De Hamilton a Trump – “Estas Verdades – A História da Formação dos Estados Unidos”

Contar a história de uma das maiores nações do mundo, com mais de 200 anos de idade e um posicionamento essencial no mundo atual não é tarefa fácil, não é para amadores.

A responsável pelo livro “Estas Verdades – A História da Formação dos Estados Unidos”, é Jill Lepore, professora de história de Harvard, redatora do The New Yorker (um dos maiores jornais estadunidenses) e já ficou conhecida no universo literário pelo livro “A História Secreta da Mulher Maravilha”. Experiente é ela.

O livro chegou ao Brasil graças a editora Intrínseca!

Lepore reuniu todos os conhecimentos históricos, agregando alguns de outros colegas, sobre a história de seu país, Estados Unidos, com uma parcialidade profissional e uma curiosidade de eterna estudante.

E daí você pode pensar que é fácil falar de história sendo professora de história, mas imagem o trabalho de resgatar documentos da fundação da fundação dos EUA, desde a criação de Jamestown (primeira cidade) até os twittes satíricos de Donald Trump, passando pelas cartas e anotações de Alexander Hamilton, os discursos de Malcom X, os posicionamentos de Ruth Bader Ginsburg (RBG), dentre tantos outros momentos históricos.

Acredito que não farei justiça ao tentar resumir esse trabalho, porque cada página, cada parágrafo, cada legenda de imagem, cada palavra carrega um peso histórico inimaginável. Farei justiça ao compartilhar minha opinião ao ler essas preciosas informações.

Confesso que em um primeiro momento não me animei em ler o livro, primeiro porque é obra de mais de 800 páginas (por isso apelidei carinhosamente de bíblia, inspirada em meu irmão, que se assustou com o tamanho do livro), depois porque eu nunca tive esse grande sonho de conhecer os EUA como muitas pessoas, muitos amigos próximos meus, têm. Sempre sonhei mais com Canadá e com outros países da Europa (Inglaterra, França e Irlanda principalmente), então pensei “o que me interessa saber sobre os EUA?”.

Aí como eu estava enganada … Isso porque conhecer a história dos EUA não é conhecer só os EUA, pelo fato de este ser considerado um dos maiores países do mundo, tudo que esse país faz importa para o mundo, sua história une seus nativos e seus colonizadores, mexe com memórias de pessoas em Nova York, Londres, Brasília, São Paulo e, logicamente, aqui no meu país de Mossoró (Rio Grande do Norte, Brasil).

O que me mais me chamou atenção foi que existem pautas que são constantes na política, na seara jurídica e na sociedade dos EUA, alguns assuntos que achamos ser produtos do século XXI, mas que já era discutido lá nos anos de 1970, com base ou inspiração em argumentos de séculos anteriores.

As principais pautas são o Racismo, o Feminismo (direitos das mulheres em geral), a Liberdade de Expressão e o uso de Dados (circulação de dados, proteção de dados).

Os avanços tecnológicos, as mudanças políticas, os movimentos sociais, as guerras, tudo isso faz com que essas pautas tenham seus altos baixos, mas elas sempre estão nos fóruns virtuais, nos tribunais, nas ruas dos EUA e do mundo.

A obra é dividida em 04 partes: A Ideia, O Povo, O Estado e A Máquina. A história é contada de forma cronológica “normal”, mas em cada parte há um foco específico, mostrando qual a prioridade em cada época dessa história.

Não pude evitar dois pensamentos. Primeiro o fato de eu sempre gostar de estudar história, então reconheci e relembrei algumas passagens que eu já havia estudado ou visto em algum filme ou série, algo que prendia a minha atenção.

Falando em filme ou série, o segundo pensamento é relacionado a isso. É basicamente impossível não lembrar de algum filme enquanto se ler esse livro (mesmo se você não assistiu).

Por exemplo: lembrei do debate em hip hop entre Alexander Hamilton e Thomas Jefferson no musical “Hamilton”; da defesa e da luta de Thurgood Marshall no filme “Marshall”; a fibra de Ruth Bader Ginsburg (RBG) em “Suprema”; do discurso de Malcom X e atritos que teve com os “amigos” em “Uma Noite em Miami”; etc. Lógico que lembrei de todos os filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, até mesmo “Midway”, que não me agradou muito.

Ao chegar em momentos mais recentes da história, dos anos de 1990 para cá, minha memória se dividiu entre os filmes e minhas próprias lembranças, porque grande parte dos eventos consigo me lembrar de ter visto pelas notícias, mesmo sendo muito nova para entender, como foi o caso da eleição de George W. Bush, a queda das torres gêmeas, a guerra ao terror e a guerra virtual, a nova direita, os novos meios de questionar coisas inquestionáveis.

São momentos que são descritos com perfeição, tanta perfeição que senti a mesma revolta que sentiria se tivesse visto ao vivo, por exemplo, o eterno questionamento de Trump sobre a certidão de nascimento de Barack Obama, relembrando preconceitos do tipo: afrodescendentes não devem ser considerados cidadãos dos EUA.

Ao ler essa parte é possível entender as inspirações de algumas figuras que estão no cenário atual da política, inclusive aqui no Brasil. Por várias vezes me peguei pensando, ao ler algo absurdo: “parece até alguém que conheço”.

Isso vale para sempre lembrarmos do que não pode ser repetido. Aliás, isso faz parte do conceito do estudo da história: estudar o passado para entender o presente e tentar prever o futuro.

Só tive um pensamento ruim sobre o livro em si (na história têm muitos momentos ruins, mas muito bem relatados), o termo “americano”.

Desculpa se estou sendo radical e rígida, mas para mim “americano” é todo e qualquer ser humano que nasce nas Américas (do Norte, do Sul e Central). Quem nasce nos Estados Unidos da América é estadunidense, assim como quem nasce no Brasil é brasileiro.

Lógico que fazer referência aos estadunidenses como “americano” é mais prático, evita maiores explicações, mas me parece errado sempre que falo ou que leio com essa conotação.

Obs.: não sou chata, não vou te corrigir caso você use esse termo assim perto de mim.

Até mais!

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