Crítica: Turma da Mônica – Lições

Pode parecer incrível que uma turminha com uma menina brava e dentuça, um garoto que odeia água, outro que fala “elado” e tem cinco fios de cabelo e uma garota que come compulsivamente conquista e encanta diversas gerações. Falo, é claro, do nosso orgulho nacional dos quadrinhos, a Turma da Mônica, criação do genial Mauricio de Sousa. Temos que tirar o chapéu para o autor e seus colaboradores que conseguem manter os personagens principais em mais de seis décadas, atualizando as histórias com as mudanças incríveis da sociedade nesse espaço de tempo, mas o principal: mantendo a essência do prazer que é ser criança e os desafios da infância, mostrando a atemporalidade dessa fase mágica.

Em 2019 uma adaptação para os cinemas da turma mais famosa do Brasil surgiu nas telas e encantou diversas gerações, Turma da Mônica – Laços, além de uma qualidade exemplar, foi a bilheteria nacional de maior sucesso daquele ano, uma prova da importância da turma do Limoeiro nas vidas das crianças e das eternas crianças que se emocionaram com o longa. Claro que com tanto sucesso, a continuação era inevitável, e com diversos adiamentos devido a pandemia de covid, Turma da Mônica – Lições (2021), com o mesmo Daniel Rezende na direção, estreia finalmente, nos cinemas.

Depois de uma frustrada tentativa de fugir da aula, que acarreta com a Mônica tendo o braço quebrado, a direção da escola cobra explicações e os pais da turma resolvem tomar uma atitude contra esse eterno grude dos amigos. A mais radical delas vem dos pais da Mônica, que mudam a menina de escola e tentam evitar o contato dela com os três amigos, provocando uma enorme tristeza neles, que se veem separados pela primeira vez. Mas, obviamente, que alguns planos infalíveis estão para serem bolados e a turma, com ajuda de novos amigos e uma peça de teatro de Romeu e Julieta no festival do bairro, farão de tudo para se unirem novamente.

Se o encantador Laços, de 2019, já era um excelente filme, que nos dava toda aquela aura de aventura dos gibis da turma, Lições, tem como contexto a passagem do tempo para a molecada que precisa (mesmo que forçadamente) começar a sair da infância e entrar na pré-adolescência. E Lições faz isso de uma forma encantadora. Inspirada em uma graphic novel de Vitor e Lu Cafaggi, que os roteiristas Thiago Dottori e Mariana Zatz adaptaram, Daniel Rezende mais uma vez acerta a mão com um filme divertido, emocionante e, às vezes até dramático demais, demonstra que desafios não são impossíveis e as amizades são coisa muita séria. Tem sua pitada meio Mágico de Oz, onde os personagens têm que vencer seus medos para se libertarem da zona de conforto, ou melhor, crescerem. Cebolinha tem que ir a um fonoaudiólogo, Magali tem que controlar sua ansiedade e maneirar na comida, para isso entra num curso de culinária e Cascão é matriculado em aulas de natação para vencer seu pânico por água. Enquanto isso, Mônica está isolada, sem o Sansão, sem amigos e buscando se enturmar na nova escola.  O acréscimo de novos personagens só enriqueceu a trama, vemos Marina, Horácio, Ninbus, Do Contra, Dudu, o gato Mingau, Tina e sua turma, enfim a imensa fauna de grandes personagens de Mauricio é apresentada no filme, inclusive ele mesmo faz um papel na cantina da escola, em um momento muito hilariante.

Claro que o quarteto é que comanda o filme, Giulia Benite (Mônica), Kevin Vecchiato (Cebolinha), Gabriel Moreira (Cascão) e Laura Rauseo (Magali), parece que nasceram sob medida para os papeis. Talvez o fato que eles não eram caras manjadas da televisão nos deu um tom de novidade e a química total entre os quatro, que já funcionou muito no primeiro filme, em Lições, podemos cravar, com certeza, que eles são a Turma da Mônica perfeita. Esse distanciamento de atores de televisão no filme, mesmo com algumas carinhas conhecidas em alguns coadjuvantes, cria uma personalidade própria à película, fugindo dos padrões convencionais do cinema comercial brasileiro. Claro que o roteiro abusou muito do sentimentalismo, música tocante, abusando de momentos com lágrimas e emoção, artifícios e clichês perfeitos para emocionar a plateia, mas mesmo sendo um pouco forçado, o carisma do filme faz com que aflorem nossas emoções mesmo, ainda mais com um tema tão tocante como a amizade na infância, algo tão puro, natural e inesquecível.

Turma da Mônica – Lições é uma belíssima continuação de um grande sucesso. Primorosa direção, com uma cenografia riquíssima em cores e detalhes, uma música pra lá de melosa, na medida certa para emocionar até aqueles com coração de pedra, e um roteiro que foca as passagens da vida real de todos nós, os novos desafios, a superação e o enfrentamento de nossos problemas internos, a dificuldade de entendermos os novos ciclos da vida e o principal: o poder que a amizade tem para superarmos tudo isso, pois posso afirmar que a dois, três, quatro ou 20 é muito mais fácil segurar!

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