Duca Leindecker – 20 anos do Acústico Cidadão Quem no Araújo Vianna
Recentemente, no livro 100 Grandes Álbuns do Rock Gaúcho, de Cristiano Bastos e Rafael Cony, entre algumas estranhas ausências, em prol de duvidosos discos de panelinhas dos votantes, notei que o Cidadão Quem não tinha um disco entre os 100. Chega a ser estranho uma banda, que por 30 anos empilhou hits pops, com letras sensacionais e grandes músicos, não tenha sido lembrada em um capítulo especial. Enfim, como digo, listas são bússolas e às vezes apontam para caminhos diferentes. Mas a verdade é que em meio a tantas perdas, como as mortes de Cau Hafner e Luciano Leindecker, Duca Leindecker, o voz e guitarra da banda, está de volta para homenagear um clássico disco do cancioneiro do Rio Grande do Sul e da banda. 20 anos depois de Cidadão Quem Acústico, no Theatro São Pedro, Duca monta um time, reproduz o disco e faz alguns acréscimos no repertório. Quinta-feira passada, ele esteve no Araújo Vianna e apresentou essa versão 2024, desse baita disco e o NoSet conferiu tudo por lá.
No palco, alguns pufes sofisticados para os músicos e diversos abajures de vários tamanhos para dar aquele clima intimista do formato acústico. Na plateia, um enorme público, louco para reviver aquele momento histórico do álbum de 2004. Duca e a banda subiram no palco por volta das 21h30min e começaram o show com À La Recherche. Acompanhado por velhos conhecidos, como o baterista Claudio Mattos, o homem do cravo, piano e escaleta Eduardo Bisogno, Maurício Chaise nas cordas e Guilherme Leindecker, seu filho, no baixo acústico, Duca já poderia imaginar que viriam fortes emoções. Seguem com Girassois, um dos maiores sucessos da banda. Ovacionado ao fim, o cantor se levanta e visivelmente emocionado agradece à plateia por aquele momento inesquecível. E com No Quiero Armas fecha o primeiro trio de canções. Cidadão Quem é aquela banda que se tu vai a fundo na obra, tu vira fã e canta junto. Com letras fáceis, otimistas e alegres fica difícil passar incólume por elas. Músicas para bater palma, cantar junto o refrão bem alto e curtir o momento. E é o que a galera fez o show todo.
O baile segue com Música Inédita e logo depois, para cantar com ele a música Bossa, em um momento tocante, chama as sobrinhas, filhas de Luciano Leindecker, para o palco. As irmãs Isabela e Júlia, esbanjando talento e carisma, que certamente devem vir de sangue. Um telão ao fundo mostrava imagens antigas da banda e matamos as saudades de Luciano e Cau Hafner. Por Você antecede o primeiro sucesso da banda, no longínquo 1993. Carona, do primeiro álbum, é mais uma cantada com veemência pela galera. Seguem com outra grande e emocionante balada, o sucesso Os Segundos, mostrando a sensibilidade de Duca para belas composições.
O cantor então chama ao palco a lenda Humberto Gessinger, que fez dupla com ele no projeto Pouca Vogal. Juntos tocam o clássico Terra de Gigantes, dos Engenheiros do Hawaii, e relembram a parceria com a canção Breve. Difícil não aplaudir de pé essas duas lendas do rock gaúcho, juntas novamente no palco do templo chamado Araújo Vianna.
E por falar em lenda, antes de tocar aquela música que conta a história de amor do seu irmão mais velho naquela praia perto de Cidreira, sobe ao palco Renato Borghetti para tocar junto o clássico Pinhal. Como sempre, esbanjando técnica e extremamente sorridente (o que é raro pro Borghettinho), a música fica ainda melhor em mais um daqueles momentos antológicos, que entre tantas coberturas de show, jamais serão esquecidos. No resgate do show de 2004, ainda tocam Ao Fim de Tudo, um telão explica o porquê de comporem a próxima canção, Jimi, em homenagem a Hendrix, o genial guitarrista que partiu cedo demais, como lembram em vídeo antigo no telão, e ainda embalam com Yoko, talvez o par de músicas mais fracas do show. Mas a emoção volta quando Duca puxa os primeiros acordes de Dia Especial, para delírio do auditório. Essas são daquelas canções quase de autoajuda da banda, que provocam uma paz imensa e aquela vontade de cantar.
Segue com O Dia, que antecede uma que não estava no show original porque não tinha sido composta ainda. E o personagem inspirador da música estava ali, tocando aquele imenso contrabaixo acústico, que fez o pai ali do lado esperar tanto para lhe ver sorrir. Guilherme Leindecker, além de sorrir, canta muito e domina muito o instrumento. Momento emocionante (mais um) por saber que o sangue dos Leindecker ainda está vivo na musicalidade e na arte. Ah, e a música é o já clássico O Amanhã Colorido, aquela do azul e vermelho (aqui no Sul tem que ser assim, né?), com o Araújo de pé cantando. Seguem com Do Nosso Tempo, e ainda em êxtase, repetem Girassois, que já tinha sido tocada no início do show.Ainda temos tempo de, na despedida da banda, vermos a mãe do Duca no palco, emocionada, como todos nós que presenciamos por uma hora e meia um belíssimo e tocante show. Um show família, sentimento e coração puro. Mexe com as lembranças e saudades, mas como diz a música O Amanhã Colorido, não desista de quem desistiu, e Duca, mesmo com as pedradas da vida, não desistiu e ninguém desistiu dele. Ele está aí mantendo vivo o legado do Cidadão Quem, tocando cada vez melhor e cantando muito. Segue em frente com suas lindas canções, dando gás novo à banda e emocionando a todos nós mais uma vez.
Crédito das fotos: Vívian Carravetta