Crítica: Wish – O Poder dos Desejos

Chega a ser com tons de ironia que a animação escolhida para representar os 100 anos da Disney aparece no ano que a marca do Mickey Mouse completa 101. Sim, o filme Wish – O Poder dos Desejos, aproveitando as férias escolares e o verão no Brasil, ficou marcado para pintar nas telonas do país nesta quinta e como a primeira grande estreia do ano. Pena que essa pompa de filme dos 100 anos e primeiro filme “grande” do ano, pouco corresponde às expectativas e isso conto para vocês logo abaixo.

O filme tem como trama um reinado que tinha tudo para ser um conto de fadas. No Reino das Rosas vive Asha, uma menina de 17 anos, que como toda a população, adora o manda chuva do local, o Rei Magnífico, que possui todos os desejos do povo do reinado e promete que vai realizar a todos. Asha um dia faz teste para ser aprendiz do monarca, mas descobre que por trás da tal bondade, ele é um tirano ególatra que jamais vai realizar esses desejos e pretende se tornar invencível. Entre os sonhos está o do avô da menina, que tem 100 anos, que jamais seria realizado, o que faz Asha, revoltada, ir à floresta e pedir com insistência uma ajuda. Acaba surgindo então a estrela “Star”, que no passado já ajudou personagens como Pinóquio, e daí em diante ela resolve ter coragem e enfrentar o Rei e as trevas que podem assolar o Reino das Rosas.

Como o filme estreou nos Estados Unidos no fim de novembro, já podemos considerar que é um fracasso retumbante, naufragando na bilheteria e crítica. Confesso que tentei mudar essa expectativa, mas Wish, com direção de Chris Buck e Fawn Veerasunthorn, é um filme banal, genérico e fica devendo demais à grandiosidade das animações clássicas da Disney. Mesmo com um roteiro que pretendia criar uma história encantadora, inclusiva, moderna e usando a tradição nas referências das animações antigas, o filme acaba se perdendo muito nisso. Ao apelar para a tradição, com toques de modernidade, é na tradição que ele derrapa. Quem ainda se encanta com reis, povoados alegres, personagens ingênuas (que depois se revelam obviamente fortes guerreiras) e estrelas de desejo? Artifícios que a cada ano ficam mais ultrapassados até para o público-alvo que é cada vez mais realista e não se encanta mais com animações do tipo. Podemos dizer que Wonka provou que a fantasia, ainda provoca encanto e emoção, mas Wish, além de apresentar quase nada, tem uma animação conservadora, que pouco contribui para a centenária saga da Disney.

Roteiro engessado, animação conservadora, que talvez como única inovação seja a menina Asha,que para vencer o maléfico Rei, não precisou de ajuda de um príncipe encantado, que não fez falta nenhuma à mocinha da trama. Um dos poucos acertos é a parte musical, com músicas agradáveis e números musicais divertidos, mas pouco que possa dar uma dimensão de grande filme. As referências do filme a clássicos da Disney estão lá, filmes como Cinderela, Branca de Neve, com os amigos de Asha, numa referência aos sete anões, a estrela do Pinóquio, produções mais recentes como Moana e Enrolados, até a fisionomia da princesa, que lembra alguns esboços do Mickey Mouse (que particularmente não notei),  mas esses detalhes são muito escondidos e apenas fãs ferrenhos e caçadores de easter eggs irão se divertir procurando, pois para a trama pouco contribui esse caldeirão descompassado do melhor e o pior que a empresa do camundongo produziu nesses 100 anos para o cinema.

Concluindo, o sexagésimo segundo filme da Disney, que tinha como intenção marcar o centenário é apenas um filme comum, com roteiro irregular, animação padrão, inclusivo, pois traz a segunda princesa negra da história, com divertidas canções, mas que falha tanto como filme e produto, porque os personagens estão longe de serem marcantes, o que para uma empresa que vende até a alma em merchandising e empilha suas marcas em tudo que é tipo de mercadoria, é um tiro no pé e tanto. O que faz de Wish – O Poder dos Desejos um filme a mais, e se o desejo seria criar mais um clássico, faltou pedir à estrela dos desejos, já que faltou muito para esse filme se tornar um sucesso, mas mesmo assim é um lúdico e bom passatempo para a criançada ir ao cinema. O que aconselho é ir, depois assistir os clássicos vigorosos e inesquecíveis  que inundam com suas referências o filme dos 100 anos da Disney, que ficou devendo demais.

 

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