Crítica: “Vida”. O medo volta ao espaço de forma triunfal!
Vida é um dos filmes que chega bem menos comentado que os blockbusters destruidores de bilheterias. Não compreendo os motivos para não terem investido mais na divulgação da obra, mas posso garantir, antecipadamente, que qualquer um que goste de filmes com ficção-científica, suspense e terror irá enlouquecer ao assisti-lo.
Mas, como sempre, falar apenas não basta. É preciso comprovar.
Logo, vamos aos fatores que me levaram a colocar esta obra entre os melhores filmes até agora lançados em 2017.
A História.
A história, verdade seja dita, não tem um plot 100% inédito. Alguns podem já ficar desconfiados, porém garanto que ineditismo não é sinônimo de eficiência. Apesar de estarmos diante da trama onde astronautas se deparam com uma forma de vida alienígena letal (alguém lembrou de Alien?), as similaridades param por aí. Vida oferece muito mais do que um simples enredo onde o massacre é a força-motriz da narrativa. Na verdade, o que se questiona a todo instante é a incessante busca por vida em outros planetas. O que tais buscas podem trazer de positivo e negativo é a maior pergunta em toda a trama de Vida.
Vamos assistir ao trailer antes de prosseguirmos…
Em time que está ganhando…
Isso é algo que fica marcado na memória após assistir o longa. O espectador sai questionando os motivos que levam nações a uma busca desenfreada por vida fora da Terra? Pior do que isso, o que faremos quando as encontrarmos?
Com base nas perguntas acima, o diretor Daniel Espinosa nos põe em uma expedição que está na luta para resgatar um sonda que vem direto de Marte. Ela contém amostras do solo que serão analisadas com mais detalhamento.
A nave tem uma equipe internacional composta por Rory (Ryan Reynolds), Miranda North (Rebecca Ferguson), David Jordan (Jake Gyllenhaal), o biólogo Hugh Derry (Ariyon Bakare), Sho Murakami (Hiroyuki Sanada) e Ekaterina Golovkina (Olga Dihovichnaya). Eles são os responsáveis pelo resgate da amostra de vida marciana, assim como por tudo que der certo e errado nesta missão.
Tal como em Alien, o 8º passageiro, prosseguir sem entregar parte do roteiro é quase impossível. Logo, aconselho que assistam antes ao longa-metragem para evitar os já famosos e famigerados spoilers. Óbvio que jamais entregarei – nem com spoilers – o final da trama. Podem ficar sossegados.
A equipe recupera a cápsula com a amostra e testes são feitos para descobrir se há vida. Eles a encontram e conseguem reanimá-la, algo comemorado em todo o mundo. Até um nome, Calvin, é dado para a forma de vida extraterrestre. Bela, adaptável e com um instinto de sobrevivência inimaginável, a vida marciana se mostra muito mais do que uma simples célula. Calvin pode ter sido o responsável pela extinção da vida em Marte e, caso vá para a Terra, provavelmente será o fim de nossa espécie.
Predador.
Calvin, o marciano, é uma forma de vida bem mais assustadora do que aparenta. Ele tem vontade própria, guiado por um instinto irrefreável e precisa de nutrientes para sobreviver. E adivinhem quem são esses nutrientes?
Caso não tenham reparado, há uma certa ironia na escolha do nome da célula viva, pois lembra muito o personagem da Looney Tunes, Alvin – o marciano.
Calvin tem pontos fracos, porém a tripulação tem muito mais fragilidades. Com o passar do tempo nós vamos descobrir que ele é adaptável a quase todos os tipos de ambientes e condições, uma forma de vida que deve ter reinado em alguma época onde a vida abundava em Marte. Um parasita que ficou inerte quando as fontes de alimento cessaram no planeta vermelho. Como evitar que essa criatura chegue à Terra? Essa é a principal pergunta que se instala entre a tripulação.
O terror se instala.
Diferente do que vimos em Alien, a forma de vida desse filme é bem mais rápida e letal. Ela não quer hospedeiros, quer comida. Sobreviver no ambiente inóspito em que se encontra é a prioridade máxima, não importando as vontades e sentimentos dos humanos da nave.
Calvin acaba se beneficiando com alguns erros da tripulação. Protocolos foram quebrados ao custo de vidas, o que também permite o trânsito da criatura pela nave. Isso, contudo, ajuda alguns tripulantes a perceberem certas peculiaridades sobre a forma de vida marciana.
Cada cena de ataque de Calvin é cercada de suspense e medo. As mortes são explícitas e sufocantes para o público, ampliadas pela ótima trilha sonora que intensifica o pânico entre os astronautas e nós, espectadores.
Inspirações.
Além do já citado Alien – o 8º passageiro, há um toque de Game of Thrones nessa história. O diretor foi muito bem sucedido ao nos conectar com os astronautas – seja através das cenas de convívio entre eles, por meio do humor ou até de suas histórias pessoais. Vê-los em agonia e sofrendo acaba por nos atingir. Cada cena onde um deles corre perigo leva o espectador a ficar travado na poltrona. Eu costumo anotar cada passagem importante para depois resenhar o filme, mas isso não ocorreu por pelo menos 40 minutos, já que a ação e a tensão foram extremas nesse período.
Outra clara inspiração está no filme O Nevoeiro, baseado na obra de Stephen King. Não por causa dos alienígenas desse filme. A similaridade está no final da trama, onde os roteiristas tiveram a coragem de trazer um desfecho inusitado e caótico, impactante para o público.
Nota final.
Eu já coloquei “Vida” entre os melhores filmes de 2017 do gênero. Corajoso e cheio de suspense e ação, além de um terror eficiente, a obra é uma homenagem a muitas outras obras de ficção-científica, sem que isso diminua o impacto de sua narrativa durante toda a projeção.
As atuações são muito boas e eu percebi que a inclusão de Ryan Reynolds – bem humorado como sempre – foi uma jogada para nos aproximarmos dele e sentirmos aquilo que ele e os demais personagens sofrem.
Não há joguinhos com o espectador. Cenas cruas, assustadoras e cruéis irão atingir quem se aventure nessa obra. Logo, prepare-se para estar frente a frente com seus medos… e os medos que atormentam toda a tripulação.
“Vida” tem estreia prevista para 20 de abril em grande circuito nacional.
2 Comments
Assisti o filme hoje e realmente fiquei surpreso. Ele realmente tem uma pegada de Alien só que mais pé no chão e com personagens que tomam menos decisões erradas, bem menos. O pano de fundo filosófico do filme é bem interessante, toda a questão de como a vida ocorre e que a sobrevivência é o maior motivador, assim como o peso que o filme dá às decisões tomadas por personagens insubstituíveis. Muito diferente de Alien, ali os personagens não são inestimáveis só por causa do valor da vida humana ou narrativamente. São recursos humanos importantes, seja pelo fato de serem cientistas e técnicos altamente treinados, pelo fato de ter pouquíssimas pessoas a bordo ou simplesmente porque eles são os únicos que separam a humanidade da extinção. Mas, infelizente, nem tudo são flores. Vida cai num problema apontado por muitos em muitos filmes com monstros: a cara do monstro. Calvin é um vilão com bem mais peso quando ele é uma massa amorfa de tentáculos e apêndices. Uma ameaça sem rosto, impessoal e consequentemente bem mais fria. Quando ele chega ao mais próximo que se tem no filme de uma forma completamente desenvolvida, ele ganha um rosto, e esse rosto tem um design que é facilmente associado à crueldade e vilania. O que pra mim quebrou muito aquela aura de ser que não busca nada além da sobrevivência.
Boa análise, Filipe. Quanto ao final, desconsiderei o “visual” do monstro em função de sua vontade de sobreviver. O impacto das cenas e a tensão gerada
mostram firmeza na direção e coragem em expor o público a algo brutal e provável.
Agradeço pela leitura e comentários. Abração!!!