Duda Beat – Tara Tour no Bar Opinião
Talvez a coisa mais importante e que mais faz crescer a experiência profissional de coberturas de show é se despir dos preconceitos e experimentar. Nessas mais de 100 experiências sonoras, posso afirmar que a variedade de estilos sempre foi uma tônica nessa jornada. Experimentar é sempre preciso. E sexta passada, em mais uma gélida noite do quase inverno porto-alegrense, me aventurei no Bar Opinião para conhecer o show da diva da sofrência pop, a Madonna pernambucana ou simplesmente Duda Beat.
Para a minha surpresa, o show marcado para às 23 horas, começou quase a uma da manhã, o que para um cara como eu, é quase de manhã. Mas fazer o que? Era uma sexta-feira, e cerca de 650 jovens fãs pilhados estavam pouco preocupados com o fato de o início dessa balada pop começar tão tarde. Como diria a música do 14 Bis, essa linda juventude. Mas nada de velharia, estou falando de um show de Duda Beat. Quase uma da matina, eis que surge a banda, composta por quatro integrantes, no fundo do palco e como um raio, acompanhada por duas dançarinas, a cantora surge com óculos escuros, botas brancas, um shortinho e uma camisa xadrez, fazendo a massa delirar.

Nesse seu show, Tara Tour, ela procura dividir em três atos suas composições, que são regadas à muita música eletrônica, batidas precisas, elementos regionais brasileiros, romantismo, sensualidade e pitadas de dor de amor. Seu show é uma sequência quase constante de seus sucessos, começando com teu beijo,(é assim que se escreve algumas dessas músicas, em minúsculo), do seu último disco Tara e Tal. Aí segue com PREPARADA (essa é em maiúsculo) e Chega. As três tocadas quase sem pausa. Seguindo com canções como Bedi Beat, Quem me Dera (do Tara e Tal). Nessas intermináveis parcerias e collabs, ela puxa Ai que Calor, que gravou como Pabllo Vittar. Do DJ Omulu, ela ataca de Meu Jeito de Amar. Tem tempo de fazer um cover de Lana Del Rey, com Chapadinha, mas os momentos de êxtase do primeiro terço do show são Tangerina (parceria dela com Tiago Iorc), com o tecladista fazendo a parte vocal dele. Sucesso cantado com muita devoção pelos fãs e seu sucesso Bixinho, aquela em que ela fala que nunca sentiu desapego por ninguém. Se a primeira parte é um aquece para a festa, uma construção de um clima para para a sua sinergia entre cantora e plateia, ela conseguiu e com louvor. Duda tem bastante carisma, dança o tempo todo, faz coreografias um tanto simplórias, mas ousadas e sensuais, com suas dançarinas, para delírio da galera e seu público é daqueles devotados. Cantaram do início ao fim, não desgrudam os olhos da cantora um instante e vibram com cada canção.




Seguindo a Tara Tour, o segundo ato seria mais sossegado, em que ela canta suas dores de amor sem tanto aquele clima frenético do primeiro. Segue com Todo Carinho, do seu primeiro álbum, o Sinto Muito de 2018, por aí mozão, NIGHT MARé, do Tara e Tal, e Nem um pouquinho, que fez uma coolab com o cantor Trevo em 2021. BABY, do seu último disco, aquela que a cantora fala que sempre volta pro amor com olhos cheios de água de te ver. NA TUA CABEÇA antecede o sucesso Meu piseiro, uma das letras de maior sofrência da música brasileira, logicamente cantada às lágrimas pelos seus séquitos fãs.



No terceiro ato, Duda Beat promete voltar ao clima de festa do primeiro e com muito Reggaetown, Boombap, tendências eletrônicas como Edm, Lo Fi e drill (viva o Google, não tinha mínima ideia o que eram essas tais tendências). O que se segue então é o baile da Duda, com a volta das dançarinas, com canções, como Tocar Você, DRAMA, q prazer e doidinha, com os versos: “tô doidinha pra te usar, tô doidinha pra te usar”… Segue com DESAPAIXONAR, com o povo cantando junto: “e aí eu vi tudo rodar, tive que me desapaixonar com a raba pro ar”! Canta Egoísta, de seu primeiro disco e encerra a apresentação com a bonita SAUDADE DE VOCÊ, do seu último disco. Ainda tem tempo para um cover (dublado) de Chihiro, de Billie Ellish, para encerrar de vez a noitada da pernambucana com o público gaúcho.



Uma coisa que acho super louvável dos novos artistas é que eles têm muitas novidades. Ela praticamente executou todo o novo disco, e a galera respondeu muito bem, cantando e vibrando com cada nova canção. Os veteranos artistas são reféns de seus velhos e imutáveis sucessos, numa espécie de teimosia de suas audiências, que impede de dar chance ao novo. Com Duda Beat e essa nova geração eclética da nova música brasileira, a novidade é o tom que norteia suas carreiras. Mas voltando ao show, tudo é muito válido como experiência, cobrir um show assim faz a gente ver que o mundo é maior que nosso quarto (olha as velharias aí de novo), mas numa análise do show, as canções são extremamente repetitivas, muitas vezes bregas e as batidas, que eram para serem modernas, seguem um looping constante onde tudo parece igual.


Mesmo as coreografias não são nada de assombrosas e Duda mesmo com seu carisma, tem uma voz pequena, abusa de playbacks (talvez por causa do excesso de coreografias), mas sua simpatia conquistou um público extremamente nichado, que é uma tônica também dessa nova MPB, artistas que são adotados por certo tipo de audiência. Enfim, Duda não apresenta nada de novo no front, se esforça, é uma razoável compositora, não tem medo de fazer sua mistureba musical (que parece mesmo assim, tudo tão igual). Para ser nossa Madonna de Pernambuco ainda está devendo e rainha da sofrência só tivemos uma, que não esta mais entre nós.

