Divórcio, é o novo filme do diretor Pedro Amorim (que fez o razoavelmente conhecido Mato Sem Cachorro) e trata da história do casal, Noeli (Camila Morgado) e Júlio (Murílio Benício). Após deixar uma fortuna familiar pra trás, Noeli foge com Júlio e os dois se casam muito pobres, mas graças a uma receita de molho de tomate, eles ganham muito dinheiro, até que a nova vida no mundo socialite do casal, começa a criar alguns problemas e conflitos entre eles.
O trailer, indica que teremos uma história galhofa que satiriza, em certo ponto, Sr. e Sra Smith, mas é apenas um chamariz para maquiar mais um filme pastelão, sem inventividade nenhuma, do nosso cinema.
O roteiro consegue estereotipar de forma muito rasa os habitantes da cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. A paridade com as novelas globais na hora de fazer personagens a partir dos moradores locais é clara, os atores forçam um sotaque sem verossimilhança alguma com o real, e o texto trás um bordão que provavelmente os “”pesquisadores”” ouviram muito enquanto faziam a sua “”pesquisa”” (No caso aqui é: “Morar no interior é um cu”). Tudo isso para tentar escancarar para o espectador algo que eles não conseguem apresentar com a fotografia ou com um mise en cene bem executado. Que é: Olha, estamos no meio do nada e estes aqui são um bando de caipiras.
Mas até que no início, o filme parece promissor e mostra uma qualidade técnica considerável, principalmente em relação a sequência de passagem de tempo para o casal, da alegria dos noivos recém-casados até o momento em que tudo começa a desequilibrar, em uma montagem muito bem feita, que apresenta o par de protagonistas.
Os personagens coadjuvantes, que também são estrelas globais, não decepcionam na atuação, mas são personagens completamente descartáveis que aparecem vez ou outra para arrancar uma risada do público menos rabugento. Nenhuma decisão tomada por coadjuvantes, tem consequência, a história vai os deixando de lado e recolocando em cena assim que necessário, mas é como se eles não tivessem uma vida por trás daquela situação que protagoniza a história principal, desde a passagem de tempo num curto clipe citada ali em cima, até a bola-de-neve em que os dois vão se metendo para fazê-los se odiarem cada vez mais.
Mas, se a crítica ao estereótipo dos moradores da cidade do interior é algo que realmente deve ser levado em conta, o que dizer então do estereótipo de homem e de mulher que o filme faz? A misoginia é colocada e explorada pelos personagens masculinos da história, o que não teria problema algum se fosse para mostrar como isso deve ser subvertido e não tem espaço no mundo de hoje. Mas nada é. As conversas masculinas do filme viram ‘piadas de zap’ sem fundamento algum, sem uma punição no fim, ou uma transformação importante na personalidade do protagonista.
O filme começa com homem bobalhão amando o carrão e a mulher histérica colecionando sapatos caros, passa por homem com medo de perder o seu dinheiro por conta das pensões que tem que pagar a ex-esposa, e a mulher se fingindo de coitada para conseguir a guarda das crianças e com isso ganhar muito dinheiro do marido… e… fica por isso mesmo. Os personagens não amadurecem e não existe arco dramático, já que eles apenas reatam o relacionamento após uma epifania de que se amam pela história que construíram. Epifania essa que não deu a Noeli a posição que merecia na empresa que ajudou a fundar ou fez o marido perceber que ela pode gastar o dinheiro que ela quiser com sapatos, se assim o quiser.
Em qualquer arte, é triste quando uma obra é concebida sem inovação alguma em relação as anteriores, e ainda mais, quando essa obra tem por referências coisas que já não são tão boas, fica visivelmente pior. Esse estilo de comédia brasileira, nunca atingiu seu auge de qualidade, e já está mais que saturada, resta a nós, torcer para que a bilheteria mostre isso para os produtores de cinema com mais clareza.
Resumindo: Divórcio aposta em algumas piadas retrógradas feitas nas mídias modernas pra arrancar risada do público, e consegue. E na parte técnica, consegue ter uns acertos relevantes, principalmente na montagem. Mas o filme inteiro tem o ponto central pautado em duas visões de muito mal gosto, a de como são as pessoas do interior, e como é a relação de todo homem com toda mulher. Por isso merece uma nota