Da Lama ao Caos 30 anos – Nação Zumbi no Bar Opinião

E Da Lama ao Caos completou 30 anos. Um dos discos mais revolucionários da música brasileira. Aquela turma pernambucana, que no início da década de 1990, uniu o som das alfaias que faziam maracatu e cirandas nos mangues ao peso das guitarras distorcidas, numa geleia geral sonora, com um discurso forte, tendo como porta voz Chico Science, que uniu forças ao Nação Zumbi, bagunçou a cena musical brasileira. Chico não está mais aqui, mas o legado serve firme com o Nação, que pra homenagear o emblemático álbum, corre o Brasil com seus shows. Porto Alegre, numa das semanas mais quentes de 2025, em um Opinião abarrotado, teve a honra de receber essa explosão sonora chamada Nação Zumbi.


Mesmo com um inusitado horário de início, marcado para as 23 horas, numa quinta-feira, nada impediu o público de invadir o Opinião para acompanhar a banda tocar na íntegra o álbum Da Lama ao Caos. O disco de 1994, na época, teve críticas até dos próprios músicos, por não representar toda a força e peso que a banda imprimia nos shows. Mesmo assim se tornou um clássico, mas fica nítido que 31 anos depois, o Nação Zumbi está cada vez mais visceral, pesado e nunca fugindo das raízes. A banda, com Jorge Du Peixe no vocal, Dengue no baixo, Toca Ogum na percussão, Marcos Matias e Da Lua nas alfaias, Tom Rocha na bateria e Neilton Carvalho na guitarra, por volta das 23h20min abriu o show com Monólogo ao Pé do Ouvido, e depois fez a galera vibrar com Banditismo por uma Questão de Classe com seus viva a Sandino, Zapata e Lampião. Daí em diante a banda seguiu o disco à risca com Rios, Pontes & Overdrives, as mais populares A Cidade, Praieira, com o povo cantando junto e alto, que uma cerveja antes do almoço é muito boa pra ficar pensando melhor. Segue o baile com Samba Makossa, a icônica Da Lama ao Caos e Maracatu de Tiro Certeiro.

Salustiano Song, com seu instrumental hipnótico com direito à entrada do caboclo, contando com participação de Maciel Salu rabequeiro faz o Opinião delirar. Um chapéu na ponta de um pau lembra Chico Science. Segue com a excelente Antene-se, em que Jorge du Peixe, com a responsa de substituir Chico, volta para comandar a massa. O poder do som das alfaias com seus timbres vigorosos, com a guitarra de Neilton, faz o Nação ser uma das bandas mais pesadas do Brasil, extasiando o público que cantava junto e pulava a cada música. Risoflora e Lixo do Mangue seguem o show e a profética e crítica Computadores Fazem Arte mais uma vez fazem o povo cantar junto, encerrando a execução do disco com Coco Dub.


Claro que tinha que ter mais e a banda segue tocando clássicos como Foi de Amor, de 2014, Manguetown, do não menos clássico de 1996. Seguindo com Meu Maracatu Pesa uma Tonelada, emendando com Quando a Maré Encher e finalizando com o maior clássico da banda, a versão deles para Maracatu Atômico, para delírio da galera que cantava e pulava efusivamente, fechando um show histórico para ficar na memória de quem esteve no Opinião naquele dia 13 de fevereiro.

Às vezes fica até um pouco difícil entender essa atração que a Nação Zumbi faz contagiar o Brasil inteiro. Uma banda que soube como poucos unir a tradição com a modernidade, tão regional, mas com uma linguagem universal, romper as barreiras do bairrismo, sem fugir a tradição de cocos, cirandas, maracatu e sempre com uma mensagem crítica e principalmente um peso e energia que em nenhum disco conseguiram imprimir. Nação vale muito ao vivo, a pegada é contagiante, tribal, metal, uma porrada visual, num show marcado por luzes, sombras, riffs e folclores, essa massaroca competente que explica tamanha atração e faz o show deles ser uma experiência inebriante.
