nega a qualquer socialização que envolve gastar nem que seja o mínimo. Chega um momento que isso o impede de sequer conhecer o vizinho do lado ou ter relacionamentos duradouros.

Ele vislumbra a possibilidade de um romance quando Valérie, a nova integrante da orquestra aparece. Ela também demonstra que gosta muito dele, mas ela não o conhece muito bem, então os demais colegas começam a fazer piadas da situação. Até aí tudo bem, nada muda enquanto algo de fato acontecer.

O elemento que faltava surge na mesma semana, Laura. Ela é a filha de uma antiga namorada, Carole, que havia engravidado dele, mas não conseguiu sequer dar a notícia. Ele terminou com ela em pouco tempo, porque o aniversário dela estava perto e ele não queria comprar um presente.

Eles não tinham contato algum, mas a menina perguntava do pai e, com vergonha de dizer quem era, Carole inventou uma história bonita. Disse a Laura que o pai não era presente porque ele morava no México, onde era voluntário em um orfanato, todo seu dinheiro dele era para essa instituição. Ela segurou a história por um bom tempo, mas quando Laura completa 18 anos as coisas se complicam.

Ela quer ter contato com o pai, então a mãe diz que ele voltou para a França e morava numa cidade perto, Laura surge na casa de François e diz a verdade para ele. Ele acha que é golpe, com medo de perder todo seu dinheiro, mas ela o convence de que não é, ela só queria o conhecer.

Ela fica na casa com François, mas pagando aluguel. Aos poucos eles vão se aproximando e ela aceita as economias do pai porque, aparentemente, acha que vai tudo para o orfanato mexicano. Essa história corre por todo o ciclo social dele, todos passam a gostar dele por causa disso, Valérie, que é realmente voluntária em uma instituição francesa, fica ainda mais apaixonada.

Dentre outras reviravoltas, a mais interessante de ver é o fato de François não conseguir reverter a história do orfanato. Ele recebeu doações reais e, com influência de Laura, acaba realmente ajudando uma instituição no México, indo pessoalmente entregar, nem que tenha sido de carona, a ida e a volta.

Essa história é bem simples, embora tenha mil artifícios, por causa dos malabarismos econômicos de François. É o retrato de alguém com tanto medo de se doar que acaba ficando isolado, ele não só economiza dinheiro, ele economiza sentimentos também.

E nem estou falando em romances, falo de amizades mesmo. O cara não tem ninguém com quem conversar, tem medo de que, se fizer amizades, vai perder dinheiro, mal sabia ele que as amizades são riquezas que o dinheiro não compra.

Mas isso tudo é embalado com o humor francês, que tende a ser mais sóbrio do que o brasileiro, menos escrachado, talvez por isso eu goste. Neste caso há até certo exagero, porque o personagem pede.

O elenco é pequeno, basicamente vemos François, Valérie e Laura, com algumas aparições do vizinho Cedric.

François Gutier é vivido por Dany Boon, já experiente em comédias desse tipo, como “Uma Agente Muito Louca” e está no aclamado filme “Mistério no Mediterrâneo” (com Adam Sandler e Jennifer Aniston). Laura é interpretada por Noémi Schmidt, conhecida pelas séries “Versailles” e “Inside”.

Valérie é vivida por Laurence Arné, conhecida por filmes como “O Date Perfeito” e “Depressão entre Amigos”, além da série “Wokingirls”. Cedric é interpretado por Patrick Ridremont, que estrelou a série “Unité 42” e o filme “Mulheres Armadas, Homens de Lata”, dentre outros títulos.

O pai de François, que aparece rapidamente nos primeiros segundos do filme, é Jérémy Lopez, que recentemente esteve no filme “Espírito de Família”.

 

Comédias sempre são sempre bem vindas, em francês então, a gente ri e aprende mais um idioma.

Até mais!

 

Imagem de destaque é do IMDb.

Written By
Nivia Xaxa

Advogada, focada no Direito da Moda (Fashion Law), bailarina amadora (clássico e jazz) e apaixonada por cultura pop. Amo escrever, ainda mais quando se trata de livros, filmes e séries.