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Crítica: “Tinha que ser ele?”. Não julgue pelas aparências.

Crítica: “Tinha que ser ele?”. Não julgue pelas aparências.
  • Publishedmarço 18, 2017

Fazer humor é algo bem difícil. É preciso ter consciência para não ultrapassar a fronteira entre a diversão e a baixaria. Afinal, muitos se valem das piadas mais escatológicas ou explicitamente voltadas ao sexo para tentar tirar risos da plateia.

“Tinha que ser ele?” é uma comédia do início ao fim. Mas, felizmente, não se restringe ao humor para entreter. Há uma bela lição que o espectador irá perceber ao longo da trama. Claro, os risos são garantidos.

Não julgue um livro…

A trama é bem simples e já vimos em outras produções similares. Os pais da jovem Stephanie Fleming (a linda Zoey Deutch) descobrem do jeito mais inesperado possível que ela tem um novo namorado. A família da garota decide conhecer esse namorado e se depara com o desbocado Laird Mayhew (James Franco), um milionário desenvolvedor de games responsável pelo sucesso Ape Assassins. Cheio de tatuagens, excêntrico e rico de doer, Laird desperta logo de cara a desconfiança do pai de Stephanie, o ranzinza e superprotetor Ned (Brian Cranston). Apesar disso, o restante da família é logo absorvida pelo carisma e o jeito espontâneo de Laird.

Mesmo com todo o esforço, Laird não consegue ganhar a confiança de Ned. No meio desse impasse ficam Barb (Megan Mullally) a esposa de Ned (cujo instinto diz que o jovem é uma boa pessoa), o filho mais novo da família, Scotty Fleming (Griffin Gluck), cujo potencial é reprimido pelo pai e, claro, a própria Stephanie que tem suas vontades desconsideradas por Ned.

Será que realmente há motivos para temer tanto a presença de Laird na família?

Loucura ou honestidade excessiva?

Durante todo o filme nós ficamos entre a decisão de que Laird é meio doido ou um cara cuja honestidade em demasia.

A verdade é que preferimos julgar alguém pela aparência. Laird Mayhew é um cara sincero, direto e com um linguajar muitas vezes baixo, o que não implica em dizer que seja alguém ruim. Suas atitudes são, via de regra, baseadas em boas intenções. Ele quer agradar a família da mulher que ama, a todo custo, porém esses ‘excessos’ nem sempre são bem compreendidos.

Assim, por teimosia de um lado (o de Ned) e por falta de noção do outro (o de Laird), um conflito velado tem início. Ned e Laird querem simplesmente agradar a mulher que amam, Stephanie, sem se importarem com a opinião dela. Tudo pra dar errado, concordam?

Divergências de gerações.

A falta de diálogo e as diferenças entre gerações são as fontes do entrave entre pai e genro. Ned é muito protetor por enxergar em sua filha a menininha de outrora. Laird está disposto a sacrificar sua própria privacidade para ter por perto as pessoas que sua namorada ama. Nenhum deles está errado, exceto pelo detalhe de ignorarem a opinião de Stephanie.

Em paralelo a isso, na mansão do milionário, a esposa de Ned e seu filho vão redescobrindo a liberdade de agir por conta própria e tomar suas próprias decisões. Não se trata de rebeldia ou afronta ao “modus operandi” de Ned, apenas a recuperação da individualidade em si. Isso porque Barb é uma mulher que descartou algumas das coisas e atitudes que amava em troca da manutenção da família. Seu filho Scotty é uma cópia do pai, porém sem voz ativa e cujos pensamentos e sugestões são descartados.

Ao entrarem em contato com o mundo de Laird – e a liberdade que ele lhes proporciona – os dois ganham espaço e partem para uma retomada de suas individualidades.

Máscaras.

Ned e Stephanie têm uma relação muito forte. Pai e filha se amam, o que não os impede de esconder certos aspectos de suas vidas. Essas “mentirinhas” são o estopim para algumas confusões que podem arruinar o Natal da família e os planos de Laird. Esclarecer os motivos para tais segredos será uma tarefa árdua, cujos resultados podem reforçar os laços familiares ou jogar um balde d´água nessa relação tão bela entre pai e filha.

Excessos no filme.

Alguns podem considerar ofensivas as passagens onde palavrões e insinuações sexuais surgem, mas elas estão contextualizadas com a personalidade do personagem Laird. Há pessoas assim que só se manifestam através do exagero, do choque. Apesar disso, logo percebemos que esse traço de sua personalidade não sobrepõe o carisma e a verdade em seus atos.

Coadjugantes mais do que especiais.

A presença do divertidíssimo Gustav (Keegan-Michael Key), um governante de luxo da mansão de Lair e também seu personal trainer, é uma diversão à parte no filme. Gustav é um cara supereducado que faz de tudo para ajudar seu patrão e amigo a conquistar a família de Stephanie. Ele e Laird adicionam elementos de comédia pastelão em doses corretas, o que garante ótimos momentos para o público.

A segunda presença especial ficou por conta da secretária eletrônica (ou digital, se preferirem) Justine (a voz da atriz Kaley Cuoco). Ela também é uma âncora para bons momentos da narrativa.

A galera que curte o bom e velho Metal irá pirar com os roqueiros que aparecem no final.

Nota final.

Tinha que ser ele? é uma comédia bem dosada que cumpre com seu papel de entreter e divertir. Risadas garantidas, reflexões e boas lições permanecem como qualidades do longa-metragem. Apesar de algumas passagens overactor de James Franco, ele é um Laird ideal. Sua parceria com Brian Cranston – o eterno Heisenberg, de Breaking Bad – deu certo demais, assim como a harmonia com os demais integrantes do elenco ficou evidente.

Filme recomendado para acalmar o coração das tensões e dos problemas diários. Vá assistir e rir com essa família sensacional e tão parecida com as famílias da vida real.

 

Written By
Franz Lima

Escritor de contos de terror e thrillers psicológicos, desenhista e leitor ávido por livros e quadrinhos. Escrever é um constante ato de aprendizado. Escrevo também no www.apogeudoabismo.blogspot.com

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