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MÚSICA

Dino – Back To The 80’s – Araújo Vianna

Dino – Back To The 80’s – Araújo Vianna
  • Publishedjunho 23, 2025

No início dos anos 2000, um mineiro de São João Nepomuceno, Emmerson Nogueira, balançou o mundo pop com versões acústicas de sucessos internacionais do Extreme, Toto, The Police, Supertramp, Janis Joplin. Oriundo de uma cultura de barzinhos, o cantor vendeu mais de 100 mil cópias de seus trabalhos, alcançando diversos fãs e ganhando um grande número de haters que criticavam o fato do artista não compor e viver de covers. Nogueira ainda faz seus shows por aí, sem o mesmo impacto do passado, mas quem parece que veio para substituir é um conterrâneo seu de Uberlândia. Dino Fonseca, um fenômeno da internet, oriundo de bandas de covers e muito barzinho, há 10 anos tem projetos com sua banda, em que tocam sucessos internacionais, com ênfase em baladas românticas. Nosso Bon Jovi do Triângulo Mineiro hoje percorre o Brasil com seu show Back To The 80’s, onde revisita os sucessos da década que mudou o pop. Porto Alegre o recebeu na sexta passada, no Araújo Vianna e eu fui conferir o fenômeno pop cover de Minas Gerais.

Semana chuvosa, nosso Guaíba assustando de novo a gauchada, mas mesmo assim quase 3 mil pessoas foram ao Auditório Araújo Vianna prestigiar o show, que é uma máquina do tempo sonora de ótimas velharias pop. Com algum atraso, a sua super banda entra no palco e quatro bailarinos entram junto, numa coreografia ao som instrumental. Eis que surge, com seus óculos escuros, de preto, com uma echarpe roxa, o astro da noite. Dino chega ovacionado, se posta em frente ao seu microfone estilo vintage e começa o baile com A Little Respect, do Erasure, numa ótima versão. Bom, o que se viu depois foi uma pilha de sucessos internacionais como Its A Heartache (esse dos anos 1970), Have Ever Seen The Rain, do Creedence, I Just Call To Say I Love You, de Stevie Wonder, todos tocados de uma maneira limpa pela ótima banda, em versões agradáveis para o ouvido. Dino canta muito bem, é bem ajudado por backings vigorosos e muito simpático. Bom de prosa, sempre conversa com o povo, puxa o saco da plateia, e como mineiro típico, conta seus causos entre canções como I’ll Be Over You, do Toto, Under Pressure, Take On Me, Oh Pretty Woman, My Girl e Dancing Queen, deixando os 1980 de lado e fazendo uma mistureba de década. 

O público estava mais para o lado apreciação mesmo, com discreta empolgação, preferia mais assistir o espetáculo com a voz bonita do cantor do que agitar e levantar das cadeiras. Depois de uma pausa pra mais papo e um número instrumental, ele ataca de Africa (mais uma do Toto) e a balada Heaven, mas é com Always, que faz a plateia vibrar com sua lindíssima interpretação do nosso mini Bon Jovi de Minas. Ainda teve  I Don’t Want To Talk About It , do mestre Rod Stewart, Baby Can I Hold You. Em tom de improviso, desenterrou My Love, do Little Texas, e Stuck On You, do Lionel Ritchie, mostrando que é um cara criado na cultura dos bares e sabe entregar os pedidos de música pra galera.

Em clima romântico, chama o bombeiro com I Should Have Know Better, canta uma linda versão de You’re Still The One, de Shania Twain, manda bem com Glory Of Love e arrepia com Eternal Flame, do The Bangles, fechando o bloco de baladas. Uma pegada country, toca Walk Of Life, do Dire Straits, emendando com Footloose. Nessa hora os dançarinos ressurgem. Sinceramente, acho muita pretensão o Dino ter um constrangedor balé daqueles, só ele e banda serviam, mas cada artista tem suas maneirices mesmo… 

A banda faz um número instrumental e como destaques o ótimo Mateus Volpi na guitarra, Kleiton França nos teclados e o baixista Júnior Coutto, além de ser exímio nas quatro cordas faz backings excelentes. Numa miscelânea musical, tocam a linda Hard To Say I’m Sorry, do Chicago, e como mesmo o Dino diz, casou muita gente fazendo casamento em bailes da vida, tocou La Barca e depois Andrea Bocelli. Naquele momento, pra ele trocar de casaco, a banda toca o Tema da Vitória, com direito à volta do cantor com bandeira do Rio Grande do Sul e uma interpretação arrepiante de The Best.

O Araújo levanta mais uma vez (estava bem sentado na maior parte do show) com (I’ve Had) The Time Of My Life e não senta mais com Tempo Perdido e Será, do Legião. O cantor então some de cena e segue cantando  atrás do palco com a banda os sucessos do RPM que são a cara dos anos 1980, Olhar 43 e Rádio Pirata, fazendo o local virar aquelas festas temáticas da década. Ele baixa o tom da euforia, mas provoca aplausos com In Must Have Been Love, do Roxette. O cantor encerra o baile, prometendo que vai gravar um show em vídeo aqui no Auditório com atrações locais. E no seu momento Elvis, de jaqueta de couro, encerra com Suspicious Mind.

Difícil falar sobre um show de covers, né? Dino tem muito carisma e canta demais, tem uma banda excelente e um repertório maravilhoso. Uma mistura de dois shows seus, o acústico de 2022 e esse dos anos 80, apesar de vender o peixe que é só esse dos anos 1980. Tem uma cultura dos bailes da vida, de barzinho, sabe improvisar, e com suas versões limpinhas de grandes baladas, provoca suspiros e faz seu público reviver grandes canções de artistas que jamais veriam ao vivo. Se isso é falta de criatividade, cantar as músicas dos outros e vender seu show, pode ser, mas na arte tudo tem seu valor.

Não menosprezo o cover, tem pessoas que fazem melhor tocando as músicas dos outros e se é pra fazer música ruim e não agradar, melhor nem tentar. E Dino, como um Emmerson Nogueira versão anos 2020, cria da internet, não tem culpa de ter voltado com sucesso esse filão e segura com muita responsa, por mais de duas horas, um agradável espetáculo que mexe com a memória emocional e sonora de uma época em que a música pop e romântica dominava as paradas. 

Written By
Lauro Roth