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Crítica: Um Príncipe em Nova York 2

Crítica: Um Príncipe em Nova York 2
  • Publicado em: março 30, 2021

Em 1988 o diretor John Landis colocou Zamunda na geografia dos cinemas mundiais. Com uma atuação inspirada de Eddie Murphy, naquele momento um dos mais poderosos comediantes da época, como o príncipe rebelde Akeem Joffer, que larga todo o conforto do reino africano para mergulhar no Queens em Nova York atrás de uma paixão verdadeira. Um Príncipe em Nova York foi um sucesso arrebatador.

Com um elenco majoritariamente negro, tornou-se um clássico amado e cultuado, mas que infelizmente, talvez tenha sido o ápice humorístico de Eddie Murphy, que passou o resto das últimas três décadas fazendo filmes pavorosos e sem graça. Claro que com algumas exceções, como Meu Nome é Dolemite, de 2019, onde faz o polêmico comediante Rudy Ray Moorer, que entra no universo dos filmes Blaxpoitation dos anos 1970. Pronto para contar como ficou a vida de Akeem e Lisa, 33 anos depois, Eddie se junta ao diretor Craig Bewer (do citado Dolemite) e realizam uma sequência do clássico filme, Um Príncipe em Nova York 2 ( Coming  2 America, 2021), que estreia no Amazon Prime.

O reino de Zamunda perde seu rei e com a morte de Jaffe Joffer, o príncipe Akeem tem a missão de comandar o país. Ele é um homem casado com Lisa Joffer, sua rainha do Queens e hoje de Zamunda. Os dois tem três filhas, o que para o regime patriarcal do reino, é um problema sério para a sucessão, já que é preciso de um herdeiro homem para assumir o reinado. Nesse meio tempo, Akeem descobre que tem um filho homem bastardo, fruto de uma aventura da sua passagem pelo Queens há 30 anos. Então ele e seu fiel escudeiro Semmi partem para a América em busca do filho. Encontram Lavelle Johnson, um cambista vigarista que, encantado com sua genealogia real, parte para a África e precisa provar que é digno de ser herdeiro do rei.

Esperado como um dos mais importantes lançamentos de 2020, com estreia programada para os cinemas no fim desse ano, teve os planos abortados pela pandemia de Covid-19. A Amazon então resolveu lançar agora diretamente no seu canal de streaming. Enfim, o que dizer da continuação do filme? Um diálogo entre Lavelle e a cabeleireira real resume: ao falar sobre cinema eles brincam que as produções de hoje fazem sequências de grandes filmes e só estragam tudo. Infelizmente, Um Príncipe em Nova York 2, sem dúvida alguma, entra nessa afirmação.

Claro que o filme tem o mérito de fazermos matar as saudades dos inesquecíveis personagens do original e como nostalgia e diversão é uma pedida. Mas é um filme extremamente fraco, sem graça e com um roteiro preguiçoso e decepcionante escrito por dois dos três originais roteiristas do primeiro filme, do que apenas se conclui que foi feito no piloto automático. A direção de Bewer é razoável. Ao invés de ter Nova York como cenário, no Reino de Zamunda é onde se passa a maior parte do filme, abusando de cenografia do imenso palácio real, belíssimos figurinos de encher os olhos e efeitos especiais (alguns realmente fracos) para passar o clima selvagem das savanas africanas.

Eddie Murphy, que no primeiro filme bastava um sorriso para nos fazer morrer de rir, está logicamente envelhecido e cansado e se não compromete na condução do personagem, tem a incrível façanha de não nos fazer rir. O mesmo vale para Arsenio Hall, excelente no filme de Landis, aqui é apenas um pastiche do velho Sammi. Talvez um dos erros do filme mesmo tenha sido passar o protagonismo para o filho bastardo Lavelle interpretado por Jermaine Fowler. Com um carisma zero e graça idem, tem uma atuação confusa ajudada pelo roteiro sem sentido do filme e que em quase nenhum momento faz o espectador torcer por ele. Aliás, que historia mal enxertada de um filho na América… As filhas de Akeem trabalham bem, um dos bons destaques positivos do filme, como legítimas filhas guerreiras de Zamunda. Wesley Snipes como um caricato general ditador africano Izzi parece ser o único que deu leveza ao papel e está se divertindo e atuando com graça. Claro que o momento nostalgia está presente, por incrível que pareça, as passagens mais engraçadas do filme são quando aparecem os personagens do primeiro. O pai de Lisa e as piadas com o McDowel, a barbearia e os três tipos (mais uma vez interpretados por Eddie e Arsenio), o reverendo Brown (Arsenio Hall) e Randy Jackson, o péssimo cantor do grupo Hot Chocolate (Eddie Murphy).

Randy Watson e a Chocolate Sensual, a importância na cultura pop!

Confesso que fazia tempo que não me decepcionava tanto com um filme tão esperado, mas ao mesmo tempo fico feliz que ficamos livres para não ter que assistir na tela grande, pois o filme tem a cara de streaming. Uma pena que um filme tão marcante e engraçado tenha tido uma continuação tão caricata, sem sentido e o pior: sem graça.

Uns dirão que os tempos são outros, em 1988 a censura era 18 anos e esse é 13 anos, aí tem que pegar leve nas piadas, mas não, tanto que o primeiro filme era mais uma critica divertida às diferenças culturais dos negros americanos e dos africanos e era uma inversão de locais, um homem da verdadeira selva sofria com a selva de pedra de uma pouca hospitaleira e violenta Nova York dos anos 1980, a sua continuação tentando colocar um nova-iorquino dos anos 2020 numa África conservadora em nenhum momento emplaca e causa reflexão e risadas. Enfim, Um Príncipe em Nova York 2 é mais um filme despretensioso e ruim da carreira de Eddie Murphy, mas que pela nostalgia e alguns momentos piegas e alegres vai fazer muita gente assistir e até se divertir, ainda mais em tempos tão tensos que vivemos, só que fica uma grande decepção no ar de que como uma ideia e um filme tão genial foi literalmente desperdiçado.

Written By
Lauro Roth