Ditaduras para mulheres latino-americanas – “Ana. Sem Título”

O continente latino-americano, esse que começa lá no México e termina no extremo sul da Argentina, sofreu com Ditaduras Militares durante as décadas de 1970 e 1980, deixando marcas profundas em seus países e seus habitantes.

A obra “Ana. Sem Título” mostra o quão profunda são as cicatrizes das mulheres latino-americanas que enfrentaram essa época ou que sofrem os impactos indiretos. O filme tem o roteiro de Lucia Murat (que também o produz) e Tatiana Salem Levy, o diretor de fotografia é de Léo Bittencourt, a produção é da Taiga Filmes e a distribuição é da IMOVISION.

O projeto é uma adaptação da peça “Há Mais Futuro que Passado”, escrita Daniele Ávila Small (que também dirigiu nos palcos), Clarisse Zarvos e Mariana Barcelos.

O longa é uma mistura de documentário e ficção, eles usam Ana, uma misteriosa artista brasileira que tinha ligação com artistas de Cuba, da Argentina, do México e do Chile, entre os anos de Ditadura Militar brasileira, para traçar a história de mulheres negras e artistas que simplesmente desapareceram nestes períodos tenebrosos.

Ana ganha um rosto por meio da atriz Roberta Estrela D’Alva, a estória dela, que a mistura da história real de muitas sobreviventes, é perseguida pela atriz Stella Rabelo e pela própria Lucia Murat.

Depois de visitar a exposição “Mulheres Radicais: arte latino-americana, 1960-1965”, Stella encontra cartas trocadas por artistas mulheres da América Latina, com uma “personagem” que sempre é falada e elogiada, Ana, apenas Ana, sem sobrenome. Ela, aparentemente, saiu do Brasil fugindo da ditadura, fazendo amizade e depois desaparecendo no mundo.

Ana sempre é descrita como uma bela artista brasileira, extremamente talentosa, com uma mente aberta, isso a tornava perigosa, mas sua personalidade única atraia quem quer que estivesse ao seu redor. Suas pinturas e obras teriam sido formas de protesto por tudo que via e ouvia, mas ela não era descrita como alguém que se envolvia com política, ela simplesmente era alguém que não tinha medo de falar o que pensava e defendia sua liberdade pessoal.

Ao procurar os rastros de Ana, Stella e a equipe encontram as histórias de artistas destes quatro países, além do Brasil, que viveram os movimentos rebeldes contra governos ditatoriais, os quais só deixavam a arte acontecer quando esta enaltecia o próprio sistema político, perseguindo os que pensavam e agiam diferente.

É um filme muito duro de assistir, com cenas que nos tiram completamente da zona de conforto, fazendo reflexão sobre as consequências das ditaduras, as quais ainda repercutem, com sinais claros nas gerações mais recentes. A atuação, na parte fictícia, também pode não agradar, porque parece muito mais voltada para os palcos do teatro, não tanto para as câmeras do cinema.

Contudo, esses detalhes não podem impedir de nós, mulheres de uma geração que só ouve falar de uma Ditadura Militar, precisamos conhecer e nunca esquecer.

O filme tem site próprio, com registros fotográficos e outros detalhes, confira: http://taigafilmes.com/ana/#

Até Mais!

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