Deadpool e Wolverine: o divertido multiverso da loucura (e do renascimento da Marvel)

Os dois primeiros filmes do Deadpool foram sucesso. O primeiro, de 2016, teve uma arrecadação de 782,6 milhões de dólares, cujo orçamento inicial foi de apenas 58 milhões de dólares. O segundo longa-metragem teve a “simplória” arrecadação de 785,8 milhões de dólares. Mas, mesmo diante desse retrospecto positivo, o que levaria a Marvel/Disney a trazer esse controverso personagem de volta, desta vez sob a tutela das empresas que adquiriram os direitos da 20th Century Fox? 

As respostas que levaram ao ressurgimento do mercenário louco, os bastidores da obra e o já palpável sucesso de Deadpool e Wolverine serão apresentados a vocês logo após nosso usual trailer para que compreendam um pouco melhor sobre o que abordarei.

O começo.

Não duvidem: os primeiros minutos de Deadpool e Wolverine são simplesmente inacreditáveis. Em uma sequência alucinante, divertidíssima e inimaginável, Deadpool (Ryan Reynolds) brinda o espectador com uma das melhores entradas de filmes de heróis de todos os tempos. Gosta de humor negro, ação e violência em doses massivas, porém sem que isso seja ofensivo? Então pode preparar o maxilar, pois ele vai doer de tanto rir.

Mas nem só de ação, loucura e humor vive Wade Wilson. Deadpool é um cara cuja vida mudou drasticamente, um indivíduo que tem um pequeno grupo de amigos que ele simplesmente ama. São pessoas importantes que, de certo modo, representam aquilo que costumamos chamar de família. Para preservá-los, ele fará qualquer coisa, já que é isso que amigos de verdade fazem.

É em prol dessa amizade que Wade, o Deadpool, começa uma jornada em busca do Wolverine (Hugh Jackman), o único capaz de salvar o universo dele. E antes que eu esqueça, esse universo corre perigo devido à morte de um indivíduo que – teoricamente – era o responsável pela estrutura dessa realidade. Não entendeu? Bem, para que compreenda melhor, é preciso ter assistido ao menos alguns episódios da série Loki, mas o desenvolvimento da trama também pode fazê-lo compreender o que se passa.

E para que se divirtam ainda mais, esse clipe será uma prévia do que os aguarda nos minutos iniciais…

Viagem entre os mundos do multiverso.

Esse é um ponto relativamente rápido do filme, mas cuja carga de referências e diversão são impressionantes. Em busca da salvação de seu universo, Deadpool transita por realidades alternativas em busca do único que pode ajudá-lo na difícil missão. Já adivinharam quem é?

Claro que nada é tão simples quanto parece. Então, no meio desse relativo caos, Wade é convocado pela AVT (TVA em inglês), a agência que controla as linhas temporais (novamente: mesmo que não compreenda inicialmente, o filme é autoexplicativo).

Moralidade vs Insanidade.

Um dos pontos mais interessantes deste filme está na falta de freios morais. Esclareço que não se trata de um filme desrespeitoso, porém ele não poupa o espectador de cenas e piadas que podem soar agressivas aos mais fracos e sensíveis. Dentro da minha compreensão, as críticas, brincadeiras e referências servem para mostrar que a própria Disney percebeu o tamanho do erro que cometeu ao esquecer de algo primordial: o público oriundo dos quadrinhos.

Na verdade, esse terceiro filme do mercenário louco traz uma boa dose de sanidade ao afastar as produções cinematográficas da Marvel daquilo que mais as prejudicaram: a militância. Politizar o entretenimento foi um erro fatal que gerou diversas produções de qualidade duvidosa, estragou tudo de positivo que as três fases do UCM criaram, além de afastar o público dos cinemas e do streaming.

Alguns críticos que não possuem qualquer base da leitura dos quadrinhos já se opuseram ao comportamento do Deadpool. Para estes críticos desinformados, esclareço que o desprezo ao comportamento dele é algo tão incoerente quanto um leitor criticar as absurdas ações do personagem Louco, de Mauricio de Sousa. 

Motivação.

Além do já citado desejo de salvar sua própria realidade e seus amigos, Wade também quer ter de volta o amor da sua ex-namorada, Vanessa (Morena Baccarin). Ela não o enxerga mais como um herói; apenas o vê como um cara que entregou os pontos e preferiu viver no lugar comum. Isso pode soar estranho aos que assistiram os demais filmes da franquia, porém há coerência nesta parte da trama, uma vez que muitas pessoas se decepcionam quando aquele/aquela que amam se deixam levar pelo desânimo, problemas ou pela simples falta de vontade de vencer.

De igual modo, Logan tem sérias motivações para não ser o melhor colaborador do Deadpool e, em contrapartida, estas mesmas motivações o levarão a ser um aliado incomparável para o alucinado mercenário.

Roteiro.

O roteiro de Deadpool e Wolverine é relativamente simples. Deadpool quer salvar seu universo da destruição e, para isso, precisa da ajuda de Wolverine. Nesse meio tempo somos apresentados a fragmentos de obras que compuseram a fase 4 da Marvel, fragmentos de tramas da Marvel desenvolvidas pela Fox e muito mais.

É no meio de uma ação desenfreada, trama coerente (e louca) e com o uso de um humor non sense incrível que a trama se desenvolve. Vi que já existem críticas ao humor usado, aos termos usados e até mesmo ao jeito “brucutu” do Wolverine, porém é fácil afirmar que essas críticas não têm base.

Wolverine é o mesmo cara que vimos em incontáveis histórias na Marvel através dos quadrinhos. Deadpool é o mesmo indivíduo louco e quase indestrutível que está nas HQs. Querer minimizar isso, diminuir o humor ácido ou politizar a obra seria, sem dúvida, uma ofensa aos fãs oriundos dos quadrinhos e a todos que desejam ver a Marvel retomar o caminho do sucesso.

Acreditem: apesar do desgaste da temática de super heróis, ainda há muito a usufruir, sobretudo se produtores, diretores e roteiristas compreenderem que obras consagradas não precisam de “adaptações” e “inclusão”.

Vale destacar que o ponto focal do roteiro é a amizade, seja ela entre Wade e Logan ou entre Wade e seus amigos.

História.

Quando me refiro à história, não falo daquela que está presente nos livros didáticos, mas sim daquela presente no universo dos filmes de heróis. Não é de hoje que temos filmes de super heróis, pois estes são a representação de tudo que gostaríamos de ser. Desde pequenos nutrimos amor por personagens absolutamente inverossímeis e que, ainda assim, eram reais para nós. Voar, teleportar, ter superforça… são tantos os poderes que imaginávamos ter quando líamos um simples revista em quadrinhos.

Então, crescemos e nos tornamos adultos, certo? Teoricamente, sim. Contudo esse não é o fim da história. Na verdade, esse é o recomeço, visto que quase sempre há um hiato entre a juventude e a idade adulta onde outras preocupações acabam por ganhar o espaço das tramas e aventuras que amávamos. E é preciso destacar que isso também já foi retratado em filmes como Toy Story, só para citar.

Ação e efeitos visuais.

Contrariando todos os resultados negativos de filmes e séries da Marvel nos últimos anos, este filme entrega o que há de melhor em ação e efeitos visuais. O destaque fica por conta das cenas de ação e luta entre Logan e Deadpool, assim como as ações de Cassandra Nova são assustadoras. 

Obviamente que as atuações dos atores e atrizes trazem ainda mais credibilidade para cada cena.

Mea Culpa.

Um dos principais pontos desta obra cinematográfica está no reconhecimento dos erros passados. Como citado no tópico anterior, o filme faz questão de apontar o dedo na ferida, um verdadeiro pedido de desculpas ao espectador que viu as três primeiras fase do UCM serem sucesso absoluto, mas que acabaram por perder a pertinência conforme a chuva de equívocos da Disney transformou potenciais sucessos em verdadeiros fracassos de público e crítica.

Essas falhas catastróficas também marcaram produções da Fox e da Sony, mas isso não impede que possamos ver a relevância dessas obras.

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Participações especiais.

Obviamente que não vou citar quem aparece no filme. Posso, entretanto, adiantar que cada nova aparição é uma surpresa extremamente agradável. Vi o público surtar (e não é brincadeira) a cada nova (o) personagem na tela. De onde vêm? Esse é um mistério que vocês terão que descobrir ao assistir o filme nos cinemas.

Porém posso adiantar uma coisa… tudo se encaixou perfeitamente e mostrou um grande respeito pelos filmes já feitos pela Fox.

Trilha sonora.

O que dizer? Impecável é o termo mais brando. Com uma trilha sonora que vai desde Madonna, passa por NSync e chega até Grease, cada momento épico é embalado por uma música inesperada (e adequada). Para embasar o que digo, vejam a entrada de Wolverine e Deadpool (que está no trailer) feita por dois cosplayers no Fan Event que ocorreu na Cidade das Artes – Rio de Janeiro. No filme, esta cena tem como fundo musical “Like a Prayer”, da Madonna.

O UCM tem jeito?

Sejamos honestos. Apesar do esforço de Deadpool e Wolverine (que é fruto da independência diante dos “chefões” da Disney), tudo dependerá do que a própria empresa optará por seguir. Entre as opções temos a já falida escolha do discurso político, militante e manipulador, enquanto do outro lado temos um cinema menos travado pelos grilhões da ideologia e voltado a entreter o público.

Obviamente que isso não desmerece o esforço de filmes como Logan e Guardiões da Galáxia 3 (guardadas as devidas proporções, esclareço), cujas abordagens não foram tão tendenciosas e manipuladas.

Vejo o futuro da seguinte forma: agradar o público que realmente vai ao cinema é sinônimo de sucesso e renda; agradar uma ala ideológica e política, cujos integrantes raramente vão prestigiar filmes e obras do gênero é, em suma, um verdadeiro tiro no pé. Logo, o destino do UCM pode ter recomeçado – e com o pé direito – a partir deste novo filme. Isso, contudo, só o tempo dirá.

 

Piadas.

Certamente que a maioria dos espectadores (e leitores deste site) assistiram aos dois primeiros filmes da franquia, já que há vários vínculos entre as tramas. Mas é preciso observar que isso é apenas a ponta do iceberg. Os diálogos e o roteiro estão lotados de referências ao universo dos heróis da Fox, da Marvel e até mesmo de franquias como Mad Max. Aliás, nem o Batman escapa das piadas do mercenário alucinado.

Nem mesmo a esposa de Ryan Reynolds, Blake Lively (ex-Gossip Girl), escapa das piadas. O conflito de gerações, a política e a polarização, as crises mundiais e sabe Deus o que mais fazem parte do rol de brincadeiras inteligentes presentes no longa-metragem.

Uma ótima referência está na presença do agente Paradox (Matthew Macfadyen), uma paródia do agente Smith da Matrix.

O humor no filme oscila entre o corporal, o musical e o non sense. Tudo feito com muita qualidade e coerência, inclusive no que diz respeito às participações especiais.

Aliás, a cena pós-créditos (uma única cena) existe, só para lembrá-los.

Limbo.

Esse é o local onde boa parte do filme se passa. Chamado de Void (Vazio), o lugar é uma terra sem lei para onde todos os indesejáveis são mandados. Caso tenha visto a série Loki, lembrará dos bastões dos agentes da AVT que desintegram os personagens. É neste limbo que estão alguns dos integrantes da equipe de vilões liderada por Magneto, além de outros heróis e vilões de vários filmes.

O Void é, na verdade, uma parábola sobre o descarte de personagens ao longo dos filmes. Essa volatilidade é fruto da construção rasa de algumas dessas personagens, mas também reflete a ingerência dos produtores e diretores que, infelizmente, não obtiveram sucesso ao “criar” personagens que tinham um boa estrutura nos quadrinhos e, ao serem transpostos para o cinema, falharam em algum ponto.

Homenagem.

Ao final do filme, já nos créditos, várias cenas de filmes de heróis da Marvel aparecem. Na verdade, tratam-se de cenas de bastidores de filmes que, independentemente de terem sido sucesso ou não, marcaram a história por seu “pioneirismo”. Após assistir Deadpool e Wolverine, diante desses créditos, bateu uma certa dose de nostalgia e saudade.

Nota final.

Shawn Levy (o diretor) e o elenco de Deadpool e Wolverine nos entregaram exatamente aquilo que queríamos e precisávamos ver: ação, humor e a absoluta ausência de ideologia em um filme que é voltado ao entretenimento. Com uma trilha sonora impecável, tiradas de humor inesquecíveis, participações especiais que ninguém imaginava, coreografias incríveis nas lutas, efeitos visuais de alto nível e as ótimas atuações por parte do elenco são apenas alguns dos pontos positivos de um filme que não buscou a seriedade das obras de Shakespeare, os apelos dos documentários ou a seriedade e tensão das obras políticas.

De forma simples, objetiva e competente, o espectador terá 2 horas e 7 minutos do que há de melhor no cinema e no entretenimento.

Cada segundo de espera valeu a pena, podem acreditar.

P.S.: já veiculam algumas versões piratas do filme. Não se deixem levar pela facilidade do download, já que este filme é merecedor do seu prestígio e vocês só terão a experiência completa através do cinema, cuja qualidade de imagem e som fazem jus a todo o esforço da equipe técnica. 

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