Dolores O´Riordan: o alerta sobre os males da depressão.

Antes de realmente entrar no assunto, devo esclarecer que não quero pegar o “gancho” da morte de Dolores O´Riordan ou fazer conjecturas sobre os motivos de sua partida. O que desejo com esse texto é apenas evidenciar os males da depressão (ainda que não seja um especialista) e dos demais problemas que estão atrelados à doença.

Dolores não era uma mulher comum. Linda, dona de uma das vozes mais amadas do planeta, rica, famosa, mãe e um exemplo de sucesso para muitas pessoas. Sua banda, The Cranberries, alcançou a impressionante meta de 17 milhões de cópias vendidas do álbum No Need to Argue (que eu tenho o orgulho de ter uma dos exemplares). Por intermédio de sua voz e do talento musical dos demais integrantes do grupo, eles chegaram a um patamar alcançado por poucos. Dolores foi treinadora do The Voice Ireland, teve sucessos como Zombie, Ode to my family, Linger e outros nas principais listas de sucessos do mundo.

Então, o que teria provocado a morte da cantora? Até o momento não há indícios de suicídio, segundo a polícia. Isso, contudo, não exime um culpado que a cercou durante anos: a depressão. Publicamente a cantora revelou que estava se medicando para controlar e eliminar os males da doença, mas foram muitos os problemas que a atingiram de 2011 para cá, desde a morte do pai até o fim de um casamento que durou mais de 20 anos. Entendam, não são problemas comuns que passam com o decorrer dos dias. São perdas grandes, impactantes e que marcam profundamente o âmago de uma pessoa.

Seu pai era um exemplo e um pilar para ela. Seu casamento era a base familiar que, não sabemos, ao ser desfeito pode ter abalado o comportamento dos filhos e até da própria cantora. O episódio da separação foi paralelo a um problema durante um voo, onde Dolores perdeu o controle e foi detida. Isso foi divulgado de forma extrema, pois era a vocalista do The Cranberries que havia surtado em um avião. Não perguntaram se a exposição iria afetá-la ainda mais. Apenas divulgaram e a jogaram aos leões.

Recentemente alguns shows foram cancelados por problemas de saúde (nem todos relacionados à depressão ou transtorno bipolar), o que não impediu a banda de realizar seu último álbum Something Else, que contém várias versões acústicas de grandes sucessos do grupo.

Muitos dirão que todos têm problemas. Outros dirão que ela tinha fama, dinheiro e sucesso suficientes para vencer esses entraves durante sua vida pessoal. Para todos estes eu digo apenas isso: não há dinheiro no mundo que possa curar um mal que nos corrói segundo a segundo. A depressão mina as forças, o ânimo, a vontade de viver. Pessoas com esse mal sorriem, vivem e tentam seguir seu caminho, porém as aparências nos enganam, fazem com que acreditemos que nada os aflige. Por dentro, contudo, estão corroídas. São mesas infestadas de cupins, cobertas com uma bela toalha, mas que podem ruir a qualquer segundo.

Dolores tinha muitos atributos, o que não a tornava mais resistente que outra pessoa qualquer. Ela era uma mulher que, por trás da máscara de celebridade, teve vários problemas. Esses problemas podem ter passado, o que não significa que não tenham deixado marcas e feridas. Chega um dia em que o corpo não mais aguenta.

Vou relembrá-los que esse texto não é uma afirmação de que a cantora morreu por depressão, suicídio ou outra causa que seja apenas palpite, conjecturas. Esse texto é para frisar os males de um mal silencioso, persistente e que mata aos poucos. Escrevo para alertar de um problema que afeta boa parte da população mundial, responsável por inúmeros suicídios e dissoluções familiares. Ela sofria de depressão e, ainda que os estragos atuais fossem menores do que em seu auge, a doença deixou – e isso eu afirmo – marcas e sequelas. Ninguém sai o mesmo depois de anos sob o peso de uma doença tão cruel.

Um trecho de uma música do R.E.M. (Loosing my religion) destaca – creio que indiretamente – a sensação de estar acuado por essa cruel enfermidade:

That’s me in the corner
That’s me in the spotlight
Losing my religion
Trying to keep up with you
And I don’t know if I can do it

Cuja tradução é a seguinte:

Aquele sou eu no canto
Aquele sou eu no centro das atenções
Perdendo minha fé
Tentando te acompanhar
E eu não sei se eu consigo fazer isso

Hoje, quarto dia da morte dela, a tristeza ainda transita ao nosso redor. Fãs sabem que uma carreira cheia de sucesso e beleza foi interrompida de forma abrupta e silenciosa, tal como a depressão age.

Dela, restarão suas canções, o sorriso e a voz de uma irlandesa que marcou uma geração e inspirou muitas outras cantoras pelo mundo. A bem da verdade, tenha sido a depressão ou outro fator, o que fica é a sensação de vazio. A música mundial está de luto, e nós, fãs, nos despedimos da melhor forma possível: ouvindo suas canções e desejando que ela esteja em paz.

Deixo, ao final do post, uma das mais belas canções da banda e uma seleção de fotos de Dolores e capas dos principais álbuns do grupo.

 

 

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